Soja: Colheita no BR não deve exercer forte pressão sobre preços com oferta limitada e demanda forte
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Entrevista com Matheus Pereira - Sócio-Diretor da Pátria Agronegócios sobre o Mercado da Soja
Atrasada, a colheita da safra 2020/21 de soja do Brasil já traz seus primeiros registros de produtividade abaixo das expectativas iniciais. De acordo com o mais recente levantamento da Pátria Agronegócios, há apenas 0,74% da área brasileira já colhida, contra 4,55% de 2020 e bem distante da média dos últimos anos de 5,43%.
Em entrevista ao Notícias Agrícolas, o diretor da consultoria, Matheus Pereira, os estados do Centro-Sul do Brasil são os que deverão sofrer com mais atraso, uma vez que são nestas áreas em que o plantio mais sofreu por adversidades climáticas.
Maior estado produtor de soja do Brasil, Mato Grosso continua contabilizando um atraso considerável da colheita da soja 2020/21. Apenas 2,23% da área já foi colhida, 12,19 pontos percentuais abaixo da safra anterior e 9,47 se comparado à média dos últimos cinco anos, de acordo com os dados apresentados pelo boletim semanal do Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária).
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"Os primeiros dados retirados do campo são decepcionantes", afirma Pereira, trazendo relatos de produtores. "Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, partes de Goiás, trazem produtividades abaixo do esperado (nas áreas de sequeiro), mas isso é algo que já vinha sendo esperado pelo mercado. Comparando o início da safra 2019/20 com esta 2020/21 temos números menores neste começo de colheita". Nas áreas irrigadas, os riscos foram apenas diluídos e as perdas foram menores do que o esperado, mas também foram e estão sendo registradas.
Do ponto de vista comercial, o atraso também preocupa. Alguns contratos antecipadamente firmados para entrega da soja em janeiro estão sendo postergados e em ambas as partes - compradores e vendedores - em comum acordo.
"Esse atraso de colheita no Brasil causou um represamento da oferta disponível. Assim que essa soja entrar em rota de logística para exportação mais agressivo - apenas na segunda metade de fevereiro, início de março - devemos ver um acumulado de importação de soja necessário, não só chinesa, mas de outros países também, que vai alavancar não só os preços da soja no Brasil, mas em consequência também de uma alavancagem dos prêmios de exportação", explica o diretor da Pátria.
Mais do que isso, diferente do ocorrido em outros anos, a pressão tradicional que é registrada durante picos da colheita no mercado da soja poderia não acontecer nesta temporada dada a oferta atual muito limitada e de uma demanda intensa. "Mesmo que tenhamos uma maior disponibilidade da soja no Brasil, terá ao mesmo tempo um represamento de demanda que vai consumir toda essa oferta se tornando disponível no curto prazo aqui no Brasil", acredita Pereira.