Carlos Cogo: Perdas recentes da soja em Chicago são exageradas; safras menores vão mudar o mercado
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Entrevista com Carlos Cogo - Sócio-Diretor da Consultoria Cogo Inteligência em Agronegócio sobre o Fechamento de Mercado da Soja
Os preços da soja recuaram mais de 2% no acumulado da semana na Bolsa de Chicago. O contrato janeiro/21 passou de US$ 11,91 para US$ 11,63 por bushel, caindo 2,35% e o março/21, de US$ 11,92 para US$ 11,65, com uma perda de 2,27%. Boa parte deste recuo, como explica Carlos Cogo, sócio-diretor da Consultoria Cogo Inteligência em Agronegócio, vem com a melhoria das chuvas na parte sul da América do Sul.
"O mercado vê isso como alívio e vem derrubando os preços. Mas primeira coisa a se ressaltar, estamos falando de preços acima dos US$ 11,50 por bushel, que são patamares excelentes para quem está vendendo. Talvez os traders estejam sendo otimistas demais e descontando muito do risco climático", diz.
Nos últimos 30 dias, afinal, os mesmos contratos acumulam altas de 7,09% e 7,97%, refletindo as preocupações com o desenvolvimento da safra sul-americana 2020/21, bem como uma demanda ainda forte e estoques muito apertados nos Estados Unidos.
A estimativa da consultoria, que será atualizada na próxima semana, deverá ficar próxima dos 128 milhões de toneladas, como adianta Cogo e, caso se confirme, terá que exigir do mercado que os prêmios de clima sejam recolocados nos preços. "Se as chuvas dessa semana foram suficientes para derrubar os preços, a falta delas será também para os preços voltarem a subir", explica o analista.
"A safra americana ficou abaixo do esperado, os EUA estão exportando muito mais do que o esperado, o dólar está caindo, são fatores altistas para a soja que foram 'esfriados' temporariamente pela questão climática que, para mim, também é pontual", afirma Cogo. E não só os olhos estão voltados para o Brasil, mas também para a Argentina, onde os números são estimados em 46 milhões de toneladas, contra projeções iniciais de 55 milhões. "E o ano de maior quebra de safra na Argentina foi em um ano de La Niña", complementa.
MERCADO BRASILEIRO X CÂMBIO
Com a perda de potencial produtivo já sendo absorvida pelo mercado, o mercado brasileiro deve se atentar à movimentação do dólar, já que as perspectivas são de valorização do real.
"O dólar americano está se desvalorizando e isso vai fazer o produtor plantar mais soja nos EUA, e se isso acontecer, a diante, é um fator baixista para o mercado. E um câmbio mais baixo aqui no Brasil vai penalizar o que ainda não foi plantado, mas também vai baratear os insumos", analisa Carlos Cogo.
Dessa forma, o mais importante a ser cuidado pelo produtor brasileiro é o casamento da moeda na hora de estabelecer suas operações de venda de soja e compra de insumos, de forma a garantir suas margens de renda, sem comprometê-las pela volatilidade do dólar.
O Brasil vai fechando mais uma semana com poucos novos negócios sendo efetivados no mercado da soja. Os preços se acomodaram nos últimos dias no interior do país, acumulam perdas de até 20% no últimos 30 dias em algumas praças de comercialização, e afastam ainda mais os já distantes vendedores do mercado. No intervalo de 3 de novembro a 3 de dezembro, o dólar comercial perdeu mais de 10%, passando de R$ 5,75 para R$ 5,13.
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Algumas praças como Sorriso, em Mato Grosso, acumulam uma perda de 20%, com sua referência para a soja disponível passando de R$ 175,00, em 3 de novembro, para R$ 140,00 por saca. Já em Tangará da Serra, a perda foi mais tímida - de 1,75% - com o valor caindo de R$ 160,00 para R$ 158,00.
No Mato Grosso do Sul, em São Gabriel do Oeste, a perda foi de 11,76%, com o preço passando de R$ 170,00 para R$ 150,00 por saca; em Jataí, Goiás, perda de 7,05% no mesmo intervalo de R$ 156,00 para R$ 145,00; e em Castro, no Paraná, a saca da oleaginosa foi de R$ 160,00 para R$ 147,00, com uma baixa acumulada de 8,13%.
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