Soja 2020/21: ARC Mercosul estima aumento de 3,81% na área e 65% da safra já comercializada
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Entrevista com Matheus Pereira - Diretor da ARC Mercosul sobre o Fechamento de Mercado da Soja
A ARC Mercosul estima um expressivo aumento de área cultivada com a soja no Brasil na safra 2020/21 de 3,81% para 38,43 milhões de hectares. Considerando a média dos últimos anos, a consultoria projeta ainda um aumento de 0,76% na produtividade, o que resultaria em uma safra de 129,15 milhões de toneladas.
Os preços historicamente altos registrados para a soja nacional, a demanda intensa e a boa remuneração que vem sendo garantida pelo sojicultor brasileiro são os principais combustíveis para essa expansão da área.
Aproveitando estes bons momentos, as vendas antecipadas da temporada 2020/21 alcançam um ritmo recorde e já chegam a cerca de 65%. O volume de novas vendas, inclusive, cresceu consideravelmente na última semana com a China buscando mais soja da nova temporada, prêmios mais altos e o dólar ainda alto.
"Os chineses continuam concentrando agressivamente suas compras na soja brasileira, isso deve continuar em 2021 e fomos bem enfáticos, nas últimas entrevistas, de que nunca vimos uma conciliação comercial total entre Jinping e Trump (...) E com a permanência dos atritos, o Brasil fez um importante lobby de trazer os chineses para cá, de levar comitivas para lá", explica Matheus Pereira, diretor da ARC.
Mais do que isso, Pereira explica que o produtor tem aproveitado bastante o atual momento, utilizando ferramentas de segurança e comercialização, principalmente diante dos seus custos já praticamente travados na sua totalidade. E assim, buscando garantir também sua sustentabilidade financeira.
"O avanço das vendas futuras sem colocar a plantadeira no chão é um ponto de cautela, gera preocupação. Se houver algum problema climático, as vendas avançadas geram certa ansiedade", explica o especialista. No entanto, as tensões devem se intensificar somente diante de problemas climáticos que podem aparecer em momentos importantes para o desenvolvimento da nova safra do Brasil.
BOLSA DE CHICAGO
Na Bolsa de Chicago, que encerrou o pregão desta segunda-feira (3) com leves baixas e mais uma vez próxima da estabilidade, a preocupação ainda se dá, essencialmente, sobre os problemas geopolíticos ainda entre China e Estados Unidos.
E paralelamente, o foco se dá sobre a nova safra norte-americano. No entanto, as lavouras se desenvolvem bem e não provocam grandes mudanças no andamento das cotações na CBOT, nem para a soja, nem para o milho.
Salvo problemas bastante pontuais, a nova safra dos Estados Unidos deverá ser uma safra cheia diante da boa qualidade das lavouras. Há preocupações em pequenos bolsões de Iowa e Illinois, por exemplo, mas sem extensão ou severidade que pudessem provocar uma quebra de produção.
"Há problemas, há alguns talhões que sofrem com a estiagem, mas a grande maioria da soja e, principalmente do milho, se desenvolvem muito bem", explica o diretor da ARC Mercosul.
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MILHO
Pereira afirma ainda que a safra cheia vinda dos EUA e um menor consumo doméstico de milho nos EUA nesta safra ampliam a oferta americana no mercado, o que poderia aumentar sua concorrência e competitividade frente ao grão brasileiro. O Brasil vem ampliando suas exportações, porém, ainda luta para ganhar uma participação maior no mercado internacional frente a uma produção norte-americana próxima de 400 milhões de toneladas.
Ainda assim, o analista afirma que os preços do milho permanecem sustentados no mercado brasileiro, mesmo diante do avanço da safrinha, que chega a 65,3% da área, ligeiramente menor do que a média dos últimos anos.
"O mercado do milho está dando ainda várias oportunidades de trava tanto para quem já está colhendo o milho e para quem o produto está disponível, quanto para quem ainda vai colher e tem oferta futura. Essas ofertas devem ser olhadas com bastante atenção porque este mercado, na nossa visão, não tem um cenário tão sustentado, tão promissor para o final do ano. Vivemos, nesse exato momento, um momento sazonal de exportações e depois tendem a recuar agressivamente", explica Pereira.
Depois de alcançarem um pico, as vendas externas, na análise da ARC, tendem a se desacelerar, acompanhando um comportamento sazonal. "Somado a isso, nessas próximas duas a três semanas, temos a plena disponibilidade da safrinha do Brasil, juntamente com uma safra gigantesca dos EUA", diz. E complementa afirmando que clientes americanos da consultoria, do estado do Kentucky, afirmam que em três semanas já deve ser iniciada a colheita da safra americana do cereal.