Compras chinesas se concentram no Brasil e, além da soja, produtos como carnes (aves e suínos) e algodão também se beneficiam
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Entrevista com Carlos Cogo - Sócio-Diretor da Consultoria Cogo Inteligência em Agronegócio sobre o fechamento do Mercado da soja
Depois de despencar no início dos negócios desta sexta-feira (28) na Bolsa de Chicago, os futuros da soja amenizaram as perdas entre seus principais vencimentos e encerra o dia com perdas bem menos intensas, de pouco mais de 2 pontos e com o contrato julho/20 de volta à casa dos US$ 9,00 por bushel.
O mercado da oleaginosa acompanhou o pânico das demais das commodities no início do pregão, bem como do restante dos ativos no financeiro em todo mundo refletindo as preocupações com a epidemia de coronavírus. Já há casos confirmados nos cinco continentes e em um de seus posicionamentos nesta semana, a OMS (Organização Mundial da Saúde) falou que o surto está em um ponto determinante e que há potencial para que se torne uma pandemia.
As informações intensificam o sentimento de proteção entre os mercados, que ainda lidam com o desconhecido. A mobilidade e a logística em países afetados pelo vírus, especialmente na China, preocupam e alimentam, dia a dia, as especulações de que uma recessão econômica global está próxima.
Até o momento, são mais de 84 mil pessoas infectadas e mais de 2800 mortes pelo coronavírus. No Brasil são há um caso confirmado, 132 suspeitas e 213 notificações.
"Pelo jeito, os operadores estão esperando um final de semana com nova explosão de casos confirmados de Covid-19 e portanto estão em postura de aversão ao risco e proteção", explicou o consultor de mercado Steve Cachia, da AgroCulte e da Cerealpar.
Por outro lado, o mercado aos poucos, ou mesmo pontualmente, se volta aos seus fundamentos e se valem disso para ajustar suas posições, principalmente no final da semana, como aconteceu nesta sexta-feira.
Parte da recuperação dos preços em Chicago neste pregão encontrou suporte em mais um dia de altas entre os futuros do farelo negociados também na CBOT, segundo explicam os analistas de mercado da Agrinvest Commodities. O derivado vem subindo de olho na situação da Argentina, que inclusive suspendeu temporariamente suas exportações de soja em grão.
Nesta sexta, os EUA venderam 135 mil toneladas de farelo às Filipinas.
A suspensão, mesmo sendo temporária, acaba atuando como um dos fatores de sustentação para os indicativos no mercado futuro norte-americano, uma vez que limitam a oferta que vem daquele país. Por outro lado, com a Argentina fora do mercado, o Brasil lidera isolado as vendas para exportação no mundo.
"A Argentina suspendeu suas exportações de soja, o Paraguai vende em dólares e agora não está ganhando nada, assim como acontece com o produtor norte-americano. Então, o Brasil está sozinho nas vendas", explica Ênio Fernandes, consultor em agronegócios da Terra Agronegócios.
Assim, se valendo também da vantagem cambial - com o dólar fechando em R$ 4,50 nesta sexta-feira, o Brasil vendeu 1,3 milhão de toneladas de soja em grão em apenas um dia entre volumes da safra atual e da safra nova, segundo a Agrinvest Commodities. Foram 1 milhão da temporada 2019/20 e mais 300 mil da 2020/21.
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"Especificamente para o mercado de soja, o dólar disparando sem controle oferece suporte aos preços em reais no Brasil, enquanto que a fraca demanda para soja americana excerece pressão em Chicago. Assim, pouca coisa deve mudar enquanto não tivermos notícias positivas sobre o Covid-19 e/ou compras em grande volume de soja americana pela China", completa Cachia.
Assim, o mercado segue atento a quanto tempo mais os problemas do coronavírus seguirão afetando o andamento dos negócios, como explica Carlos Cogo, diretor da Cogo Inteligência em Agronegócio. "As commodities vão reagir diferente, mas todos os ativos estão sofrendo", diz.
Nesta sexta-feira, o especialista deu entrevista ao Notícias Agrícolas sobre o andamentos dos negócios e do fechamento dos mercados da soja no Brasil e na Bolsa de Chicago e a íntegra pode ser conferida no vídeo acima.