Moratória da Soja condena cidades da Belém-Brasília a viverem na pobreza
A rodovia Belém-Brasília foi aberta por Juscelino em 1950. E do mesmo jeito em que foi construida, há 70 anos, ela se encontra nos dias de hoje. Um retão só, coalhado de caminhões, de norte a sul. A única coisa que mudou foi o aumento da miséria, a pobreza extrema da população que vive à beira da rodovia.
A esperança de mudança desse cenário seria a soja. Mas com o exagero de notícias sobre as queimadas em outubro passado - que diziam que toda a floresta amazonica (distante 200 km da calha da Belém-Brasília) estaria sendo consumida pelo fogo, os produtores da região norte do Pará acabaram servindo de "bode expiatório" da causa ambientalista.
Sobre eles foi implantada a temível Moratória da Soja -- um acordo estabelecido entre as traders que proibe a compra de grãos de quem é pego no "Prodes", um sistema que detecta quem estaria retirando a vegetação para plantar soja.
E não adianta provar que a vegetação é formada por capoeiras (cipós retorcidos chamados "juquiras"), que ali não existe mais floresta (retirada há mais de 50 anos), que o manejo é autorizado pela Sema (secretaria de meio-ambiente), e que a "vítima" está em dia com o licenciamento ambiental e o Código Florestal.
Nada disso adianta. Entrou na lista da Abiove (a associação das traders), dificilmente sai.
Só no município de Dom Eliseu são 63 interditados. No restante do Pará e também no Mato Grosso são quase 500 fazendas proibidas de vender para as traders da Abiove. O número de fazendas interditadas pela Moratória não pára de crescer, diz a Aprosoja (entidade que reúne os produtores). Como as chuvas estão chegando, e o preço da soja gira em torno de 90 reais/saca, a revolta é grande.
Quem fica com o maior prejuízo são as pequenas cidades da beira da Belém-Brasília. A pobreza empurra os jovens para Brasília. E quem fica sobrevive de Bolsa Familia, pois o emprego é pouco.
Vanderlei Ataydes, presidente da Aprosoja do Pará, mostra em números a força economica da soja. Para cada emprego gerado dentro de uma fazenda, mais 4 são criados nas cidades. Mas agora, com a Moratória, o povo das cidades da Belém-Brasília está condenado a viver na pobreza.
Entrevista com Vanderlei Silva Ataídes - Presidente Aprosoja Pará