Saldo de soja exportável do Brasil de setembro a janeiro será de apenas 8 mi de t, diz Severo
O Brasil deverá contar com apenas 8 milhões de toneladas de soja para exportar no período de setembro de 2019 ao início de janeiro de 2020. A demanda pelo produto brasileiro tem se mostrado muito aquecida e as contas do diretor do SIMConsult Liones Severo mostram no acumulado deste ano até o final de julho as vendas externas brasileiras devem chegar ao total de 54 milhões de toneladas. Em agosto, mais algo entre 8 e 9 milhões deverão ser embarcadas.
Com a guerra comercial entre China e Estados Unidos ainda em curso, a nação asiática segue como maior cliente do Brasil e já responde por 74% das exportações do país. E para Severo, esse índice pode chegar aos 80%. Em 2019, mais de 60 navios com soja já foram despachados para os chineses e há mais de 70 nomeados nos portos com o mesmo destino.
"Nesta semana, a China comprou 20 navios de soja na América do Sul. Quatro no Uruguai, dois na Argentina e o restante no Brasil. E quase completaram o suprimento de agosto. Setembro em diante está em aberto, sem dúvida e aí veremos essa disputa que vai acontecer pela soja brasileira", diz o diretor do SIMConsult.
O Brasil não terá todo o produto que a nação asiática irá precisar, porém, se mantém como seu principal fornecedor.
E essa disputa que começa a se intensificar entre exportadores e indústria interna, inclusive, já elevou os preços do farelo de soja no mercado brasileiro, colocando as cotações acima da paridade de exportação.
VENDAS NO BRASIL
Segundo Severo, o produtor brasileiro vem, há três anos, vendendo soja na moeda local ao mesmo tempo em que os preços registram três anos de baixas em Chicago. "Não condeno a venda em reais, desde que tenha resultado, mas temos que saber as consequências. Enquanto nós brasileiros atuamos com base dólar e buscamos o preço em dólar, sempre tivemos preço e não há outra razão de ser", explica.
Na medida em que o Brasil deixa de vender a soja na moeda local, com certeza haverá remuneração dm dólares, acredita o consultor. Afinal, como ele explica na entrevista ao Notícias Agrícolas nesta sexta-feira, os fundos investidores já adianta,m suas vendas de posições na soja na medida em que o mercado observa uma desvalorização do real, porque sabe que o produtor brasileiro vai fazer novas vendas.
"Se o dólar vier a R$ 3,50, o Brasil para, perde sua competitividade total", diz. "Mas a tendência é de que nossa moeda venha a se estabilizar".
LOGÍSTICA
O diretor do SIMConsult pontua a logística brasileira ainda como um entrave para a expansão do potencial das exportações brasileiras não só de soja, mas do agronegócio de uma forma geral. "Temos o Arco Norte, mas o Arco Norte tem dono. Tem algumas multinacionais que são donas do Arco Norte. E quando o dono do porto se vira para exportar milho e deixar a soja de lado, começamos a sofrer", diz.
Em junho, as exportações de milho - que são oferta da safrinha em sua maior parte - bateram recorde no Brasil, e o mês de julho também conta com grandes volumes, que pode chegam a 17,5 milhões de toneladas, o dobro de anos anteriores.
NOVA SAFRA DOS EUA
O mercado internacional segue atento às atualizações sobre os números de área que chegam dos EUA pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) no dia 12 de agosto. E Severo alerta que caso sejam confirmados 8 milhões de acres para o milho e 5 milhões na soja de abandono de área haverá um sério problema de suprimento no mundo.
"Os estoques da soja que hoje são de quase 29 milhões passarão a 12/13 milhões, isso é abaixo de 10% do estoque de risco. E o milho pode cair para 30 milhões de toneladas, que é 8% da demanda, estoque extremamente de risco. E isso significa preço, quanto menor o estoque, maior o preço", diz.
Além disso, as estatísticas mostram ainda que este ano tem o desenvolvimento das safras de soja e milho mais atrasado da história dos EUA. Tais condições deveriam resultar em bons preços na Bolsa de Chicago, porém, o impacto é mais limitado nesse cenário de guerra comercial, demanda menor nos EUA e estoques elevados.
PESTE SUÍNA AFRICANA
Para Liones Severo, os impactos da Peste Suína Africana foram superestimados pelo mercado, já que o país conseguiu efetivar alternativas para o problema. "Os chineses, em partes, resolveram a situação aumentando de 100 para 133 quilos o peso de abate dos suínos, o que, claro, demandou um consumo maior de farelo, de proteína, de ração", disse.
Além disso, o especialista falou ainda sobre o aumento da produção e consumo de outras carnes, como frango, bovina e de cordeiro, o que também favoreceu a demanda por soja para a produção de farelo.
Assim, números mostram que no semestre o consumo de carnes na China foi de 39 milhões de toneladas, quando seu consumo no ano é de 80 milhões, de acordo com números dos últimos anos.
Entretanto, Severo afirma que as notícias foram suficientes para comprometer o fluxo diário de soja na dinâmica global do comércio da oleaginosa.