Cotações da soja em compasso de espera em Chicago aguardando relatório do USDA. Quadro de oferta pode melhorar

Publicado em 04/08/2015 17:41
Cotações da soja em compasso de espera em Chicago aguardando relatório de oferta e demanda do USDA. Quadro de oferta pode melhorar

Nesta terça – feira (04) o mercado da soja na Bolsa de Chicago teve um dia de recuperação, mas no final da sessão perdeu o fôlego e teve alguns vencimentos com perdas de até 6 pontos.
 
Para o analista Fernando Pimentel, com a espera do relatório do USDA, previsto para próximo dia 12, o mercado segue pautado pela tendência de uma recuperação climática. “Se olharmos para a soja, estamos acima da média dos últimos cinco anos em termos de condições de lavouras, e isso indica que se neste mês o clima for favorável, perdemos apenas do ano passado, mas ainda assim estaremos acima”, destaca.
 
Contrariamente do que se previam, com o excesso de chuvas em algumas lavouras, determinadas áreas deixariam de ser plantadas e consequentemente isso implicaria em uma redução na produção. Ainda segundo o analista, essa redução gira em torno de 1,5 milhões de acres, com cerca de 0,4 milhões de abandono, portanto os números vão impactar, porém a soja poderá recuperar na produtividade.
 
 “A safra não vai chegar a 108 milhões de toneladas, mas poderá chegar a 104 mi/t e esse número já atinge as expectativas do mercado. Dado as condições que o mercado tem hoje, e olhando os estoques nos EUA, diria que é baixista em termos de preço. Poderá também haver pressão nos preços e veremos isso no próximo relatório de qualidade de lavouras”, explica.
 
No entanto, o momento é crítico para as lavouras nos EUA, segundo ele, se houver algum estresse climático o contexto muda. O produtor deve ficar atento tanto ao relatório do USDA, quanto ao que sairá no mês de setembro - que consolida a safra americana. “Se seguir a previsão favorável, das chuvas alternadas com dias de sol, trazendo umidade para encher os grãos, a recuperação vai existir, mas caso isso não ocorra, os números poderão cair”, esclarece.
 
Dólar
 
A relação cambial com a soja é uma resposta imediata. Para o analista, a valorização do dólar frente ao euro, ao real e as demais moedas mundiais – como ocorreu na semana passada – empurram a soja, o café e a cana para baixo. “Valorização do dólar impacta o valor nominal das commodities do mundo inteiro. Único elemento que destoa é a carne, por razões históricas e por ser uma commoditie diferenciada. Dólar mais valorizado, commodities caem um pouquinho”.
 
Também segundo o analista, com a volta para baixo que a soja deu nas últimas semanas de U$ 0,80, trouxe dois aspectos: o cambial e o fundamental. “Não estamos tendo uma lavoura ruim. É importante entender que em 2012 a safra foi bem abaixo do esperado, mas olhando o gráfico de qualidade das lavouras, ela segue em terceiro lugar nesse momento em relação as cinco ultimas safras. Não está fora das condições históricas, e se agosto for bem favorável, a safra chegará perto da produtividade de 2014”.
 
Contudo, o analista orienta os produtores aqui no Brasil a tomarem cuidado com as fixações em reais e observarem atentamente as compras de insumos, fertilizantes bem como seus financiamentos. 
 
“O produtor do estado do Mato Grosso é diferente do produtor do Paraná e assim por diante. Para os que financiam suas lavouras em reais, houve um aumento no custo de produção em torno de 20% este ano, por isso ele deve tentar incrementar esta mesma porcentagem acima da média do ano passado. Se conseguir atingir essas metas o ideal é vender e não segurar muito”, orienta.
 
Já para os produtores que dolarizaram suas lavouras, a cautela é maior. “O custo dele não está fechado, não sabemos se vai aumentar 20%, por exemplo. A recomendação é que fixe a soja em dólar e vá aproveitando as oportunidades que o mercado semana após semana tem oferecido. Como cada dia temos uma surpresa na política, o produtor não deve olhar só Chicago, mas também Brasília”, indica.
 
China
 
Já para a nação asiática, o cenário segue complexo. Segundo ele, a China pode ter um crash igual ao nos EUA, em 1929. Esse fator pode não influenciar a dinâmica das compras, porém é mais um quesito influenciando a economia mundial e a volatilidade da moeda america.
 
“Para nós tem ficado cada dia mais claro que a China tem uma estratégia parecida com aquela na formação de estoque de algodão. Talvez ela esteja direcionando essa mesma estratégia para a soja e o milho, a fim de gerar grandes estoques para entrar em uma zona de conforto - por eventuais problemas climáticos, problemas de oferta, e etc. Eles já fizeram isso e chegaram a ter 65% do estoque mundial de algodão. Com isso, começaram a desvalorizar os demais estoques, e gerou um transtorno enorme para o produtor de algodão, fez inclusive o preço internacional despencar, porque quando você transfere totalmente o controle de preços mundiais para um único país - que tem interesse de comprar, trabalhar e manter o algodão em baixa, ele passa a dar as cartas no mercado e não mais o produtor rural”, explica Pimentel.
 
Diferente do algodão, a soja e o milho são perecíveis e não podem ser estocados por muito tempo sem que percam a qualidade. “Se olharmos, eles já possuem 90 mi de toneladas de milho e eventualmente podem construir um estoque de 30 mi de toneladas de soja. Com isso, eles podem criar um mecanismo de reciclagem desse estoque estatal, de maneira que a soja e o milho não fiquem velhos, e consequentemente entram em uma zona de conforto e seguem pressionando os preços dentro de um ambiente fundamentalista – mercado que analisa a oferta e demanda”, destaca.
 
Da mesma forma, para Pimentel, o Brasil também segue com especuladores de mercado técnico. “O efeito deles é de curto prazo e não conseguem sustentar os preços irreais. Ele até ajuda o produtor por um período, mas ele deve estar atento aos movimentos nas compras de soja da China, por exemplo,”, finaliza.


 

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Por: Nandra Bites e Aleksander Horta
Fonte: Notícias Agrícolas

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