Grãos: Em Chicago, mercado se volta para o clima nos EUA e impacto sobre a safra; no Brasil, dólar e exportações
O USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) divulgou na tarde desta terça-feira (31) o relatório de intenção de plantio, mostrando que os agricultores norte americanos dedicarão uma área recorde de 34,251 milhões de hectares para a soja neste ano. Mas o total semeado com a oleaginosa, segundo levantamento do USDA, ficará abaixo das previsões 34,783 milhões de hectares.
O número ficou acima do registrado na safra 2014/15, quando foram cultivados 33,873 milhões hectares com a oleaginosa.
Para o milho, o plantio foi estimado em 36,098 milhões de hectares, porém os analistas esperavam uma área de 35,208 a 36,381 milhões de hectares, de acordo com a média das estimativas.
Segundo Ênio Fernandes, consultor de mercado, a área de milho pode sofrer uma correção dependendo do clima norte americano, mas essas correções "devem ser de 1% a 2% para mais ou para menos", explica.
Além disso, mesmo com a área ficando acima da expectativa a produção dos EUA ainda não é suficiente para cumprir a demanda mundial pelo cereal. Com isso, qualquer alteração no clima pode influenciar nas cotações.
"Para a safra americana o USDA projeta de 166 a 177 bushels por acres. Com os níveis de custos e preços atuais - na primeira posição em Chicago a U$3,6 - para o produtor alcançar o ponto de equilíbrio ele tem que colher no mínimo 250 bushels, é quase 90 bushels/acres acima da média", afirma Ênio.
Ainda assim, Fernandes considera que os produtores norte-americanos não comercializarão sua produção abaixo dos U$ 4/bushel, com isso o mercado brasileiro será favorecido nesse cenário.
"O dólar deu competitividade para o produtor brasileiro e, também essa retenção que o produtor brasileiro fez, os argentinos e americanos também estão fazendo. Os produtores do mundo começaram a entender o poder da oferta que eles têm nas mãos", afirma Ênio.
Outro fator que influencia nos preços são as taxas de juros americanas, administradas pelo FED (Federal Reserve) que ao subir sinalizam ao mercado um ciclo de alta e causam quedas nas cotações das commodities.
"A presidente do FED deve pensar em aumentar as taxas de juros perto de setembro e até lá o produtor já protegeu muito a sua segunda safra do milho", afirma. Os produtores do Mato Grosso e Goiás, por exemplo, já tem 40% da safrinha comercializada.
Soja
Após a divulgação da intenção de área de soja nos Estados Unidos, os produtores devem se voltar às condições climáticas, pois qualquer alteração na produção, para mais ou para menos, os preços sofrerão correções.
Contudo, os patamares de preço nas comercializações são rentáveis ao produtor, e o mercado interno já registra maior estabilidade.
"Joaquim Levy deu uma declaração no senado que o Brasil tem que se preparar para o fim do ciclo das commodities. O que ele quer dizer é que aqueles níveis constantemente de alta findaram-se", ressalta.
Além disso, a tendência é que Chicago reflita o mercado americano, e a safra da América do Sul deve sair do foco das cotações. Por isso, Ênio considera que os produtores devem aproveitar os bons picos de preço.
"Se com os custos você consegue travar com um pouco de margem, vá e prefixa um pouco da soja, porque assim já garante margem. Mas não trave tudo porque a chance de errar é maior", lembra o consultor.
Ainda assim, Fernandes alerta que os produtores precisam compreender que a 'não ação, é também uma ação', pois automaticamente ele assume uma posição comprada, apostando em altas. No Brasil 60% da produção de soja já está comercializada.
Nesse cenário, a informação é essencial para que o produtor analise as condições do mercado e trave suas comercializações conforme necessidades, ou melhoras nos preços.