Cotações do milho para a segunda safra de 2017 já se aproximam do custo de produção e podem inviabilizar negócios antecipados
De acordo com o analista de mercado da Agroconsult, André Pessoa, os preços para a fixação da safrinha de milho 2017 recuaram e já estão próximos dos custos de produção. O cenário é decorrente das quedas registradas recentemente nos dois principais fatores de formação das cotações, o câmbio e os preços do cereal praticados na Bolsa de Chicago.
“Com isso, aqueles produtores que planejaram uma venda antecipada não conseguirão fixar os preços nos patamares que estavam sendo praticados há 20 dias, em torno de R$ 20,00 a R$ 21,00 a saca do cereal. Hoje, as cotações estão ao redor de R$ 16,00 a saca e se aproximam dos custos de produção médios, o que antecipa uma expectativa de que a próxima safrinha seja perigosa”, explica o consultor de mercado.
O especialista ainda pondera que, é preciso muita cautela em relação à fixação dos preços da safrinha. “Isso porque, ainda teremos a entrada da safra de milho dos Estados Unidos nas próximas semanas e poderemos ter uma pressão maior no mercado, claro que boa parte disso já está precificado. Porém, não são descartadas perdas adicionais, mas não acreditamos em preços próximos de US$ 2,80 por bushel. A posição dos fundos já é negativa, já venderam muitas posições de milho nas últimas semanas”, completa.
Somente no último mês, no período comparativo de 11 de julho a 11 de agosto, os principais contratos da commodity no mercado internacional cederam mais de 6%, segundo levantamento realizado pela equipe do Notícias Agrícolas. Ainda nesta quinta-feira (11), mais uma vez, os contratos do cereal fecharam o pregão em queda. O vencimento setembro/16 era cotado a US$ 3,21 por bushel e o dezembro/16 a US$ 3,31 por bushel.
Diante da projeção de uma safra cheia nos Estados Unidos, a perspectiva é que os preços se mantenham inalterados nos próximos 2 até 4 meses, bem próximos dos atuais níveis praticados, ainda na visão do consultor. E, em meio ao clima favorável no Meio-Oeste do país, as apostas dos participantes do mercado é que o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) revise para cima a projeção para a safra norte-americana em seu boletim de oferta e demanda que será reportado nesta sexta-feira (12), podendo ultrapassar as 370 milhões de toneladas do grão.
Já no caso do câmbio, a moeda tem registrado quedas mais fortes nos últimos dias. “Temos uma influência muito grande da questão política na taxa de câmbio e grande parte dos especialistas acreditam que com a definição do impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff, o câmbio pode voltar a testar o patamar de R$ 3,00. Claro que o mercado não é definitivo, ainda teremos que acompanhar essas informações”, afirma Pessoa.
Em meio a esse quadro, a perspectiva é que a comercialização da safrinha 2017 seja diferente do observado na temporada passada. Em dezembro de 2015, em torno de 20 milhões de toneladas da produção que ainda seria cultivada já havia sido negociada antecipadamente. “Iremos chegar nesse período esse ano com níveis bem mais baixos de comercialização, pois os patamares praticados durante esse período deixa o produtor rural mais retraído”, sinaliza o consultor.
Além disso, Pessoa ressalta que a área destinada ao plantio do cereal na próxima safrinha pode ser maior. A expectativa é que os preços, ainda firmes no segundo semestre de 2016 e a escassez do produto, estimulem a semeadura do grão. “E se não tivermos um quadro climático desfavorável, poderemos ter uma produção de mais de 60 milhões de toneladas de milho, o que traria o mercado brasileiro para um equilíbrio. Com isso, podemos voltar a praticar os preços na paridade de exportação”, completa.
La Niña
Paralelamente, os institutos de meteorologia já reforçam que a safra 2016/17 será marcada pela influência de um La Niña, o que pode gerar um atraso das chuvas, especialmente na região Centro-Oeste. E, com um possível atraso na semeadura da soja, também poderá impactar a janela ideal de plantio do cereal na segunda safra.
Para a safra de verão, essa também tem sido uma variável levada em consideração pelos produtores rurais do Sul do Brasil, que semeiam o milho a partir de final de agosto. “Os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, que seriam grandes candidatos ao aumento de área semeada, não deverão confirmar esse incremento, já que os produtores rurais estão cautelosos com as previsões climáticas. A possibilidade de falta de chuvas em dezembro e janeiro pode afetar a cultura em um momento importante, de definição de produtividade”, diz Pessoa.
Já nos estados do Paraná e Minas Gerais, a perspectiva é de um aumento na área cultivada, mas não de forma expressiva. “Teremos um crescimento na área de milho na safra de verão, mas em ano de La Niña não há garantias de produtividade. E mesmo com esse incremento de área não será suficiente para equilibrar o mercado brasileiro no início de 2017. Apesar da maior disponibilidade do cereal, o preço continuará operando mais para a paridade de importação, do que a para a paridade de exportação”, reforça o consultor.
Consequentemente, Pessoa reforça que os produtores terão que conviver com a escassez de milho até meados do próximo ano, até a entrada da próxima safrinha. “Só em maio de 2017, quando tivermos a definição da produtividade da safrinha é que o mercado deve voltar à normalidade, que é paridade de exportação”, diz.
Para quem ainda tem o milho disponível, o consultor ainda alerta que os valores praticados ainda continuam lucrativos. “Dificilmente iremos ver uma recuperação dos preços nos níveis em que já vimos, mas isso não quer dizer que não seja rentável vender o milho e nem quer dizer que o mercado voltou a ficar abastecido. O produtor deve olhar a necessidade de fazer para caixa para decidir sobre a venda ou não do produto. Ainda assim, quem precisar fazer a venda para ter recurso e completar o orçamento da próxima safra tem que refletir que alguns insumos nesse momento têm custos atraentes como é o caso dos fertilizantes”, finaliza.