Otto Vilas Boas, o "Sr. Café", aconselha aos produtores venderem suas sacas aos poucos; "este ano vai ter pouco café!"

Publicado em 11/12/2020 17:21 e atualizado em 12/12/2020 19:29
Entrevista com Otto Vilas Boas - de Guaxupe/MG
Otto Vilas Boas - Assessoria Comercial de Café - Guaxupé/MG

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Entrevista com Otto Vilas Boas - Assessoria Comercial de Café - Guaxupé/MG

 

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Após 60 anos de atividade na cafeicultura, maior parte como superintendente de comercialização da maior cooperativa de cafeicultores do mundo - a Cooxupé -, sr. Otto Vilas Boas reconhece que nunca viu situação tão dramática nos cafeeiros do Sul de Minas como nesta safra 20/21. 

-- "Já vivenciei outras secas, mas esta atingiu o momento da abertura das floradas. As plantas, sem água, passaram a abortar as flores. As que vingaram e se transformaram em chumbinhos, estão, agora, também sendo abortadas pelo cafeeiro, que optou por guardar suas reservas de energia para sobreviver e soltar novos ramos...".

Seo Otto tem razão. Boa parte da safra do sul de Minas, maior região produtora de cafés arábicas, caiu dos pés. Estima-se em 40% de perdas na produção. E agora, mesmo com as chuvaradas que caem sobre a região, não há muito o que fazer.

-- Aconselho - diz Otto Vilas Boas - aos cafeicultores atingidos pela seca a venderem o restante da safra com muita calma, com muita dose de paciência. Este ano vai faltar café... Já seria um ano de pouca produção (bianualidade baixa), e com a estiagem, a produção vai ser ainda mais reduzida, que fará os preços subirem".

O ex-superintende da Cooxupé dá outro conselho aos cooperados: "Confiem nas orientações de nossos técnicos, são muito preparados, e sabem o que é melhor para todos". 

ESSA CRISE NÃO ESTÁ NO LIVRO

Seo Otto fala como se ainda estivesse com a responsabilidade sobre a produção (e a vida) dos cooperados. Mas o que ele tem hoje nas mãos é um livro -- um livro de memórias -- intitulado "Homem de Fé; Senhor em Café", onde conta o que viu e vivenciou nesses 60 anos de experiencia de venda de café brasileiro para o mundo.

-- Certa vez -- ele conta -- dirigentes de grandes empresas torrefadoras do mundo me convidaram para uma reunião em S. Paulo. Queriam saber se nosso parque cafeeiro daria conta da demanda crescente. O mundo estava aprendendo a saborear o nosso café arábica gourmet, e os empresários queriam antecipar as compras. Mas precisavam de garantias de fornecimento. Ali entendi a importância do "market share", a  garantia de participação no mercado. Voltei à Cooxupé e disse aos nossos diretores: "vamos melhorar ainda mais a nossa qualidade, pois o mercado é comprador".

Isso aconteceu há mais de 30 anos. Hoje, ano de 2020, a Cooxupé anunciou ter batido o recorde de recebimento de cafés em seus armazens - 8 milhões de sacas... Seo Otto fala desses números com olhos brilhantes:

-- "Quem poderia imaginar, quem poderia imaginar" repete com entusiasmo.

O amor que ele tem pela cooperativa só não é maior que o amor que ele dedica aos cooperados;

-- Numa ocasião -- ele lembra --, o padre de nossa cidade achava que só porque eu andava de carro, eu era um sujeito rico. O padre Olavo (era o nome do padre) apontava a pobreza que existia no Sul de MInas e dizia que eu tinha que repartir meus ganhos com os mais carentes. Sou católico (fervoroso), respeito as autoridades da igreja, mas ali percebi que hava algo errado com suas prédicas. Não seria com esmolas que nós conseguiriamos melhorar a vida das pessoas. Entendi que a solução seria os cafeicultores melhorarem a qualidade de seus cafés e, por sua vez, a cooperativa iria se esforçar para alcançar o melhor preço. Foi o que fizemos. Hoje os nossos cooperados conseguem sempre o melhor preço do mercado".

--"Sempre gostei muito do que fiz na minha vida", confessa seo Otto.

Hoje, com 87 anos, vivendo modestamente de sua aposentadoria, ele resolveu lançar um livro de memorias... que tem de tudo  - suas experiencias de 60 anos como vendedor de café para o mundo, e, principalmente, o relato da transformação do café brasileiro, que deixou de ser um produto de 3a. categoria para se transformar na bebida mais desejada do planeta.

Ao final da conversa, seo Otto diz que está deixando aos mais jovens um legado, o UAITES. Esse legado é um acrônimo, formado a partir da palavra mais repetida pelos mineiros - o "uai"... (a cada frase dita por quem mora no sul de Minas é costume se ouvir o "uai", que tanto pode significar surpresa, admiração, espanto, ou um reforço do que foi dito). 

Seo Otto criou então o UAITES, siglas que em cada letra cabe um significado. Ele explica:

-- "... o U significa a União, a nossa união;

-- " ...o A vem de amor, amor pelo que fazemos aqui na terra;

-- " ...o I existe para lembrar da inteligencia, que temos sempre de usar;

-- " ...o T é de trabalho, pois sem ele não seriamos nada;

--" ... o E é fundamental, vem da palavra ÉTICA, ensinado por Aristóteles, e que devemos sempre perseguir;

--" ... e S final é o resultado de tudo, a solução... a solução para o significado de nossas vidas, o que viemos fazer aqui na terra.

Otto Vilas Boas é um homem religioso, um homem de fé, como diz o titulo do livro. Mas para os cooperados da Cooxupé, que o respeitam muito, e para todos quem o conhecem e que tem o prazer de apreciar de suas experiencias, seo Otto é o "senhor Café"!!!. Um título que vale mais do que qualquer honraria. Afinal, ele a história do café do Sul de Minas.

(Parabéns pela sua vida, seo Otto... muito obrigado pela sua existencia..; assinado João Batista Olivi).

PS: para quem desejar saborear as experiencias de Otto Vilas Boas no livro "Homem de Fé, Senhor em Café" basta procurar na loja eletronica da Amazon. Também as  unidades da cooperativa tem o livro à disposição).

 

 

 

 

 

 

Fonte: Notícias Agrícolas

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