Decisão de férias em frigorificos da JBS é vista como mais um grave erro da indústria
A notícia de que a JBS, a maior processadora de carne bovina do mundo, dará férias coletivas aos funcionários de 10 unidades no Brasil, pegou todo o setor de surpresa.
Após a repercussão positiva do fim dos embargos impostos por importantes importadores da carne brasileira, a cadeia produtiva esbarra em mais uma preocupação.
O vice-presidente da SRB (Sociedade Rural Brasileira), Pedro de Camargo Neto, afirma que a decisão tomada pela JBS foi "inoportuna e fora de hora. Eles tiveram apoio do então governo para chegar aonde chegaram e, não poderiam, neste momento delicado, soltar essa notícia", lamenta.
Contudo, Neto diz acreditar que os impactos serão passageiros, ainda que exija boa gestão do pecuarista neste momento de baixa nos preços da arroba.
Além disso, afirma que a repercussão mundial sobre a operação Carne Fraca, da Polícia Federal, não deve manchar a reputação da pecuária brasileira no exterior. "Ficou muito evidente, nos últimos dias, que houve um exagero por parte da PF e a população começou a entender que os casos eram pontuais", diz.
Aos pecuaristas, Neto orienta que o melhor a se fazer é trabalhar para o ganho de produtividade, visto que os preços da arroba não estão atrativos neste ano.
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Confederação dos Trabalhadores vê ameaça com férias coletivas em unidades da JBS
A Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação e Afins (CNTA), representante dos 130 mil trabalhadores da JBS, vem a público manifestar sua preocupação com o grande número de férias coletivas concedidas por esta empresa aos seus trabalhadores sem a garantia da manutenção do emprego quanto ao retorno às atividades.
A CNTA, enquanto participante da audiência pública sobre os impactos da operação Carne Fraca, realizada nessa terça (28/3), na Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal, apresentou uma proposta de criação de um compromisso público-privado pela manutenção dos empregos no setor, com pelo menos seis meses de duração.
Entendemos que o trabalhador não pode pagar pelas consequências de atos que não foram cometidos por eles e que o governo deve intervir junto aos frigoríficos, principalmente, aqueles ligados aos grupos JBS, que foram financiados com verba pública e, inclusive, contam com participação acionária do BNDES. Portanto, cobramos o compromisso e o cumprimento da responsabilidade social pelo governo e pelas chamadas “campeãs nacionais”.
Estamos atentos a qualquer tentativa de ameaça de demissões e preparados para contestar e cobrar, por meio de manifestações, ações judiciais e denúncias internacionais, as responsabilidades das empresas e do governo.
E ainda:
>> Rússia suspende importação de carnes de unidades da BRF e JJZ Alimentos (na FOLHA e ESTADÃO)
União Europeia pede controles independentes na indústria de carnes do Brasil
BRASÍLIA (Reuters) - O Brasil precisa de controles independentes nas inspeções na indústria de carnes, disse uma autoridade de saúde da União Europeia nesta quarta-feira, ao encerrar uma visita ao país onde a Polícia Federal revelou um esquema envolvendo propinas para auditores agropecuários, desencadeando uma série de embargos no mercado externo.
A polícia brasileira disse em documentos judiciais que houve pagamento de propinas para encobrir graves violações sanitárias em algumas companhias de carne, incluindo a venda de produtos podres e contendo salmonela. O inquérito, que recebeu o nome de Operação Carne Fraca, levou alguns dos maiores mercados de exportação do Brasil a suspenderem compras de suas carnes.
A União Europeia está entre os mercados que suspenderam importações das 21 plantas que estão sob investigação no Brasil, maior exportador mundial de carne bovina e frango.
O comissário da União Europeia para a saúde e segurança alimentar, Vytenis Andriukaitis, disse a repórteres em Brasília que as restrições e verificações reforçadas sobre as importações de carne brasileira não devem ser retiradas em breve.
"A situação das importações de carne do Brasil ficará sob estas verificações reforçadas até que o Brasil responda nossos questionamentos e nossa equipe de auditores visite o Brasil", disse Andriukaitis à Reuters.
"A situação ficará muito mais clara nas próximas semanas ou meses. A principal mensagem ao Brasil é que a questão não está encerrada. É uma questão de saúde e qualidade", disse ele.
Embora tenha dito que não cabia à UE dizer qual sistema de inspeção um país deveria ter, Andriukaitis apelou ao governo brasileiro para que introduza regras mais transparentes para evitar conflitos de interesse público-privados.
"O sistema oficial de controle deve ser independente e não sob a influência de políticos e outros atores. Precisamos garantir a independência do sistema oficial de controle brasileiro", disse ele.
Andriukaitis disse que a UE pode anunciar mais medidas relacionadas às importações do Brasil após uma reunião de seu Conselho de Agricultura na segunda e terça-feira, mas não entrou em detalhes.
(Por Anthony Boadle)