Fertilizantes: Ureia sobe 15% em uma semana e compromete relações de troca com o milho safrinha 23

Publicado em 27/06/2022 11:05 e atualizado em 27/06/2022 13:06
Movimento não chega aos demais grupos de fertilizantes ainda. No entanto, relações de troca permanecem todas bem acima da média e intensificam probabilidade de redução na adubação por parte do produtor brasileiro.
Jeferson Souza

Ao contrário do que se observava há algumas semanas, os preços da ureia voltaram a subir e, somente na semana passada, registraram uma alta de 15%, enquanto os valores do milho cederam expressivamente tanto no mercado internacional, quanto no brasileiro. O movimento impactou diretamente nas relações de troca para o produtor entre os dois produtos, saindo de 61 para 77 sacas do cereal - base Sorriso/MT -, em apenas sete dias, como explica o analista de fertilizantes da Agrinvest Commodities, Jeferson Souza. 

Gráfico: Jeferson Souza/Agrinvest Commodities

"A partir do momento em que eu tenho esse aumento tão forte, acendo um novo sinal de alerta: será que esse movimento pode perdurar? Vai voltar? A ureia está subindo, mais uma vez, com a pressão do gás natural", diz o especialista, afirmando também que essa escalada do gás continua e que pode alcançar todos os demais nitrogenados. 

Dessa forma, com toda a incerteza sobre o mercado do gás natural - que está muito ligado à continuidade da guerra entre Rússia e Ucrânia - a incerteza sobre o fertilizante também continua. "Não fosse isso, os preços da ureia registravam um tendência de baixa até o início de julho", explica. "Há duas semanas o gás natural explodiu na Holanda e os preços da ureia refletiram isso rapidamente". 

Gráfico: Jeferson Souza/Agrinvest Commodities

Ao lado da movimentação dos preços em dólares por tonelada, os preços em reais também subiram dada alta da moeda americana frente ao real. Mais do que isso, o analista ainda destaca um movimento maior dos compradores - nacionais e internacionais - diante do aumento dos preços e acreditando que este pode ser um movimento mais duradouro, o que também ajudou a puxar pra cima os indicativos. 

DEMAIS GRUPOS DE FERTILIZANTES

No mesmo período em que a ureia subiu forte, o cloreto de potássio conseguiu manter-se estável, considerando um intervalo de US$ 1075,00 a US$ 1100,00 por tonelada, custo e frete Brasil. Para o MAP, a tonelada também está próxima de US$ 1000,00, contra algo perto de US$ 1300,00 no início de março.

Todavia, em função de uma baixa nos preços da soja, as relações de troca no caso da oleaginosa também mostraram certa deterioração para a safra 2022/23. 

QUAIS OS SINAIS DE ALERTA?

Diante dos últimos acontecimentos e dos sinais que o mercado ainda dá - em especial aos nitrogenados pelo movimento do gás natural - e dos impactos sobre as relações de troca, o produtor tem de se manter atento ao caminhar das relações de troca e às janelas de compras de seus insumos, as quais estão se mostrando cada vez menores e menos frequentes. E isso se dá para a soja e para o milho.

"O produtor tem uma janela cada vez menor, isso é um fato. Ele tem que ficar atento à logística. Já tivemos problemas com isso no ano passado e acho que, além de preços, ele tem que estar atento à essa janela de entrega do seu fertilizante para não ter preocupações na hora do seu trabalho de semeadura", orienta Jeferson Souza. 

E com as relações de troca, apesar das recentes quedas, ainda estarem muito acima e distante das médias, a probabilidade de que o produtor possa reduzir sua adubação é cada vez maior e mais próxima. "Fizemos um levantamento recente, uma pesquisa aqui com os nossos clientes e a grande maioria deles comentou que irá reduzir (o uso de fertilizantes) nas áreas que são possíveis. Nas áreas novas é uma outra conversa, mas nas áreas consolidadas eles irão reduzir a adubação", alerta o analista. 

ABASTECIMENTO E IMPORTAÇÕES RECORDES

As importações recordes de fertilizantes pelo Brasil este ano ajuda na garantia de que o abastecimento será adequado para a safra 2022/23, porém, ainda segundo Jeferson Souza, impressionam. Já para o segundo semestre, esse ritmo pode ficar menos intenso. 

"O importador deve ficar mais atento à demanda. Hoje vemos algumas empresas com situação complicada em relação aos estoques aqui no Brasil. Então, ficarão mais atentos à essa demanda por parte do produtor. Acho que não vamos terminar o ano com tantas importações assim, já que tende a diminuir em função da demanda do produtor, que tende a ser menor este ano", diz. 

Gráfico: Jeferson Souza/Agrinvest Commodities
Por: Carla Mendes | Instagram @jornalistadasoja
Fonte: Notícias Agrícolas

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