O papel do Estado para ajudar o agronegócio brasileiro: “diminuir os custos para quem produz”
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Conexão Campo Cidade
O agronegócio e os setores urbanos estão intrinsecamente conectados, já que as cadeias produtivas de alimentos influenciam diretamente no cotidiano das cidades. Porém, muitos ruídos de comunicação entre as duas pontas geram discussões e desentendimentos que merecem atenção. Nesse contexto, o site Notícias Agrícolas e a consultoria MPrado desenvolveram o projeto Conexão Campo e Cidade, que visa debater diversas questões relacionadas aos negócios que envolvem os ambientes urbanos e rurais.
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Uma das principais questão que unem os interesses do campo e da cidade é a política. Por isso, na última segunda-feira (24), o programa recebeu como convidado Nilson Leitão, presidente do Instituto Pensar Agropecuária (IPA), que cumpre o propósito de representar a cadeia agropecuária brasileira junto às três esferas do poder (Legislativo, Executivo e Judiciário).
Nilson Leitão tem ampla experiência política e proximidade com o setor rural. No Mato Grosso, foi vereador e prefeito de Sinop e deputado estadual. Por oito anos, entre 2011 e 2019, foi deputado federal, onde desempenhou um papel fundamental junto ao agronegócio, integrando a bancada ruralista e se tornando líder da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).
Estado deve estar focado na redução de custos para o produtor
Nilson Leitão afirmou que o Estado brasileiro consegue ajudar o desenvolvimento do agronegócio, e em consequência da economia nacional, simplesmente diminuindo os custos para quem produz. “Automaticamente vai gerar mais emprego, mais renda, nossa concorrência vai ser muito maior com outros países”, frisou o presidente do IPA.
Porém, como Leitão e os integrantes do Conexão Campo Cidade ressaltaram, pouco se ouve a respeito de diminuição de custos dos candidatos brasileiros. De acordo com eles, existem pontos como a estrutura logística e a dependência internacional de insumos que poderiam ser melhorados por medidas políticas, que gerariam benefícios econômicos em cadeia, começando pela produção agropecuária.
Necessidade de organizar e unificar as demandas do agro
Dando continuidade ao assunto, Nilson Leitão afirmou que falta uma dos diferentes setores da agropecuária nacional para buscarem as mudanças que são realmente necessárias. Ele destacou que o cooperativismo no Brasil se organizou até se tornar o gigante que é hoje e tomou como exemplo o estado de Mato Grosso, que por muito tempo foi “o patinho feio do agro”, como ele disse, até que houve uma projeção de diversas associações, com o mesmo objetivo, para se tornar o gigante que é hoje.
Entretanto, hoje as associações defendem apenas os interesses do seu próprio setor. Segundo Leitão, é necessário que todas as demandas do agronegócio sejam reunidas e hierarquizadas. “Hoje todo mundo tem boa equipe e influência, mas todos precisam remar para o mesmo rumo, senão o barco começa a rodar”, avaliou o presidente. “Temos entidades maravilhas, mas agora precisamos ter um caminho só, uma agenda única colocada em prática”, completou.
Conflito entre Rússia e Ucrânia evidencia dependência brasileira da importação de insumos
Roberto Rodrigues chamou a atenção durante o programa para o conflito entre Rússia e Ucrânia. No ano passado, as restrições de exportação da Bielorrússia provocaram um expressivo aumento no valor do cloreto de potássio, responsável por 18% da produção mundial. Caso uma porcentagem ainda maior fique restrita para o mundo, o reflexo no preço pode ser gigantesco.
José Luiz Tejon opinou que não acredita em um conflito entre Rússia e Ucrânia, contudo destacou que o Brasil precisa aproveitar crises internacionais quando elas ocorrem. Ele lembrou que quando houve um embargo da Rússia para exportação de grãos, o Brasil soube aproveitar o momento. Da mesma forma, agora é o momento para ampliar o uso de bioinsumos e domínios de patentes genéticas.
Já Nilson Leitão, ressaltou que o Brasil precisa resolver esse problema internamente e usar todo seu potencial, pois os materiais químicos usados na produção agropecuária são praticamente todos importados.
Mudança da estrutura parlamentar do Brasil
Outro ponto abordado no programa foi a quantidade de partidos políticos no Brasil. Nilson Leitão afirmou que no país ocorre uma individualização de interesses e os partidos não têm uma uniformidade de interesses. Além disso, alguns partidos pequenos, que não têm sequer verba e tempo de televisão para a campanha, podem barrar projetos de lei, o que atrapalha algumas tramitações.
Para ele, existe uma necessidade de fortalecer as coligações partidárias e unir os partidos, de uma forma que reduza a quantidade dos mesmos. Ele também destacou que é autor de uma lei que reduz o número de parlamentares, mas esse é assunto bastante polêmico no país.
Roberto Rodrigues aproveitou o assunto para lembrar que no Brasil são destinados R$ 5 bilhões para o fundo eleitoral, enquanto que apenas R$ 1 bilhão é destinado para o seguro rural. Nesta crise de seca que passa a região Sul do Brasil, um recurso maior seria fundamental. “Se metade do fundo eleitoral fosse para o seguro rural, seria um sucesso para o Brasil inteiro. Tem que aproveitar o debate da eleição”, declarou Rodrigues.
Propaganda das grandes marcas com base na originação dos alimentos
Mais um tema levantado por Tejon, pensando na relação entre os agricultores e a cidade, foi a possibilidade que os diretores de marketing das grandes companhias têm de aproveitar o agronegócio como propaganda. Ele citou como exemplo a PepsiCo, que está estampando fotografias de produtores em suas embalagens. Com isso, as vendas têm aumentado, e essa é uma forma de ampliar o nível de confiança com os consumidores, estabelecido pelas famílias agrícolas.
“As marcas que chegam no consumidor final precisam mostrar a originação”. Ele citou também supermercados europeus, que estão pesquisando com os consumires se eles acreditam produtos mais baratos são provenientes da exploração dos agricultores. “Estamos indo para um patamar em que o ponto de venda é a família agrícola. Está na hora de agregar na marca o papel do originador”, finalizou Tejon.