Obama aumenta adição de óleo de soja no diesel e etanol de milho na gasolina
Apesar do feriado desta quinta-feira (24) nos Estados Unidos, o mercado de grãos encontra uma nova notícia, após anúncio na noite de ontem por parte da Agência de Proteção Ambiental norte-americana (EPA, na sigla em inglês) de uma elevação na cota dos biocombustíveis no processo energético do país. Em consequência disso, o óleo de palma, que é o substituto da soja, teve alta nos preços na Malásia e alcançou suas máximas em quatro anos.
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Por outro lado, o Brasil também enfrenta uma má notícia. Uma reunião na Câmara Setorial do Açúcar e do Álcool em Brasília indicou que o país se posiciona enquanto quarto maior importador mundial de gasolina. A produção de petróleo vai bem, mas a capacidade das refinarias deixa a desejar. Este fator poderia abalar a capacidade do Brasil de encontrar um crescimento real nos próximos anos.
O jornalista João Batista Olivi, do Notícias Agrícolas, entrevistou o consultor em agronegócio Ênio Fernandes, que também é Presidente da Comissão Nacional da Cana-de-açúcar da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), para debater ambos os assuntos, que trazem novos ânimos para o mercado.
Novidades no mercado de grãos
A EPA anunciou um aumento de 6% na demanda de biocombustíveis nos Estados Unidos, após anos sem sinalização de que a agência continuaria incentivando o uso de etanol de milho. Este fator, portanto, é um alento para a indústria de etanol, podendo trazer um impacto para o Brasil.
Outro ponto é que a velocidade da comercialização norte-americana está bastante alta, como destaca Ênio. Até o momento, cerca de 70% das estimativas de venda de soja para o período já foram realizadas. Com isso, o óleo de soja encontrou espaço para crescer em detrimento do anúncio e puxou junto o óleo de palma na Malásia, seu principal substituto no mercado.
A partir de agora, os olhos se voltam para a América do Sul, que enfrentam um ano que poderá sofrer consequências do La Niña. A tendência, neste instante, é de uma elevação dos preços da soja na Bolsa de Chicago (CBOT) - fator que só poderá começar a ser observado a partir da próxima segunda-feira (28), pois o dia de amanhã será de meio pregão na CBOT.
Para o consultor, os produtores brasileiros que quiserem ficar competitivos no mercado devem "buscar informação 24 horas por dia". Ele também indica que, neste momento, a estratégia aconselhada é de calma nas vendas e parcimônia para vender, à medida que aparecerem preços atrativos. Ele lembra que o mercado está longe das máximas, mas que a relação de venda de produtos e de compra de insumos pode ser diferente para cada produtor, gerando a necessidade de uma orientação caso a caso para melhor investimento no mercado.
Ao mesmo tempo, o mercado internacional se encontra resistente a investir no Brasil, o que provoca baixa entrada de dólar no país e, consequentemente, um câmbio mais alto. Nos próximos dias, a delação da Odebrecht deverá trazer novos rumos para a confiança do país. "O principal item do investidor é segurança", afirma o consultor.
Como a ação da EPA também adicionou mais soja como biocombustível, o mundo irá precisar de soja a partir de janeiro, e este mercado estará aberto para a América do Sul. O ritmo de venda também será fundamental para as cotações na CBOT. No Brasil, o óleo de soja também ganha uma porcentagem de 8% no biodiesel, o que poderá trazer preços saudáveis de soja para o mercado.
Para o milho, as comercializações da safra de verão deverão ser tranquilas, uma vez que a oferta será pequena. Já para o milho da segunda safra, se ocorrerem problemas no sul do país e na Argentina, como indicam as previsões, e este fator for somado a uma volatilidade do dólar, haverá igualmente oportunidade de venda. O consultor aponta que é saudável que o produtor trave parte da sua safra e construa rentabilidade em um momento que tiver margem, para não ser obrigado a vender milho na janela, em agosto.
Quarto maior importador de gasolina
O consultor participou, representando sua posição de Presidente da Comissão Nacional da Cana-de-Açúcar na CNA, de uma reunião em Brasília da Câmara Setorial de Açúcar e Álcool, comandada pelo Ministério da Agricultura e pode constatar, em uma exposição da Agência Nacional do Petróleo (ANP), que o Brasil está perdendo uma corrida na competição em relação ao restante do mundo.
A fragilidade tecnológica do país faz com que ele se torne o quarto maior importador de gasolina do mundo neste momento, com 400 milhões de barris importados ao ano.
Este fator traz uma preocupação com relação ao crescimento do país, que pode ser anulado pela necessidade de importação de um produto do qual não há escassez de matéria prima. Os investimentos em portos e novas refinarias seriam necessários para estimular a produção a nível nacional e estancar a dependência. Ênio lembra que ambos os investimentos, no entanto, são altos e necessitam de licenças ambientais, que passam por processos que, segundo ele, são bastante burocráticos.
Apesar de o mundo ter uma grande oferta de gasolina, os problemas logísticos podem complicar este fator. Ele aponta que, se o país crescer, pode não haver combustível para atender a toda essa demanda.
"É um programa grande para resolver. O Brasil tem que escolher qual caminho quer seguir, escolher e mostrar a que veio, o que espera do futuro do país", conclui.