Rússia pode declarar estado de emergência por danos com geadas e trigo sobe quase 3% em Chicago

Publicado em 03/06/2024 09:56 e atualizado em 03/06/2024 11:16
Trigo sofrendo com geadas na região de Rostov, na Rússia - Foto: GrainRus

A agência estatal de notícias da Rússia informou, nesta segunda-feira (3), que o país pode declarar estado nacional de emergência em função dos efeitos das severas geadas que vêm sendo registradas nos últimos dias, causando danos consideráveis em áreas de produção agrícola. 

A notícia serviu como mais uma faísca para o já inflamado mercado global de trigo. Depois de acumular mais de 16% de alta na Bolsa de Chicago no acumulado de maio, os futuros do grão voltaram a subir nesta segunda-feira e registrou ganhos de quase 3% entre as posições mais negociadas mais cedo. No entanto, o mercado perdeu força, passou a realizar lucros no final da manhã e, por volta de 11h05 (Brasília), subia pouco mais de 2 pontos, com o julho em US$ 6,80 e o dezembro a US$ 7,27 por bushel. 

A medida, segundo o ministro da Agricultura russo, Oksana Lut, pode ser anunciada até o final desta semana. A autoridade, em sua declaração, ainda ressaltou a importância da declaração o quanto antes para que os produtores possam ter caminho para os pedidos de seguro, principalmente, além de outras formas de amparo que possam ter do governo diante das emergências que o setor vem sofrendo agora. Localmente, diversos governos de regiões-chave de produção já fizeram suas declarações de emergência. 

De grãos a maçãs, todas as culturas têm sofrido com adversidades neste momento. O ministro, todavia, afirma que ainda não é possível mensurar a extensão e o tamanho das perdas, além do prejuízo financeiro que sofre a Rússia. O presidente da União de Grãos Russa, Arkadiy Zlochevskiy, afirmou que, até o dia 27 de maio, pelo menos 1,5 milhão de hectares já haviam sido afetados. 

A Sovecon, uma importante consultoria agrícola russa, estimou no final da última semana uma nova redução na produção de trigo do país, de 85,7 para 82,1 milhões de toneladas neste ano.

Toda a região do Mar Negro sofre agora com adversidades climáticas, o que traz ainda mais ameaças à produção global de trigo, tendo registrado um dos mais secos meses de maio - fundamental no desenvolvimento das lavouras de trigo -  da história.  A Ucrânia é um dos países mais afetados e, junto da Rússia, as duas nações respondem por cerca de um terço das exportações globais do grão, que é um dos mais comercializados no planeta. 

As geadas fora de época, além do tempo muito seco, acometeram os campos do cereal, em alguns locais onde a colheita começaria em mais algumas semanas, o que já sinaliza que as perdas, em várias áreas, são irreversíveis. E estas preocupações sobre os impactos das adversidades têm sido o principal combustível para a volatilidade dos preços. 

Para a Ucrânia, a estimativa de produção de trigo é de 19,1 milhões de toneladas, segundo a associção de grãos do país, e se confirmando deverá configurar a menor safra em uma década. A boa notícia chega de forma limitada para os produtores ucranianos, no entanto. Os modelos climáticos apontam que as chuvas deverão ser melhores na região central do país nas próximas semanas. 

No entanto, o Commodity Weather Group (CWG) informa, nesta segunda, que cerca de metade da região do Mar Negro deverá permanecer seca pelos próximos 100 dias, sofrendo com altas temperaturas e mais perdas nos campos podendo ser registradas. 

Outros países que também sofrem com o tempo seco e quente são a Austrália e a Índia. 

Além do clima, está ainda na conta do mercado a possibilidade de greves de trabalhadores portuários na França. Os trabalhadores pleiteam melhores condições de trabalho e a Federação dos Trabalhadores de Portos e Docas do país afirmaram, em uma carta ao ministro dos Transportes francês, Patrice Vergriete, que o plano é de que seja feita uma paralisação de quatro horas por dia, no período de 4 a 28 de junho, além de paralisações de 24 horas nos dias 7, 13, 21 e 25 em todos os terminais da nação europeia. 

As manifestações podem afetar as atividades nos maiores terminais de grãos da França, os quais respondem por 50% das exportações de trigo e cevada do país, que é o maior exportador de trigo da União Europeia, além de ser o responsável por 18% da produção agrícola total do bloco. 

MERCADO BRASILEIRO

As altas do trigo no mercado global são acompanhadas de perto pelo mercado brasileiro, onde as cotações também estão reagindo. Depois de uma safra grande e uma, na sequência, de perdas intensas, inclusive de qualidade do grão brasileiro, o mercado dá novos sinais. "As coisas mudaram. Os preços do trigo já estão sendo negociados na faixa de R$ 1600,00 considerando moinhos de Curitiba, Ponta Grossa, então houve uma modificação", explica o diretor geral do Grupo Labhoro, Ginaldo Sousa. 

Ele explica ainda que, nos cálculos atuais, o trigo importado já chega por aqui na casa dos US$ 300,00, "e isso, se os preços internacionais subirem mais, vai dificultar as importações. O preço interno tende a se valorizar um pouco mais. Nós tivemos uma boa valorização dos preços do trigo nos últimos 60 dias, porque até então, o mercado do trigo estava totalmente parado, ofertado e sem comprador disponível", complementa. 

Com informações do Deccan Herald e da Bloomberg

Por: Carla Mendes | Instagram @jornalistacarlamendes
Fonte: Notícias Agrícolas

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