Trigo: Cortes nas estimativas da safra russa trazem tendência de alta para os contratos
O relatório de Grãos e Oleaginosas da Hedgepoint Global Markets aborda, nesta semana, as altas expressivas nos contratos futuros de trigo. “Em um mercado que está extremamente vendido nos contratos negociados em Chicago, fundamentos altistas podem ser potencializados por movimentos de “cobertura” dessas posições vendidas – e as manchetes vindas da Rússia parecem ter conseguido iniciar este movimento”, comenta Alef Dias, analista de Grãos e Macroeconomia da Hedgepoint.
Clima seco reduz estimativas para a safra
“Assim como havíamos feito em nosso call mensal transmitido na última quinta-feira (18), a Sovecon – consultoria especializada no mercado russo – também reduziu sua estimativa de produção de trigo da Rússia em 1M mt para 93M mt. Essa foi a primeira redução no ciclo atual, por conta da deterioração das condições de safra no sul do país”, observa Alef.
O sul da Rússia é a maior região produtora de trigo do país, respondendo por mais de 40% do total da safra. O principal motivo da revisão da estimativa são as condições de clima seco no sul da Rússia.
De acordo com o analista, “nos últimos 30 dias, os níveis de umidade na região ficaram entre 60 e 80% do normal, com temperaturas mínimas de 2 a 4°C acima da média. Devido à falta de precipitação, está se formando um déficit de umidade na camada superficial do solo, e as condições das culturas pioraram”.
A SovEcon estima que as condições da safra sejam médias/ligeiramente acima da média em Rostov e Krasnodar (as duas maiores produtoras de trigo da Rússia) e ligeiramente abaixo da média em Stavropol (terceira maior).
Nas próximas semanas, os principais modelos meteorológicos preveem 60-90% da precipitação normal no Sul, o que, combinado com altas temperaturas (2-4°C acima do normal), provavelmente não melhorará significativamente a disponibilidade de umidade para as plantas na região.
“Se o Sul não receber chuvas significativas nas próximas 2 a 4 semanas, a região poderá enfrentar uma quebra de safra. No entanto, isso pode ser parcialmente compensado por rendimentos relativamente altos na região do Volga e no Centro, onde as condições de colheita ainda parecem melhores do que a média. O clima também começa a ser uma preocupação para a safra de primavera do país, que deve começar a ser plantada no próximo mês. A Sibéria, principal região produtora de trigo de primavera está com a umidade do solo abaixo das mínimas dos últimos 5 anos”, ressalta.
“As manchetes vindas da Rússia trouxeram uma relevante pressão altista para os contratos de trigo esta semana. Além dos ataques à infraestrutura portuária ucraniana – que adicionam riscos ao trânsito de grãos no Mar Negro, o mercado começou a se preocupar com a deterioração das condições da safra russa”, pontua.
Apesar impacto ainda limitado sobre as estimativas de safra, ainda há espaço para uma deterioração relevante da safra russa caso o clima siga negativo para a produtividade. A colheita da safra de inverno só se dará em julho, e o plantio da safra de primavera se iniciará no próximo mês.
“Com isso, a safra da Rússia, principal exportadora global de trigo, ainda pode trazer um suporte relevante para os preços de trigo nos próximos meses”, conclui.