Trigo: Negócios com a safra nova chegam a 60 mil t na semana no Brasil com estímulo vindo do dólar

Publicado em 17/06/2022 16:25

A intensidade continua permeando os negócios e os mercados do trigo e esta foi mais uma semana agitada. Embora a guerra entre Rússia e Ucrânia esteja no cerne das discussões sobre este mercado, outras notícias e fundamentos se alinharam e pesaram sobre as cotações que, somente na Bolsa de Chicago, acumularam perdas de mais de 3% entre as posições mais negociadas. 

O vencimento julho caiu 3,46%, passando de US$ 10,70 para US$ 10,33 por bushel, enquanto a baixa do setembro foi de 3,51%, chegando a US$ 10,46, contra US$ 10,84 do fechamento da última sexta (10). Somente no pregão desta sexta-feira (17), as perdas passaram de 40 pontos - ou 3% - entre os principais vencimentos. 

Como explica a diretora da De Baco Corretora, Ritta De Baco, parte desta pressão vem do andamento da colheita do trigo no hemisfério norte. Nos Estados Unidos, até o dia 12 de junho, 10% da área de trigo de inverno já havia sido colhida, contra 5% da semana anterior, 4% de 2021 e 12% de média das últimas cinco temporadas, de acordo com o último reporte semanal de acompanhamento de safras do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos). 

Todavia, ainda segundo o reporte, apenas 31% das lavouras norte-americanas estão em boas ou excelentes condições, contra 48% do ano passado, neste mesmo período. Em situação ruim ou muito ruim são 42% dos campos. 

Ainda assim, o peso da chegada da oferta dos EUA e de mais países do hemisfério norte chega sobre os preços. 

Ao lado dos fundamentos, a despencada do petróleo nesta sexta ajudou no movimento de baixa entre os futuros do grão. O óleo caia quase 8% diante dos temores de desaceleração da economia global, bem como os aumentos das taxas de juros, que poderiam provocar, como explicam analistas, uma recessão ainda mais forte e comprometer o consumo dos combustíveis. 

Assim, para a semana que vem, mas intensidade e volatilidade são esperadas para o mercado do cereal, tanto internacional, quanto doméstico. 

"Com a entrada da safra europeia, somada à colheita americana, sem bolsa de Chicago na segunda-feira (pelo feriado do Dia do Fim da Escravidão nos EUA) os mercados devem operar mistos, aguardando definição da liberação dos estoques ucranianos", afirma Ritta.

ENQUANTO ISSO, NO BRASIL

Enquanto isso, no Brasil, a alta do dólar criou um colchão para as baixas dos preços do grão nas bolsas internacionais e bons preços se estabeleceram no mercado nacional. Dessa forma, bons negócios também foram efetivados na semana. 

"No mercado spot rodaram cerca de 15 mil toneladas e, para negócios futuros, cerca de 60 mil", detalha Ritta De Baco, afirmando que, principalmente para negócios futuros o volume de operações foi bastante considerável. "Quando o dólar ajuda na conta, o vendedor vem com mais vontade", diz.

Neste quadro, com a moeda americana fechando a semana com mais de R$ 5,10, os indicativos na exportação, posto Rio  Grande, para a safra nova testaram os R$ 2180,00 por tonelada. A pedida nesta sexta-feira foi de R$ 2200,00, também posto Rio Grande. No mercado interno, a nova temporada viu negócios rodando na casa de R$ 2150,00. 

Já para o spot, mercado disponível, interno pagando R$ 2300,00 posto moinhos do Rio Grande do Sul. 

"O trigo, ao menos aqui no Rio Grande do Sul, será o grão de ouro nesta safra, pois com a quebra dasoja, arrastada pela quebra do milho, o que resta ao nosso produtor é ser bem remunerado na safra de trigo", conclui a analista de mercado e diretora da De Baco.

SOBRE A OFERTA UCRANIANA

E sobre os estoques ucranianos, a novela continua e deverá ser longa. A Turquia voltou a falar sobre uma rota marítima para o escoamento dos estoques ucranianos nesta semana, com suas lideranças sugerindo que os navios poderiam ser guiados em torno das minas que estão na região do Mar Negro. Afinal, a Rússia voltou a afirmar que oferceu uma "passagem segura" para os produtos, mas que não será responsável pelo estabelecimento dos corredores, de acordo com informações da Reuters Internacional. 

E embora a iniciativa principal desse corredor de escoamento de grãos seja da ONU (Organização das Nações Unidas), as sanções impostas sobre Moscou estão no meio do caminho para as soluções, já que os países do Ocidente seguem reforçando que as mesmas não serão retiradas. 

Restos de um míssel russo em um campo de trigo na região de Donetsk, na Ucrânia.
Foto: Gleb Garanich/Reuters

"Não somos responsáveis ​​por estabelecer corredores seguros. Dissemos que poderíamos fornecer passagem segura se esses corredores fossem estabelecidos", disse o embaixador russo na ONU, Vassily Nebenzia."É óbvio que ou retira as minas do território, que foi minado pelos ucranianos, ou garante que a passagem contorne essas minas", completou. 

Também à Reuters, o Ministro da Agricultura da Ucrânia, Mykola Solskyi, afirmou que a guerra - que já dura mais de 100 dias - deverá provocar uma escassez global de trigo por pelo menos três temporadas, em função da falta da oferta da Ucrânia. 

"A Ucrânia ficará fora do mercado por um longo tempo. Agora estamos falando de três colheitas de trigo ao mesmo tempo: não podemos tirar a safra do ano passado, não podemos colher e tirar a atual e não queremos semear a próxima", explica Solskyi. 

Por: Carla Mendes | Instagram @jornalistadasoja
Fonte: Notícias Agrícolas

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