Mapeamento genético do trigo é concluído e pode ajudar a alimentar o mundo
Cientistas acabam de anunciar a conclusão do sequenciamento do genoma do trigo, uma das plantas mais cultivadas do planeta. A descoberta pode contribuir para o desenvolvimento de variedades mais resistentes a pragas, a doenças, à seca e também com maior produtividade. O mapeamento genético do trigo é resultado do esforço de mais de 200 cientistas de 73 organizações de pesquisa diferentes, em 20 países. A variedade selecionada para o sequenciamento foi a Triticum aestivum L., conhecida como “Chinese Spring”, o trigo do pão.
O aguardado mapeamento do genoma do trigo acontece após 16 anos do sequenciamento do arroz (2002), uma década após o sequenciamento do genoma da soja (2008) e 9 anos após o do milho (2009). Com a novidade, os pesquisadores serão capazes de identificar mais rapidamente genes responáveis por características como rendimento, qualidade de grãos, resistência a doenças fúngicas, tolerância à seca e aumento de valor nutricional.
A partir desse conhecimento, por meio da transgenia ou de outras técnicas de melhoramento genético será possível modificar o DNA da planta. Com isso, será mais fácil chegar a variedades com atributos de interesse para os seres humanos. O Consórcio Internacional de Sequenciamento do Genoma do Trigo, por exemplo, utilizou ferramenta CRISPR para editar o DNA do grão. O resultado foi um trigo que floresce alguns dias antes do habitual. Essas pesquisas, entretanto, estão ainda em fase inicial.
“Ao contrário do que muitas pessoas pensam, ainda não há um trigo transgênico ou modificado geneticamente por meio de novas técnicas de edição genética. Entretanto, a experiência com outras plantas nos mostra que as diferentes estratégias de modificação genética podem agregar caracteríticas que beneficiam o meio ambiente, os produtores e os consumidores. O mapeamento do genoma do trigo é mais um passo para que essa cultura também receba uma dessas tecnologias” analisa a diretora-executiva do Conselho de informações sobre Biotecnologia (CIB), Adriana Brondani.
Como o mapeamento genético do trigo ajudará a alimentar o mundo?
Assim como aconteceu no milho e na soja, com o sequenciamento, os cientistas ganham uma ferramenta poderosa para o desenvolvimento de novas variedades. No trigo, esse avanço pode contribuir para o aumento de produtividade do grão sem a necessidade de expansão de áreas de cultivo. Atualmente, com o aquecimento global, a estimativa é que ocorra redução na produtividade dessa cultura. Entretanto, a demanda por esse alimento é crescente, o que torna ainda mais importante o desenvolvimento de novas variedades.
“Os agricultores cultivam milhões de toneladas de trigo por ano mas têm enfrentado dificultades na lavoura. Para atender às demandas futuras de uma população mundial projetada de 10 bilhões até 2050, será necessário cultivar 60% a mais de trigo. Para preservar a biodiversidade, os recursos hídricos e de nutrientes, a maior parte desse aumento deve ser alcançada por meio do aumento de produtividade, não da expansão de área plantada”, argumenta Adriana Brondani.
Genoma do trigo e segurança alimentar
O trigo está na base da alimentação de mais de um terço da população global. Além disso, uma importante fonte de vitaminas e minerais. Entretanto, algumas pessoas são alérgicas a glúten e outras a proteínas do trigo, levando a distúrbios como doença celíaca. Pesquisadores também descobriram que o trigo produz mais dos alérgenos quando cultivado em altas temperaturas, o que sugere que a cultura pode apresentar mais alergênicos à medida que o mundo continua a aquecer.
O mapeamento genético do trigo pode ajudar a identificar os genes responsáveis por expressar as proteínas às quais as pessoas são senvíveis. Nesse cenário, uma alterativa seria “desligar” o gene, por exemplo. Esses avanços revelam o potencial dessas tecnologias para a segurança alimentar. “Acreditamos que, ao entendermos os genes por trás desses alérgenos, os cientistas serão capazes de silenciar os trechos do DNA que as codificam e criar variedades menos alergênicas. Agora, conhecendo 100% do genoma do trigo, todo esse processo poderá ser acelerado”, finaliza Brondani.