Bloomberg: Etanol de cana na Índia pode aumentar riscos de inflação dos alimentos
A Índia pretende que sejam produzidos mais carros movidos a etanol de cana-de-açúcar no país, mas essa medida corre o risco de elevar o custo do adoçante globalmente.
O governo acelerará um programa de etanol que desviará até 6 milhões de toneladas de açúcar para a produção de combustível anualmente até 2025, de acordo com o Ministério da Alimentação. É quase toda a quantidade que a Índia, segundo maior produtor mundial depois do Brasil, exporta atualmente.
O primeiro-ministro Narendra Modi disse em junho que a meta do país é misturar 20% de etanol na gasolina até 2025, cinco anos antes do planejado. As vantagens são múltiplas: reduzir a poluição do ar, as contas de importação de petróleo da Índia, ajudar a diminuir o excesso de açúcar doméstico e aumentar o investimento nas áreas rurais.
Para o resto do mundo, a mudança pode ser a maior em anos para a indústria açucareira e pode levar a uma alta no mercado, segundo o Czapp, novo portal da Czarnikow para análises agroalimentares. Os preços dispararam para o nível mais alto desde 2017 em meio a uma crise de oferta, em parte devido ao mau tempo no Brasil. Um novo aumento aumentará os riscos de inflação dos alimentos, com os custos globais já próximos das máximas de uma década.
É "uma boa notícia para o mundo se a Índia desviar açúcar para produzir mais etanol, pois isso reduzirá o superávit global", disse Rahil Shaikh, diretor-gerente da Meir Commodities India Pvt, uma trading company. "Mas, eventualmente, se houver uma demanda maior, alguns países, incluindo a Índia, terão que expandir a área plantada com cana".
Para cumprir sua meta até 2025, a Índia terá que quase triplicar a produção de etanol para cerca de 10 bilhões de litros por ano, de acordo com o secretário de petróleo do país, Tarun Kapoor. Isso exigirá US$ 7 bilhões em investimentos e o desafio seria criar uma capacidade necessária em um curto período de três a quatro anos.
O governo está oferecendo apoio financeiro para as usinas de açúcar instalarem ou expandir destilarias. Empresas como a Balrampur Chini Mills Ltd. deixarão de produzir açúcar em algumas unidades e começarão a processar o caldo da cana para produzir etanol.
Modelo brasileiro
A Índia está seguindo uma estratégia semelhante à do Brasil, que promove o etanol de cana-de-açúcar há mais de 40 anos para diminuir o excesso de açúcar, reduzir a dependência das importações de petróleo e aumentar a segurança energética. Hoje, o Brasil possui a maior frota de carros flex-fuel do mundo que podem rodar com qualquer mistura de etanol e gasolina.
A Índia também permitirá a produção de motores flex baseados em etanol, informou o Press Trust of India. O maior uso de biocombustíveis no transporte pode aliviar a carga econômica da Índia com os altos preços do petróleo e ajudar o terceiro maior importador de petróleo a economizar US$ 4 bilhões anualmente, de acordo com estimativas do governo.
"Eles vão matar dois coelhos com uma cajadada só", disse Michael McDougall, diretor-gerente da Paragon Global Markets em Nova York. "É um movimento na direção certa".
O plano também cortará os subsídios à exportação de açúcar da Índia em cerca de US$ 500 milhões. O governo ajuda as usinas com falta de dinheiro a aumentar os embarques como uma forma de apoiar os preços locais e aumentar a competitividade das exportações. Rivais, incluindo Brasil e Austrália, reclamaram dos subsídios à Organização Mundial do Comércio.
Este ano, a Índia deve exportar uma quantidade recorde de açúcar novamente com a ajuda de subsídios. Os volumes estão previstos em 6,5 milhões de toneladas.
"O excedente será pequeno após 2025 e a necessidade de exportação não permanecerá em níveis tão altos", disse Abinash Verma, diretor-geral da Indian Sugar Mills Association. "Dependendo dos preços domésticos e globais, ainda pode haver pequenas quantidades de exportação", disse ele, recusando-se a dar uma previsão.
Tradução com informações da Bloomberg