Plano do etanol na Índia pode conduzir mercado do açúcar para um cenário altista, diz relatório
Por Marcelo Teixeira
NOVA YORK (Reuters) - O plano do governo indiano de aumentar gradualmente a mistura de etanol na gasolina, como forma de cortar a poluição e reduzir sua conta com a importação de petróleo, pode ser a maior mudança no mercado global de açúcar desde a reforma do açúcar na Europa e possivelmente conduzir a um mercado altista.
De acordo com um relatório divulgado na segunda-feira pela trader de alimentos e provedora de serviços da cadeia de suprimentos Czarnikow Group, o programa de etanol da Índia levará o governo a encerrar os subsídios à exportação de açúcar e apagar os volumes de açúcar exportável do país, atualmente o segundo maior produtor depois do Brasil.
O analista-chefe da Czarnikow, Stephen Geldart, disse no relatório que o plano da Índia de promover uma mistura de 20% de etanol na gasolina já em 2023, em comparação com apenas cerca de 5% atualmente, levará à produção de 6 bilhões de litros de etanol a partir do açúcar caldo de cana e melaço, “reduzindo a produção local de açúcar em mais de 6 milhões de toneladas”.
“Em 2025, a Índia passará da produção de no máximo 33 milhões de toneladas de açúcar por ano para 27 milhões de toneladas. Com o consumo hoje em torno de 25 milhões de toneladas e com probabilidade de crescer no futuro, a Índia não será mais um grande produtor e exportador de açúcar excedente”, disse o analista.
Mercado menos abastecido
Geldart compara o caso indiano com a reforma da política açucareira europeia entre 2002 e 2008, quando cortes nos subsídios às exportações e na produção no continente levaram a uma forte recuperação do mercado de açúcar.
O relatório afirma que, com o aumento da demanda por gasolina na Índia, até 2030, o país precisará produzir 13 bilhões de litros de etanol para atender à mistura do E20, desviando mais de 10 milhões de toneladas da produção de açúcar.
“Como vimos em 2008, o mercado mundial de açúcar se tornará menos bem fornecido e mais responsivo ao preço”, disse Geldart, acrescentando que o mercado ficará vulnerável a qualquer choque de produção em um dos maiores produtores.
(Edição de Bernadette Baum)