Revisão das estimativas para a safra sucroalcooleira de 2020/21 no Norte-Nordeste

Publicado em 31/03/2021 15:11

Em meio ao início da entressafra da temporada sucroalcooleira de 2020/21 (set-ago) nos estados  produtores do Norte e Nordeste do Brasil, a equipe de Inteligência de Mercado da StoneX traz  revisões para os números finais de safra. Nos últimos meses, as condições climáticas foram o  principal fator de pressão sobre a produtividade dos canaviais, sendo que a escassez hídrica se  mostrou particularmente grande em Alagoas, principal estado produtor da região. 

Além disso, a fabricação de açúcar assumiu protagonismo na temporada, tendo em vista a  dinâmica de preços e maior atratividade da commodity - o que, em conjunto com a apreciação do  dólar comercial, estimulou significativamente as exportações pelo NNE. Ainda assim, é  interessante notar que a destilação de etanol também se manteve relativamente sustentada, em  meio ao fim das cotas de importação isentas de tarifa do álcool em dezembro/20. 

Produtividade agrícola e moagem 

Entre maio e agosto de 2020, período caracterizado pela maior incidência de chuvas no Norte e  Nordeste brasileiro, a umidade se manteve elevada na região, superando o mesmo período de  2019 e a média de longo prazo em 23,4% e 4,0%, respectivamente. Essa dinâmica beneficiou o  rendimento agrícola dos canaviais, aumentando as expectativas quanto a moagem e produção  dos subprodutos da cana em 2020/21. 

No entanto, com o início da safra, entre agosto/20 e setembro/20, as precipitações passaram a se  posicionar abaixo da normalidade. No acumulado entre setembro/20 e a 4ª semana de março/21,  por exemplo, a umidade alcançou 356,4 mm, queda de 11,0% frente à normalidade. 

Esse cenário foi particularmente evidente na Mata Alagoana, que concentra a maior parte das  usinas de Alagoas, onde a diminuição das chuvas em relação à normalidade alcançou 45,8%  desde o início da safra corrente até a última semana, para 182,4 mm. No total das áreas de cana  do estado, por sua vez, as precipitações acumuladas se posicionaram em 184,2 mm (-44,9%). 

Ainda que de forma menos intensa, Pernambuco também observou relativo estresse hídrico nos  últimos meses de 2020. No entanto, o estado recebeu chuvas de 452,6 mm no período  mencionado (set/20-mar/21), o que representa firme avanço anual de 72,4%, além de crescimento  de 1,3% frente à média de 10 anos. 

Mas qual o impacto desta conjuntura climática sobre os canaviais? De modo geral, a estiagem  prolongada corroborou maior necessidade de reposição hídrica dos solos, que atualmente se  posiciona em patamares superiores a 80 mm na maior parte das regiões canavieiras do NNE, de  acordo com dados do Sistema de Monitoramento Agrometeorológico (Agritempo).

Dessa forma, observou-se diminuição da saúde da vegetação, mensurada a partir do Índice de  Saúde Vegetal (ISV)*, que pondera os efeitos da temperatura e umidade sobre as culturas  agrícolas. Desde meados do último ano, o indicador tem traçado tendência majoritária de queda,  posicionando-se em 32,5 pontos na média da 1ª quinzena de março – diminuição de 26,8% frente  ao início de setembro e de 17,5% ante a média de 10 anos. 

Por isso, diminuímos em 5,9% nossa projeção de moagem para a região em 2020/21, para 51,6  milhões de toneladas, volume que também representa uma queda safra-a-safra de 1,5%. 

*Varia de 0 (estresse extremo) a 100 (saúde plena) 

Qualidade da matéria-prima 

Apesar da queda observada na umidade nos últimos meses, dinâmica que poderia contribuir para  a sustentação do ATR médio dos canaviais, espera-se que o indicador diminua frente ao  inicialmente projetado pela StoneX – dinâmica que, em parte, se deve à umidade acima da média  observada durante o período de desenvolvimento vegetativo dos canaviais. Especificamente,  estimamos que a concentração de açúcares no colmo da cana alcance 130,8 kg/t, queda de 1,9%  ante a 2019/20, safra marcada por significativo déficit hídrico. Apesar disso, é interessante  observar que esse valor se posiciona em linha com a média das 03 últimas temporadas. 

A conjunção entre diminuição da moagem e do ATR médio deve levar o ATR total – isto é, a  quantidade de açúcares recuperáveis que serão processados pela indústria – para 6,7 milhões de  toneladas, retração de 3,3% no comparativo com o ciclo anterior. 

Mix e produtos da cana 

Assim como ocorreu no Centro-Sul, observou-se maximização do mix açucareiro pelas usinas do  NNE em 2020/21. Desde o início do ciclo atual na 2ª região, o Brasil continuou assumindo  protagonismo no mercado de açúcar, destacando-se como um dos únicos players com oferta e  capacidade logística de suprir o mercado internacional. 

Tanto que, no acumulado da temporada corrente até fevereiro, unidades produtoras do Norte e  Nordeste direcionaram pouco menos de 1,2 milhão de toneladas da commodity a compradores  internacionais, superando mesmo período de 2019/20 em 29,8% - volume que também representa  aumento de 54,1% em relação à média das últimas 03 safras. 

Para além disso, os elevados patamares de preço do açúcar no mercado internacional  corroboraram a sustentação das cotações domésticas do produto, que se mantiveram operando  com prêmio frente ao etanol. Em Pernambuco, por exemplo, o VHP exportação atingiu média de  R$ 88,90/sc na média da safra até então, ao passo que, no mesmo período, o hidratado  comercializado no mercado doméstico foi cotado a R$ 66,23/sc de VHP-equivalente. 

É interessante notar, também, que o açúcar se manteve atrativo no mercado doméstico  pernambucano e alagoano – dinâmica em parte influenciada pela própria remuneração elevada  da variedade destinada ao exterior. Indicativo de preços da StoneX mostra que, desde  setembro/20, o Cristal 150 se valorizou em 23,4% em Pernambuco, para R$ 116,11/sc, e alcançou  R$ 111,90/sc em Alagoas (+28,3%).

Dessa forma, projetamos um mix açucareiro de 46,1% no ciclo 2020/21 do NNE, proporção que  representa crescimento de 3,3 p.p. em relação ao anterior – levando a fabricação da commodity  para volume próximo a 3,0 milhões de toneladas (+4,1%). Ainda assim, é interessante notar que  a diversificação da cana para a produção de açúcar não superou máximas recentes, tais como o  mix observado em 2016/17, de 54,1%. 

Essa dinâmica reflete a produção relativamente sustentada de etanol, especialmente em meio ao  fim das cotas de importação de álcool isentas de tarifação de 20% em dezembro/20, o que limitou  a entrada de produto oriundo dos Estados Unidos no país, e retomada do consumo de  combustíveis do Ciclo Otto no período recente.  

No entanto, é importante ponderar que, apesar das internalizações do biocombustível proveniente  dos Estados Unidos terem diminuído desde o ano passado, houve mudança de tradeflow com a  não renovação das cotas, refletindo maior compra do produto oriundo do Paraguai – país membro  do Mercosul e que, portanto, está isento do imposto citado, tornando-o mais competitivo no  mercado brasileiro. 

Nesse sentido, projeta-se que aproximadamente 2,1 milhões de m³ do biocombustível sejam  fabricados por usinas do NNE, volume que representa queda de 9,0% no comparativo safra-a safra. Deste total, 1,2 milhão de m³ devem representar a produção de hidratado (-17,3%) e 970 mil m³ a destilação de anidro (+3,4%). 

 

Fonte: StoneX

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Produtores de cana e industriais do Nordeste reiteram durante evento em Maceió importância da inclusão da classe produtiva no Renovabio
Chuva na colheita do Brasil dá suporte de alta após grande pressão no açúcar
NovaBio: Brasil precisa urgente definir políticas que incentivem e privilegie a produção de combustível limpo
Açúcar avança mais de 2% após Unica informar retração na safra do Centro-Sul
Unica: Chuvas impactam o ritmo de colheita na primeira quinzena de julho
Após dias de pressão, açúcar tem leve respiro e avança mais de 1%