Setor de açúcar do Brasil terá desalavancagem com maior geração de caixa, diz Itaú BBA
O setor de açúcar e etanol do Brasil está em uma fase de redução da alavancagem com aumento forte das receitas, especialmente por boas vendas antecipadas fechadas para exportação do adoçante com um câmbio favorável, e deve ainda ser capaz de realizar investimentos, avaliaram nesta terça-feira especialistas do Itaú BBA.
"Estamos em ano de importante desalavancagem, a receita vai crescer mais rápido que investimentos, a receita cresce bastante, a geração de caixa cresce bastante, investimento crescendo de forma mais comedida em relação ao ano passado até porque o ano foi desafiador (pela pandemia)... (mas) é um ano de importante desalavancagem", disse a jornalistas o diretor de Agronegócios da instituição financeira, Pedro Fernandes.
Segundo o executivo, o bom momento para o setor deve se estender para os próximos anos, com base no elevado patamar de antecipação nas vendas.
"Assim como a próxima safra também será (de desalavancagem), o câmbio deve ficar relativamente estável no ano que vem, o setor estará bem financeiramente em março de 2021 e estará bem em março de 2022, e dado o nível de fixação futura, independentemente de eventuais oscilações de preço do açúcar, acho que são anos em que o setor se recapitaliza", acrescentou.
Ele disse que o preço da cana "vai subir um pouco, mas a receita cresce mais", o que favorece a geração de caixa e a capacidade de aumentos de investimentos e desalavancagem.
"Nesta safra, veremos um aumento de receita de duplo dígito, vemos as empresas gerando muito mais caixa", afirmou Fernandes, citando custos "controlados" de diesel e mão de obra na safra atual (2020/21).
"Tem uma sobra importante de recursos aqui."
Na safra 2019/20, um levantamento do Itaú BBA com 59 grupos do centro-sul, que representam moagem de quase 350 milhões de toneladas, apontou aumento na receita líquida para 61,8 bilhões de reais, ante 55,5 bilhões na temporada anterior.
A geração de caixa medida pelo lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) foi apontada em 15 bilhões de reais em 2019/20, ante 12,3 bilhões no ciclo anterior.
Já o investimento aumentou para 10,3 bilhões de reais, o maior nível de capex em sete safras, ante 8,3 bilhões de reais em 2018/19.
Segundo Fernandes, isso foi feito via geração de caixa, o que mostra um cenário em que parte do setor deixou de "se servir dos ativos" para uma fase de extrair o máximo das unidades, via investimentos.
A dívida líquida aumentou 13% entre a safra 2018/19 e a 2019/20, para 51 bilhões de reais, mas o diretor do Itaú BBA afirmou que isso é explicado pela variação cambial, com muitos grupos ainda carregando endividamento em dólar.
De outro lado, lembrou ele, o Ebitda aumentou mais de 20%, ou seja, mais que o endividamento.
O Itaú BBA dividiu os grupos de usinas entre aquelas mais resilientes e aquelas ainda em situação financeira pior, e destacou que a maior parte dos investimentos, ou quase 8 bilhões de reais, foram realizados pelos grupos A e B.
"Setenta por cento desses grupos A e B já estão em expansão... estão agregando valor à atividade, de começar a pisar no acelerador, é um ótimo sinal...", afirmou ele.
O executivo apontou ainda que o mundo está caminhando na safra 2020/21 para o terceiro déficit de açúcar no mercado consecutivo, um cenário construtivo para preços.
M&A
"Os preços do açúcar seguem atraentes para partir para investimentos, o que explica a animação do setor", concluiu Fernandes.
Sobre fusões e aquisições (M&A) do setor, ele disse acreditar que, muito mais que um ciclo de consolidação, "vamos ver uma história de consolidação mais regional".
"Apesar dos preços remuneradores, não vemos um movimento grande dos grupos saírem de sua área de atuação, com movimentos agressivos, é muito mais aumentar um pouco o ritmo de capacidade de moagem", comentou.