Usina histórica impulsionará pesquisas tecnológicas no agronegócio de SP
Após longa recuperação judicial, a unidade passa por um processo de revitalização que a transformará, a partir de fevereiro, em um centro empresarial capaz de abrigar até 60 novas companhias especializadas em tecnologias para a agricultura, além de facilitar o acesso a investidores e mercados.
Ocupando um terreno total de 427 mil metros quadrados estrategicamente posicionado no coração do Vale do Rio Piracicaba, o novo empreendimento, orçado em R$ 75 milhões, já concluiu a sua primeira fase de remodelagem e dispõe, até o momento, de estrutura para alimentação, realização de eventos e escritórios que já abrigam empresas dos segmentos de paisagismo, fotografia, comunicação, entre outros. A segunda fase do projeto prevê a construção de um ambiente de trabalho integrado, centro de convenções, auditórios e hotel.
O diretor Técnico da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), Antonio de Padua Rodrigues, enfatiza a relevância da iniciativa para o agronegócio brasileiro, especialmente para o segmento canavieiro, que tem em São Paulo o seu principal polo produtivo. “O Brasil é sinônimo de inovação tecnológica no campo, o que vem atraindo cada vez mais startups de tecnologia a este segmento. Esta ‘usina empresarial’ certamente possibilitará um suporte ainda maior às diversas oportunidades de negócio que estão nascendo nessa área. Com a implementação deste projeto, Piracicaba reafirma, mais uma vez, o seu protagonismo na história da agricultura paulista, em particular no setor canavieiro”, afirma.
O gestor de Inovação da Usina, Pedro Fernandes Chamochumbi, reforça as palavras do executivo da UNICA: “Piracicaba configurou-se, ao longo de sua história, como um dos centros de inteligência do agronegócio mundial. Nossa expectativa é reunir empreendedores, startups, investidores, fundos, academia, terceiro setor (ONGs e entidades filantrópicas), institutos de pesquisa, multinacionais e produtores com perfil colaborativo, o que contribuirá para o desenvolvimento da agricultura de precisão e a chamada internet das coisas no campo”.
DNA sucroenergético
Distante cerca de 164 quilômetros da capital paulista, Piracicaba, cujo significado na língua tupi é “lugar onde o peixe para”, guarda em seu DNA toda a evolução vivida pelo setor sucroenergético brasileiro desde que os primeiros engenhos de cana surgiram no País.
Fundada no século XVII como ponto de apoio de embarcações que desciam o rio Tietê, Piracicaba, ainda um povoado, já tinha o cultivo canavieiro como uma de suas principais atividades econômicas. Pesquisas históricas indicam como se deu a rápida expansão dos engenhos antes da Revolução Industrial: três em 1778, nove em 1799 e 78 em 1896. Em 1900, a região já era maior produtora de cana da América do Sul. Justamente nesta época surgiu a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), hoje pertencente à Universidade de São Paulo (USP) e uma das mais respeitadas instituições de ensino do agronegócio mundial.
Algumas décadas depois, nos anos 1920, foi erguida a usina Monte Alegre, a primeira grande fábrica da região a processar a cana em escala industrial. Com o mesmo nome do bairro fundado por imigrantes italianos que à época trabalhavam em pequenas fazendas de açúcar existentes no local, a unidade, fechada na décadas de 1980, proporcionou um rápido desenvolvimento para cidade. Para ser ter uma ideia, em 1938, a intensa movimentação de mão-de-obra empregada na produção de cana levou à construção da primeira locomotiva a vapor do País constituída por peças 100% nacionais, todas fabricadas nas dependências da Monte Alegre, que ao todo abrangia uma área de 427 mil metros quadrados.
Piracicaba também é sede do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), que desde 1969 vem estudando variedades de cana mais produtivas e atualmente é considerado uma referência mundial em pesquisas de novas tecnologias que agreguem ainda mais valor aos derivados açúcar, etanol e bioeletricidade. As inovações geradas pelo CTC nos últimos 42 anos renderam um aumento de produtividade de aproximadamente 40% no campo, enquanto que na indústria registrou-se um salto de 2,6 mil litros de etanol por hectare para mais de 7 mil litros por hectare. Em relação aos custo de produção, houve uma queda de R$ 3,00 para menos de R$ 1,00 por litro de etanol.
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