Estiagem e quebra na produtividade agrícola reduzem oferta de cana para a safra 2014/2015 na região Centro-Sul do País
A União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), em conjunto com os demais sindicatos e associações de produtores da região Centro-Sul e o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), anunciou hoje sua estimativa para a safra 2014/2015 de cana-de-açúcar. A projeção indica uma moagem de 580,00 milhões de toneladas, redução de 16,94 milhões de toneladas em relação ao total processado na última safra, que somou 596,94 milhões de toneladas.
A estimativa divulgada incorpora um crescimento de área disponível para colheita, mas uma queda significativa na produtividade agrícola do canavial, fruto do longo período de estiagem observado no final de 2013 e início de 2014.
Os dados apurados e compilados pela UNICA, bem como o mapeamento da lavoura a partir de imagens de satélite, indicam um aumento em torno de 5% na área disponível para colheita na safra 2014/2015. Esse crescimento decorre da menor renovação do canavial (queda do plantio de 18 meses) e do significativo volume de cana-de-açúcar não processada na safra 2013/2014 - a chamada cana bisada, que deve representar cerca de 3% da área a ser colhida em 2014/2015.
Para o diretor técnico da UNICA, Antonio de Padua Rodrigues, “a retração no nível de renovação dos canaviais no início deste ano reflete a difícil situação financeira vivenciada pelo setor produtivo, com muitas unidades sem condições de investir na lavoura.” Apesar de ampliar a área de colheita nesta safra, esse movimento deve elevar a idade média do canavial no próximo ano, com impacto negativo sobre o volume de matéria-prima disponível para moagem em 2015/2016, acrescentou o executivo.
Em relação à produtividade agrícola, as informações disponíveis até o momento indicam que o rendimento da área a ser colhida na safra 2014/2015 poderá apresentar queda próxima a 8% na comparação com o último ano, quando o índice atingiu 79,8 toneladas de cana-de-açúcar por hectare. Como a queda na produtividade agrícola deverá ser superior ao aumento da área de colheita, o volume de cana-de-açúcar processado na safra 2014/2015 deverá ficar 2,84% aquém daquele verificado em 2013/2014.
Segundo o diretor da UNICA, “no início de dezembro o aspecto visual da lavoura de cana-de-açúcar era muito bom, mas a seca intensa observada ocorreu exatamente no período de maior desenvolvimento da cana”. Essas condições geraram um quadro bastante heterogêneo e dificultaram a estimativa de quebra da produtividade, que pode ser nula em algumas regiões e atingir mais de 15% em outras, acrescentou o executivo.
Número de unidades em operação
Seguindo preocupante tendência observada nos últimos anos, pelo menos 10 unidades produtoras podem confirmar a paralisação das atividades na safra 2014/2015. Dessa forma, apesar de uma nova unidade prevista para iniciar a moagem, o número total de usinas na região Centro-Sul deverá ser novamente reduzido este ano.
Segundo Rodrigues, “o cenário é preocupante: além das 10 usinas que poderão fechar, existem mais de 30 unidades em processo de recuperação judicial e várias outras com condição financeira bastante delicada”.
Qualidade da matéria-prima
A projeção para a quantidade de Açúcares Totais Recuperáveis por tonelada de cana-de-açúcar é de 135,00 kg na safra 2014/2015 contra 133,33 kg verificados no último ano.
Essa expectativa reflete a previsão de clima mais seco nos primeiros meses desta safra na comparação com as condições observadas em 2013, que apresentou índice de precipitação pluviométrica acima da média histórica no período de março a junho.
Produção de açúcar e de etanol
Do total de cana-de-açúcar a ser processada na safra 2014/2015, a UNICA estima que 56,44% deverá ser destinada à produção de etanol, expressivo aumento de 1,66 ponto percentual em relação ao valor registrado na safra 2013/2014.
Com isso, a produção de açúcar projetada é de 32,50 milhões de toneladas, queda de 5,23% no comparativo com a quantidade apurada na safra 2013/2014 de 34,29 milhões de toneladas.
Esse cenário fundamenta-se na expectativa de que a menor demanda por açúcar no mercado físico, a necessidade de liquidez por parte das unidades produtoras com problemas financeiros e a atual receita obtida com a venda de açúcar, que é inferior àquela proporcionada pelo etanol, possam levar a um mix de produção mais alcooleiro.
De acordo com o diretor da UNICA “as cotações futuras do açúcar no mercado internacional e do etanol no mercado doméstico indicam uma receita favorável ao biocombustível atualmente.” Para que esse quadro se reverta, é necessária uma queda significativa e pouco provável do preço do etanol ou, de forma equivalente, uma elevação do preço do açúcar em reais, acrescentou o executivo.
Nesse contexto, a produção esperada de etanol deverá atingir 25,87 bilhões de litros, leve aumento de 1,20% no comparativo com os 25,57 bilhões verificados na safra 2013/2014. Deste montante, 14,63 bilhões serão de etanol hidratado e 11,25 bilhões de litros de etanol anidro.
Os dados de produção estimados indicam, portanto, que a retração esperada na moagem de cana-de-açúcar não terá impacto na oferta de etanol ao mercado doméstico. Esse cenário poderá ser ainda mais positivo se houver um aumento na mistura de etanol anidro na gasolina para 27,5% a partir de 1º de julho.
“Se o nível de mistura for alterado, podemos observar uma queda ainda maior na produção de açúcar, com menor necessidade de importação de gasolina”, acrescentou Rodrigues.
Nesse ano diversos fatores ampliaram a complexidade e a dificuldade para a obtenção da estimativa da safra 2014/2015 divulgada, exigindo um maior monitoramento das condições esperadas ao longo do ano.
“Na área técnica-operacional, ainda existem dúvidas a respeito do efeito da seca observada no início de 2014 sobre a produtividade agrícola, e quanto à possibilidade de clima mais chuvoso no segundo semestre. No campo econômico, há incerteza sobre as condições futuras no mercado de açúcar e a expectativa de mudanças no mercado doméstico de etanol, com a possibilidade de aumento do nível de mistura e alguma correção no preço da gasolina até o final da corrente safra”, explicou Rodrigues.