Soja: "Excesso" de agora será única oferta disponível no mundo nos próximos meses. E os preços?

Publicado em 03/03/2023 13:14 e atualizado em 03/03/2023 13:52

Os preços da soja no mercado nacional, nesta sexta-feira (3), estão de R$ 1,00 a R$ 2,00 por saca melhores do que ontem e são momentos como estes que o produtor brasileiro deve manter em seu monitoramento e aproveitá-los caso precise avançar com suas vendas, como explicou o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, consultor da Brandalizze Consulting. As altas podem parecer tímidas, mas em um momento onde a pressão de uma grande safra sendo colhida podendo se intensificar nas próximas semanas, elas se tornam bastante relevantes. 

"O produtor tem de ir aproveitando estes picos, porque ainda deveremos passar mais uns 70 dias de muita turbulência até escoarmos toda essa soja que vem por aí", orienta o especialista. Na semana que vem, ainda segundo ele, o Brasil todo deverá estar colhendo soja - apesar dos problemas que são pontualmente registrados, ainda pelo excesso de chuvas ou pela falta delas - e o volume sendo disponibilizado da oleaginosa no mercado deverá ser ainda maior. 

Nos cálculos da consultoria, o Brasil comercializou apenas 35% de sua safra 2022/23 - aproximadamente 50 milhões de toneladas - o que deixa o quadro um pouco mais intenso. Afinal, como já registrado pelo Notícias Agrícolas, o esgotamento da logística brasileira diante de um aumento de produção como este tem sido o principal problema e o principal fator de pressão sobre as cotações. 

Assim, o volume de soja que deveria ser negociado agora no Brasil, semanalmente, de cinco milhões de toneladas, está sendo de apenas dois milhões. "Na semana do carnaval, o Brasil negociou apenas 500 mil toneladas. Nesta semana caminhamos para fechar com algo entre dois milhões, dois milhões e meio, podendo chegar até a três. Mas ainda é pouco" explica Brandalizze. Ele complementa dizendo que de março ao começo de junho o país deveria negociar cerca de 50 milhões de toneladas para trazer algum equilíbrio ao mercado, mas isso pode não acontecer.

"E o comprador sabe disso", diz ainda. A posição um pouco mais confortável deixa os negócios mais contidos agora, porém, talvez sem contabilizar que, mais a frente, a única oferta disponível - em especial para o exportador - deverá ser no Brasil. Os estoques nos Estados Unidos estão bastante ajustados dado o seu acelerado programa de exportação, e a na Argentina, as perdas na safra se intensificam, com um espaço cada vez maior de uma produção da oleaginosa de menos de 30 milhões de toneladas por conta da estiagem. 

MAIOR SAFRA DO BR JÁ NÃO COMPENSA PERDAS NA ARGENTINA

"As informações dos últimos dez dias são muito ruins em termos de safra", informa o diretor geral do Grupo Labhoro, Ginaldo Sousa. "Já se fala abertamente de uma safra abaixo de 30 milhões de toneladas. A soja do cedo perdeu 50% e a do tarde vai na mesma tendência. O que o Brasil está colhendo a mais este ano, em relação ao ano passado, não cobre mais, como até semana passada falamos, as perdas da Argentina", completa.

Assim, Sousa afirma que este se trata de um importante pilar de suporte para as cotações da oleaginosa na Bolsa de Chicago, bem como de seus derivados. Ao lado deste fator está ainda o atraso na colheita brasileira, "atrasando os embarques nos portos, forçando a China comprar soja nos portos americanos".

Em seu boletim desta semana, a Bolsa de Cereais de Buenos Aires voltou a elevar o índice de lavouras de soja em condições ruins ou péssimas, desta vez de 60% para 67%. Atualmente, a instituição estima a safra do país em 33,5 milhões de toneladas, mas já considerando novos cortes em suas estimativas.

De acordo com dados da Bolsa de Comércio de Rosário, a Zona Núcleo, na Argentina, deverá produzir apenas 33% do inicialmente estimado para a região e sua projeção, em fevereiro, caiu para apenas 6,5 milhões de toneladas. "Lamentavelmente, não há chuvas que permitam colocar um piso definitivo na produção. A situação é muito grave e pode piorar ainda mais. Se acredita ser esta a pior safra desde 2008/09", informa o reporte da bolsa. 

Gráfico: Bolsa de Comércio de Rosário

Os próximos dias deverão continuar sendo de tempo adverso para a produção agrícola da Argentina com a chegada prevista de uma nova onda de seca e calor no país. E também pela falta de umidade, diversos tratos culturais não foram possíveis e a proteção contra pragas e doenças também ficou defasada, agravando ainda mais as perdas na safra 2022/23, como ilustra o gráfico abaixo, também da Bolsa de Comércio de Rosário. 

Gráfico: Bolsa de Comércio de Rosário

POUCA SOJA NOS EUA

Enquanto isso, nos Estados Unidos, o aperto da oferta é também considerável. Com um programa de exportação bastante acelerado, o país já comprometeu 90% do que estima para as exportações do ano comercial 2022/23 - 54,16 milhões de toneladas - e ainda tem a frente mais 24 semanas do ano comercial. Assim, como explicou o diretor do SIM Consult, Liones Severo, o país só poderia vender cerca de 221,791 mil toneladas por semana até o final da temporada. 

"A análise que se apresenta é se em 28 (54%) semanas das 52 (100%) do ano safra comprometeram 90% do volume em vendas para a exportação, o quanto irão vender dos restantes 10% do volume nas próximas 24 (46%) semanas faltantes para vencer o ano safra?. Oferta potencial de soja só existe no Brasil", afirma Severo.

O LADO DO MAIOR COMPRADOR DO MUNDO

Dos 18 barcos que a China comprou nesta semana até a quinta-feira (2), segundo levantamento da Agrinvest Commodities, dois foram nos EUA para outubro e o restante no Brasil. A nação asiática olha mais para frente, uma vez que para março está 100% coberta, para abril 60% para maio, perto de 25%. 

"A China está curta de soja. Nas últimas quatro semanas, embarcou entre Brasil e EUA, 8,4 milhões de toneladas. O problema é que os embarques nos EUA irão cair para quase zero nas próximas semanas e, no Brasil, não devem engrenar muito. O lineup do Brasil em nome da China mais 50% na posição de 'desconhecido' ainda é muito pequeno. Provavelmente, o recebimento de soja na China vai cair muito no início de abril, o que vai continuar jogando para baixo seus estoques internos", explica o analista do complexo soja, Eduardo Vanin, da Agrinvest. 

Nas últimas três semanas, como complementa Vanin, os estoques chineses de soja caíram dois milhões de toneladas para 4,3 milhões. 

Assim, a China sabe que precisa vir a mercado, virá, e seguirá buscando o produto mais competitivo, uma vez que as margens da indústria não têm sido das melhores agora. Ainda segundo levantamento da consultoria, "nesta semana, os basis do farelo de soja recuaram 100 renminbis para o spot, março e abril. Para entrega maio, recuaram 20 RMB. As margens não estão boas e o processamentoo, provavelmente, será menor do que o esperado para o trimestre fevereiro a abril", detalha Vanin. 

Como o Brasil vai se encaixar neste quebra-cabeça é fácil entender. O monitoramento será sobre qual o valor das peças nos próximos meses. 

Por: Carla Mendes | Instagram @jornalistacarlamendes
Fonte: Notícias Agrícolas

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