Por que os produtores brasileiros não estão vendendo soja 2021/22?

Publicado em 06/08/2021 16:35 e atualizado em 06/08/2021 17:11

A comercialização da safra 2021/22 de soja do Brasil mostra um ritmo bem mais contido do que o observado há um ano, quando mais de 40% da oleaginosa nacional já havia sido comprometida com vendas e a uma média de preços mais modesta do que esta que tem sido registrada para o início desta nova temporada. 

E mesmo diante destes bons indicativos - que deram espaço, inclusive, para boas relações de troca, os sojicultores seguem reticentes, até mesmo frente aos altos custos de produção, que exigem estratégias eficientes e conscientes para que os produtores possam otimizar seus resultados. 

A consultoria Safras & Mercado estima a nova safra de soja do Brasil em 142,236 milhões de toneladas, eum uma área que pode alcançar 39,820 milhões de hectares. Deste volume projetado, 23,7% já foi comercializado, contra 43,3% de 2020 e 20,6 da média das últimas cinco safras. 

Para Luiz Fernando Gutierrez, analista de mercado da consultoria, os preços da safra velha e nova estão semelhantes, o que daria espaço ao produtor para avançar um pouco mais com suas vendas. "Sabemos que o custo subiu, mas os preços são remuneradores, as margens ainda estão boas com estes preços que temos hoje", diz. 

Parte deste comportamento se deve ainda ao receio do produtor em participar do mercado e ele se tornar tão agressivo em 2022 como aconteceu em 2021. "Temos isso e a visão fundamentalista de escassez do grão", explica Matheus Pereira, diretor da Pátria Agronegócios, que aponta que este, depois dos últimos acontecimentos, é um comportamento natural do setor diante dos atual cenário.

"Nós aqui na Pátria acreditamos que 2022 será de um mercado muito promissor para a soja. Não só a escassez do grão permanece para a balança de oferta e demanda para o ano que vem, mas temos também esse forte viés de altas cambiais aqui no Brasil com todas essas complicações políticas frente a eleições em 2022, que deve ser bastante conflituosa e que pode gerar bastante receio, principalmente para o investidor internacional que tenta olhar para o Brasil como uma forma de investimento", explica. 

Em contrapartida, Pereira afirma ainda que o produtor que opta por segurar um pouco mais suas vendas da safra nova precisa estar consciente, principalmente, sobre a necessidade de ter uma receita saudável para chegar na temporada 2022/23 sabendo que os custos, que já subiram forte para esta nova safra que se inicia em pouco mais de um mês, "serão exorbitantemente altos". 

O diretor da Pátria destaca a elevação dos custos de importação e distribuição de fertilizantes e químicos, além de outras frentes.

"E esse é recado especialmente para aqueles produtores que deixaram para fazer aquisição de seus insumos na boca de plantio. È necessário muita cautela e uma assessoria qualificada para direcioná-los e orientá-los, dando segurança ao produtor rural", afirma. E o especialista ainda lembra o produtor da necessidade das proteções finananceiras. 

A estimativa da consultoria é de uma colheita de 144,77 milhões de toneladas, com produtividade média de 59,06 sacas por hectare, rendimento 0,8% menor do que o da safra 2020/21. Por outro lado, a Pátria estima um aumento de área de 6,7% na comparação anual, onde o cultivo da oleaginosa poderia alcançar os 40,85 milhões de hectares. 

O QUE MAIS PUXOU OS CUSTOS DE PRODUÇÃO?

Os fertilizantes. Em um recente levantamento feito pelo Notícias Agrícolas estado a estado sobre os custos de produção da safra 2021/22 - não só na soja, mas também para milho primeira e segunda safras - foi unânime a resposta dos especialistas quando questionados o que mais poderia encarecer a nova temporada. 

E os preços, desde este levantamento, vieram subindo ainda mais frente a um cenário apertado de oferta e demanda para os fertilizantes, com problemas sendo enfrentados pelas suas fontes de matérias-primas e o dólar ainda alto frente ao real. Esse movimento, assim, veio também provocando uma deterioração das relações de troca para o produtor brasileiro. 

"Temos um cenário bem ruim, o KCl não para de subir. A ureia foi quem deu algum alívio ao m milho 2022 nos últimos dias", explica Jeferson Souza, analista de fertilizantes da Agrinvest Commodities. 

Gráfico: Agrinvest Commodities

Os gráficos abaixo, da Agrinvest, mostram o quadro das relações de troca entre soja e fertilizantes, com destaque para o cloreto de potássio - na primeira imagem -, com 24,80 sacas por tonelada do produto, nível bem acima do intervalo histórico e do registrado nos últimos três anos. No MAP/DAP sao 26,97 sacas/tonelada; no 00-18-18, 18,48 sacas/t e no Super Simples, 12,48 scs/t, todos os três também acima do intervalo. 

Na sequência, as relações entre milho safrinha versus KCl e MAP, com base Sorriso, em Mato Grosso. A linha azul refere-se à segunda safra do cereal para o ano que vem já se aproximando do observado para a safrinha 2020 e superando a safrinha 2021. 

Ainda segundo relata Souza, as importações de fertilizantes aumentaram 12% nos primeiros sete meses de 2021 em comparação com o mesmo período de 2020. "A pergunta é: esse aumento será suficiente para atender à demanda brasileira?", questiona o analista. 

Importação de Fertilizantes - Gráfico: Agrinvest Commodities

ESTADO A ESTADO

Mato Grosso - Em Mato Grosso, o gestor técnico do Imea (Insitituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária), Cleiton Guaer, estimou um custo maior em pelo menos 15% para a safra 2021/22. O incremento é motivado ainda pela elevação das sementes de soja, a valorização do dólar, fertilizantes e defensivos. 
Relembre a entrevista:

O Imea estima a safra 2021/22 do estado em 37,41 milhões de toneladas, com um aumento de área esperado em 0,27%, ou 29,270 mil hectares em relação a 2020/21. 

Mapa: Imea

"Essa estimativa de elevação na área se deve à aproximação da temporada de plantio do grão e às perspectivas favoráveis para a oleaginosa, além de que a demanda, em nível
mundial, continua estável. Porém, é importante considerar que as condições climáticas próximas ao plantio serão decisivas para a concretização das projeções e para umpossível aumento dos números", diz o último reporte do instituto.

Mato Grosso do Sul - Para Mato Grosso do Sul, as estimativas não são diferentes, como explicou o gerente técnico da Famasul (Federação de Agricultura do Estado de Mato Grosso do Sul), José Pádua, que destacou também a comercialização antecipada mais contida para esta nova temporada em sua entrevista ao Notícias Agrícolas. 

Goiás - EM Goiás, o analista técnico do Ifag (Instituto para o Fortalecimento do Agronegócio de Goiás), Leonardo Machado, a safra 2021/22 deve apresentar um incremento nos custos de produção da soja de pelo menos 23% ao se comparar com a safra anterior. 

"Se consideramos somente o custo operacional efetivo a soja está exigindo mais de R$ 4 mil o hectare. Mesmo com o aumento no preço do grão, teremos, consequentemente, temos altas nos custos", diz. E o que mais puxou essa elevação foi, "inevitavelmente, os fertilizantes, que compõem, na nossa estimativa, 38% do custo do produtor", complementa Machado.

Reveja:

E também como nos demais estados, apesar da elevação nos custos, os preços ainda se mostram remuneradores, porém, as vendas são mais tímidas do que as do ano passado. 

Paraná - A safra 2021/22 de soja do Paraná deverá ter custos de produção de 45% a 50% mais elevados, variando entre R$ 3800,00 e R$ 4000,00 por hectare para o produtor que é dono da terra. Segundo Dilvo Grolli, diretor presidente da Coopavel, esse custo diante de um preço de comercialização de R$ 140,00 e com uma produtividade média de 3800 kg/ha resultará em uma rentabilidade ao produtor do estado na casa de 130%. 

"Mesmo que os custos tenham subido entre 45 e 50%, temos que ver que a soja, no período de um ano, também subiu 40%, o valor por saca", explica. E tradicionalmente, o Paraná deverá seguir investindo mais na oleaginosa durante a safra de verão, mesmo diante de um déficit de milho que já está confirmado no estado. 

Rio Grande do Sul - No Rio Grande do Sul, além da alta do orçamento da safra 2021/22, puxada, principalmente, pelos fertilizantes, o alerta fica também para a formação dos preços. Em entrevista ao Notícias Agrícolas em 15 de junho, o economista chefe da Farsul (Federação de Agricultura dos Estados Unidos), Antônio da Luz, já chamava atenção dos produtores sobre o fato de "os preços altos de hoje podem não ser altos para safra nova diante da alta dos custos". 

Entre os insumos que já subiram estão fertilizantes, agroquímicos e sementes. Entre os que podem subir, combustíveis e energia elétrica. Para o produtor gaúcho, atenção ainda ao elevadíssimo custo da terra.

Santa Catarina - No estado de Santa Catarina, os custos da safra 2021/22 de soja deverão apresentar alta de 30%, e o insumo que mais pesa na orçamentação da nova temporada, como não poderia ser diferente, é o fertilizante, como explicou Haroldo Elias Tavares, analista do Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola da Epagri. Ainda assim e apesar de um sério déficit de milho pelo qual passa o estado, a oleginosa ainda tira parte da área de milho na safra verão. 

Bahia - Na Bahia, os fertilizantes e defensivos são os insumos que mais deverão puxar a elevação dos custos da nova temporada, os quais deverão apresentar uma elevação de pelo menos 20%, como relatou o executivo da AIBA (Associação dos Agricultores Irrigantes da Bahia). 

Ainda assim, estado deve registrar importante incremento de área na nova temporada, com produtores estimulados pelo atual cenário de oferta e demanda e, consequentemente, de preços.

Por: Carla Mendes
Fonte: Notícias Agrícolas

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