Emmanuel Macron nunca nem viu um pé de soja! E quer ser independente?

Publicado em 13/01/2021 12:12 e atualizado em 13/01/2021 16:07

 

No último dia 14 de dezembro, a Abiove (Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais) deu uma coletiva de imprensa trazendo dados importantes que ilustravam como a produção de soja no Brasil está cada vez mais distante do desmatamento na Amazônia. De acordo com os dados de monitoramento do programa de Moratória da Soja, o aumento do cultivo da oleaginosa em áreas em desacordo com a moratória, de 23%, foi o menor em termos percentuais dos últimos 8 anos. São 108,409 mil hectares, ou apenas 2%, dos 5,4 milhões que são cultivdos com a soja no Bioma Amazônia. 

Fonte: Abiove

Em entrevista ao Notícias Agrícolas no mesmo dia, o presidente da associação, André Nassar, detalhou ainda mais a responsabilidade da sojicultura nacional. 

"Esse número da Moratória da Soja mostra que a expansão de soja entre 2018 e 2019 para a safra 2019/20 no Bioma Amazônia foi mais intensamente em áreas já abertas e não em áreas novas. Então, realmente, o produtor expandiu muito a área de soja, mas muito mais em áreas abertas e eu vejo isso como uma vitória para nós, porque a soja pode continuar e deve continuar crescendo no Bioma Amazônia, gerando todo desenvolvimento que ela gera, mas em áreas abertas antes de 2008 e a safra 2020 comprovou que isso é possível", disse. 

Fonte: Abiove

Relembre:

+ Abiove: Soja cultivada em área em desacordo com a moratória tem menor incremento em 8 anos

+ Abiove estima atingir em 2021 o maior volume de soja processada da história, puxado pelo consumo do biodiesel

Os dados, os estudos, as estatísticas são constantemente atualizados, os resultados do papel além de econômico, social e ambiental da soja são visíveis, porém, parecem insuficientes para o presidente da França, Emmanuel Macron, que voltou a atacar a oleaginosa brasileira. 

"Continuar a depender da soja brasileira seria endossar o desmatamento da Amazônia", disse o líder francês em sua conta no Twitter. 

Imediatamante, as repercussões e respostas a Macron começaram a aparecer, entre líderes, estudiosos, representantes do setor e até mesmo pessoas que não têm ligação com o agronegócio brasileiro, mas que compreendem que tal declaração foi, além de infeliz, descabida geograficamente e acompanhando a evolução da cultura nas últimas décadas. 


Leia novamente:

+ O papel social, econômico e, principalmente ambiental da soja do Brasil, por Carla Mendes

"Monsieur Macron? Monsieur Macron ne pas bien. Monsieur Macron desconhece a produção de soja no Brasil. Nossa produção de soja é feita no cerrado ou no sul do País. A produção agrícola na Amazônia é ínfima", disse o general Mourão. Do mesmo modo, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, afirmou, também em seu Twitter, "O Brasil está pronto a demonstrar a todos os países que o Acordo Mercosul UE não ameaça o meio ambiente e, especificamente, que a soja brasileira não destrói a Amazônia. Na verdade, o acordo favorece o desenvolvimento sustentável em suas três dimensões: ambiental, social e econômica". 

O CEO da Academia da Soja no Brasil, Claudeir Pires, complementa as declarações afirmando que Macron busca manchar a competência da agricultura brasileira como uma tentativa de comprometer a competitividade do Brasil. "Morei na Europa de 2017, na Costa Sul da Inglaterra e na Escócia e visitei vários países para conhecer a realidade da agricultura da Europa e fato é que a Europa depende sim da soja brasileira", diz. 

Pires lembra que os europeus são um dos principais clientes do farelo de soja brasileiro e que continuarão a ser dada sua dependência de matéria-prima para alimentação animal para seus rebanhos. "Principalmente no Leste Europeu não há vocação para produação de soja. E aqui temos muitas áreas para abrir, áreas de pastagens degradadas para recuperar, e essa integração Lavoura-Pecuária que irá garantir a maior oferta de grãos e carne na mesma área", explica. 

Mais do que isso, as condições de clima, relevo e luminosidade não são as mais favoráveis ao cultivo da soja. "A Europa tem um clima extremamente frio em boa parte do ano, pouca incidência de raios solares e isso, para a soja, não é viável do ponto de vista de seu ponto de vista fisiológico vegetal. A Europa tem uma agricultura forte, mas entre as culturas de inverno". 

Pires, que é um estudioso da cultura da soja, volta a lembrar que "Macron é um grande desinformado", afirmando, inclusive, que o presidente francês parece também não conhecer a legislação ambiental brasileira que garante que as propriedades rurais localizadas no Bioma Amazônia têm uma Reserva Legal obrigatória de 80%, além das APPs (Áreas de Preservação Permanente). 

"A Europa produz soja sim, porém, a produtividade nos países como Alemanha, Espanha, Itália, é muito menor do que a brasileira. A média nacional é de cerca de 58 sacas por hectare, enquanto a média nestes países europeus está abaixo de 50 sacas por conta de caracterísiticas climáticas, regime de chuvas, luminosidade e seu limitante de área. Então Sr. Macron, a Europa vai continuar sim sendo dependente da soja brasileira", conclui Claudeir Pires. 

Já em 2019, a Embrapa trouxe uma publicação mostrando que a soja brasileira tem tecnologia suficiente e eficiente para garantir um aumento de área sem pressionar áreas de florestas, mesmo com uma demanda crescente e robusta que está direcionada ao produto do Brasil. 

“Apesar da extensão de área ocupada atualmente, em torno de 36 milhões de hectares, e das perspectivas de crescimento da demanda, o aumento da produção de soja é um dos grandes desafios para o país, o que vai requerer engajamento de toda a cadeia produtiva. O Brasil tem uma agenda clara de pesquisa para garantir o crescimento sustentável dessa produção, que vai ocorrer primariamente em áreas já ocupadas por pastagens, que serão liberadas pelo contínuo desenvolvimento dos parâmetros zootécnicos da produção animal e pelo aumento da produtividade dentro do próprio sistema de produção de soja”, explica José Renato Bouças Farias, chefe-geral da Embrapa Soja na ocasião. 

Complementando os dados, Décio Gazzoni, pesquisador da Embrapa Soja e um dos autores do estudo, afirmou ainda que "o cultivo da soja no bioma Amazônico está absolutamente fora de qualquer cenário de expansão do volume de soja produzido no país, não apenas pelas questões ambientais e restrições legais, mas também por questões econômicas, de logística, técnicas e financeiras". 

"Além de preservar e manter a floresta como patrimônio nacional, o Brasil detém domínio tecnológico para dobrar a produção atual nas áreas que já cultivam soja ou recuperando áreas de pastagens degradadas" - destaca o estudo da Embrapa.

Saiba mais:

>> Publicação da Embrapa mostra que soja brasileira tem tecnologia para aumento de produção sem pressão por áreas de florestas

A conclusão disso tudo? Macron novamente confirmou ao mundo seus interesses econômicos, o protecionismo e os subsídios ofertados a seus produtores rurais e acima de todas as coisas: que não conhece o Brasil, os brasileiros, e muito menos um pé de soja. Melhor do que eu, disse o Dr. Evaristo de Miranda, chefe da Embrapa Territorial.

Leia Mais:

+ A França pode viver sem a soja brasileira?, por Evaristo de Miranda, Embrapa Territorial

NOTA OFICIAL DA ABIOVE

ABIOVE RESPONDE DECLARAÇÕES DO PRESIDENTE MACRON SOBRE A SOJA BRASILEIRA

São Paulo, 12 de janeiro de 2021

A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) lamenta que o presidente da França, Emmanuel Macron, busque justificar sua decisão de subsidiar os agricultores franceses atacando a soja brasileira. Como bem sabe Macron, a soja produzida no bioma Amazônia no Brasil é livre de desmatamento desde 2008, graças a Moratória da Soja, iniciativa internacionalmente reconhecida, que monitora, identifica e bloqueia a aquisição de soja produzida em área desmatada no bioma, garantindo risco zero do envio de soja de área desmatada (legal ou ilegal) deste bioma para mercados internacionais.

NOTA OFICIAL: FPA responde declarações da França

A Frente Parlamentar da Agropecuária acompanhou com profundo constrangimento as declarações de ontem (12) do presidente francês, Emmanuel Macron, em que associa a agricultura brasileira aos crimes de desmatamento ilegal, sem nenhum dado oficial que comprove tal ilação, a não ser nosso recorde de exportação que alcançou mais de US$ 100 bilhões em 2020.

A França, em toda sua história, nunca demonstrou tanto desespero em relação ao desenvolvimento sustentável que o Brasil alcança ano a ano, com novas tecnologias e uma agricultura de precisão que garante duas safras/ano, responsável pelo aumento robusto de nossa produtividade ao longo dos últimos 40 anos, a um custo diferenciado para abastecimento interno e do mundo todo.

Somos uma potência agrícola por vocação e possuímos uma área de 66,3% de vegetação protegida e preservada. Dessas, 20,5% estão em imóveis rurais. De todo o território nacional, utiliza-se apenas 7,8% para lavouras e florestas plantadas. E quais são os números de ocupação de solo na França?

Alertamos que a política interna da França não pode colocar em xeque outra Nação e a legalidade de nossas políticas públicas para a agricultura como um todo. Atualmente, apenas 10% da soja brasileira é produzida no bioma Amazônico, sem contar que toda a produção está dissociada de qualquer processo de desmatamento desde 2008.

Por último, é preciso entender e considerar que, em números redondos, a União Europeia importa cerca de R$ 13 milhões toneladas/ano, das quais 5 milhões vão para a França. A produção atual dos franceses é de 200.000 t/ano irrigada e a um custo alto, ou seja, apenas 5% da demanda. Para atender, seria necessário plantar cerca de 2 milhões de hectares. Basta saber quem vai liberar essa terra toda e o impacto ambiental disto. Um discurso para atender eleitores não pode ser utópico ao ponto de não ser alcançada a autossuficiência.

Não aceitaremos acusações deste tipo. O Brasil é um grande exportador mundial de alimentos, um dos maiores responsáveis pelo abastecimento alimentar no mundo e ocuparemos nosso lugar, independente das guerras comerciais em franco desenvolvimento na França. Somos sustentáveis, cumprimos regras sanitárias e ambientais mais rígidas do que os países competidores e estamos alcançando um padrão de qualidade nunca visto antes, sem aumentar nossa área de plantio. Para a França alcançar o patamar brasileiro, teria que conquistar novos territórios ou colônias, o que a modernidade e a civilidade não permitem mais.

DEP. ALCEU MOREIRA
Presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária

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Por: Carla Mendes | Instagram @jornalistadasoja
Fonte: Notícias Agrícolas

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