Seca está dizimando as lavouras de soja no planalto central do Rio Grande do Sul
As chuvas esperadas para o planalto central do Rio Grande do Sul não aconteceram, e a safra gaucha entra em perído crítico. O risco de perdas se agrava e o experiente jornalista João Altair, radialista da Rádio Planalto, publicou alerta sobre o perigo que ronda a safra da soja. Segue seu relato:
"O Rio Grande do Sul bateu o seu recorde na produção de soja no ano passado, chegando a 19 milhões de toneladas. Por um tropeço climático no Paraná, conquistamos a 2ª posição e ficamos atrás apenas do Mato Grosso, que colhe 34 milhões de toneladas.
Neste ano, diante da atual seca que está dizimando as lavouras no Rio Grande do Sul, a pergunta é: quanto vamos colher nesta safra ?
As entidades do setor Emater, Conab, Fecoagro ainda não têm uma previsão. E até seria intempestiva a publicação de um numero porque os prejuízos no campo aumentam a cada dia.
O problema se agravou a partir do início desta semana quando as chuvas “prometidas” não vieram.
Nos últimos dias estive fazendo um roteiro pelos municípios de Ernestina (que está em situação de emergência), Nicolau Vergueiro, Marau e Água Santa. O cenário é desolador. A soja está morrendo sem conseguir frutificar.
Encontrei uma lavoura de milho, onde o primeiro plantio foi perdido. O produtor insistiu, fez uma segunda plantação, na esperança de cobrir o prejuízo da primeira... e a nova também está morrendo.
Na memória dos produtores vêm a lembrança de 15 anos atrás, quando perderam a maior parte da safra de 2004/2005 para a estiagem.
Não fosse a estrutura de solo que melhorou bastante nas últimas décadas com a introdução do plantio direto, a situação desta atual safra seria calamitosa.
O engenheiro agrônomo Elmar Floss, explica que a fase crítica é o período de 15 a 20 dias em que pelo menos a metade das plantas começa a soltar vagem. As lavouras não conseguiram vencer essa fase com a deficiência hídrica.
-- “A folha é a fábrica da planta, é ela que pega a água e os nutrientes, o gás carbônico do ar e a luz solar para fabricar tudo, por isso precisa estar verde e sadia”, explica Floss.
Nada disso se vê nos campos. Folhadas amareladas à força ou esbranquiçadas porque trocaram de posição em virtude do calor.
O prefeito de Ernestina João Odir Bohem (Nico), ao falar sobre o decreto de emergência, disse: “se chover nada vai mudar, se não chover vai piorar”.
Verdade. Chover é necessário para evitar o agravamento, não só das lavouras, mas das vertentes que estão secando. Mas, mesmo que venha chuva, o prejuízo não será recuperado.
O Rio Grande do Sul faturou no ano passado R$ 21 bilhões com a soja (Valor Bruto da Produção – VBP), segundo o Ministério da Agricultura. Se colher a metade, serão pelo menos R$ 10 bilhões a menos na economia gaúcha.
Quantos prédios deixarão de ser construídos, quantos automóveis a menos serão comprados? Quantos empregos a menos o RS terá? Qual será o impacto no comércio em geral?" (por João Altair, da rádio Planalto/Mundo Rural).
MERCADO
O analista Ginaldo de Souza, da Lahboro, em seu boletim dominical de mercado, confirma as perdas provocadas pela seca no Rio Grande do Sul e diz que o mesmo perigo ronda a safra da Argentina: "O tempo continuará predominante seco pelos próximos 10 dias", diz Ginaldo. "As chuvas na Argentina precisam voltar até o dia 5 de março sob pena de começar prejudicar as lavouras que estão em fase de enchimento, que já ultrapassa 60%."
Sobre as compras da China, Ginaldo considera que "muito provavelmente a China vai continuar comprando soja brasileira até agosto e deverá comprar soja safra nova americana para embarque a partir de setembro".
O mercado abriu em queda forte em Chicago, repercutindo as noticias da expansão da epidemia de coronavirus, que ameaça transformar-se em pandemia. Nesta manhã de segunda-feira, por volta das 7 hrs (BR), a soja perdia 10 cents, em media, nos 3 principais vencimentos. Março, maio e junho já trabalham abaixo de 9 cents. O petroleo perdia 3,5%, seguido por algodão e café, com perdas semelhantes.
PREVISÃO
O inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) confirma chuvas para o sul do país com a frente do dia 26, terça para quarta-feira. Elas, no entanto, deverão se concentrar no norte do Estado. Há previsão de chuvas para a região de Passo Fundo, mas segue o temor que a metade sul (região de Sta Maria) fique com baixa umidade.
De acordo com o Inmet " uma nova frente fria deve avançar pelo sul do país entre terça e quarta-feira, fazendo com que o Rio Grande do Sul tenha ao menos um dia de chuvas com volumes expressivos. Mais uma vez, os sistemas passam de maneira muito rápida pelo sul do país. "