O mercado da soja está favorecendo o Brasil, diz analista americano
São Paulo, 15 - O momento de a China comprar mais soja nos Estados Unidos pode ter passado, mas o país asiático pode buscar milho e trigo norte-americanos, apontou o analista Michael McDougall, da Paragon. Ele destaca que as ofertas de soja do Brasil começam a ficar mais competitivas no exterior com o começo da colheita da safra nacional.
--"O mercado já está favorecendo o Brasil", afirmou. "A maior parte das compras chinesas viria do setor privado, e ele não vai operar no prejuízo. É meio irônico que os EUA estão tentando limitar o favorecimento das companhias estatais, uma vez que, se saírem compras mesmo, elas devem vir das estatais para aumentar estoques."
McDougall destacou que, recentemente, a China fez compras de "boa fé" nos EUA, para tentar "adoçar o acordo" que seria assinado entre os dois países. "Mas fizeram isso porque fez sentido economicamente. Não foi nenhum sacrifício."
Para o analista, a queda dos futuros de soja na CBOT reflete a dúvida sobre como ficará a partir de agora o apetite chinês pela oleaginosa norte-americana.
-- "Para a soja, acho que passou a janela que favorece os EUA, porque o Brasil já está começando a colher", avaliou. "O que pode ser favorecido é milho. A China deu uma pausa por enquanto no plano de etanol (mistura do biocombustível na gasolina), porque os estoques de milho estão muito baixos. Os EUA têm uma brecha, mas por enquanto o milho da Ucrânia ainda está agressivo (no mercado internacional)", disse.
McDougall acrescentou que etanol de milho e trigo podem ser alternativas para a ampliação das compras chinesas nos EUA.
Segundo o analista, a falta de detalhamento sobre quanto a China deve comprar de cada commodity reflete a rejeição chinesa à imposição de metas de compra. Ele aponta ainda que o país asiático não deve chegar aos US$ 50 bilhões em compras chinesas de produtos agropecuários dos EUA indicados pelo presidente norte-americano, Donald Trump.
--"Só se a China não tivesse alternativa, o que não está acontecendo. Ocorreram problemas de clima na Argentina e no Brasil, mas nada grave."
CBOT REAGE COM DÚVIDA, MAS ACORDO DEVE TER IMPACTO "GRANDE" NA SOJA, diz ANA LUIZA LODI, da INTL FCSTONE
Por Leticia Pakulski
São Paulo, 15/01/2020 - O mercado futuro de soja na Bolsa de Chicago (CBOT) reagiu com dúvida sobre qual volume da oleaginosa a China efetivamente comprará nos Estados Unidos após a assinatura do acordo sino-americano, disse ao Broadcast Agro a analista da INTL FCStone Ana Luiza Lodi. A analista indica, entretanto, que o aumento nas compras chinesas de US$ 12,5 bilhões em 2020 e US$ 19,5 bilhões em 2021 em relação aos níveis adquiridos em 2017 resultará em "volume expressivo". "Para a soja, isso deve ter um impacto grande", disse ela. Ana Luiza lembra que, em 2017, antes da guerra comercial, as exportações de soja dos EUA para a China superaram US$ 12 bilhões. Em 2018, foram pouco mais de US$ 3 bilhões. "A guerra comercial afetou muito o fluxo, e a soja teria um espaço para recuperar volumes", afirmou.
A ausência de números que indiquem quanto, em volume ou receita, a China deve adquirir de cada commodity contribuiu para a incerteza. "A falta de mais detalhamento sobre quanto a China vai comprar contribui para o mercado ficar esperando para ver o que vai acontecer e como a China vai cumprir esse acordo." A analista lembra que a China reduziu o volume de soja adquirido globalmente após a peste suína africana.
Quanto ao efeito sobre o Brasil, Ana Luiza destaca que o acordo deve, sim, afetar as exportações brasileiras de soja, uma vez que a soja é um produto importante da pauta importadora chinesa nos EUA. Os prêmios de exportação no Brasil, contudo, praticamente não variaram por enquanto, segundo a analista. "A comercialização da safra está mais adiantada, mas tem que ver como vai ficar daqui para frente", disse.
A FCStone estima que 47% da safra de soja brasileira já esteja vendida, e, embora não se saiba exatamente quanto disso vai ser destinado à China, o país é o maior importador do produto brasileiro. Em igual período do ano passado, a comercialização atingia menos de 40% da safra. Tradicionalmente, o começo do ano é o período que o Brasil tem mais soja para ofertar, mas os EUA têm estoques apesar da quebra na safra 2019/20. "A soja seria um candidato importante para a China cumprir esse acordo. Num momento em que a demanda chinesa ainda não está totalmente recuperada, isso pode ter impacto negativo nas exportações brasileiras."