China faz nova compra de soja nos EUA e pressiona ainda mais prêmios no Brasil
O USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) informou uma nova venda de soja para a China nesta terça-feira (17). Dessa vez foram 260 mil toneladas e também referentes à safra 2019/20.
Esta é a terceira venda pelo terceiro dia consecutivo dos americanos para os chineses, confirmando as últimas informações sobre a tentativa de os dois países estarem, de fato, buscando um acordo ao menos parcial. Com esse compra, o total adquirido desde a última sexta-feira (13) passa de 600 mil toneladas.
O objetivo é trazer de volta ao menos parte do fluxo do comércio de produtos agrícolas entre ambos, principalmente em negócios com soja e carne de porco. Esta segunda vem subindo de forma considerável nos últimos meses na nação asiática em função de produção menor desde o início do surto de Peste Suína Africana.
De acordo com a agência estatal de notícias da China Xinhua, os preços de produtos agrícolas continuam subindo no país. O índice dos principais itens registrou um avanço de cerca de 1% somente na última semana. A carne suína somente teve uma alta, de 9 a 15 de setembro, subiu mais de 4%.
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Apesar das notícias de venda dos EUA para a China já chegando pelo terceiro dia consecutivo, a reação das cotações da soja na Bolsa de Chicago ainda não é positiva. Nesta terça-feira, além de tudo, o mercado da oleaginosa ainda é pressionado também pelos mercados vizinhos, milho e trigo, que corrigem as altas fortes registradas ontem com o rally do petróleo de mais de 14%
Assim, por volta de 14h (horário de Brasília), as cotações da soja perdiam entre 6,75 e 7,50 pontos, com o novembro operando, novamente, abaixo dos US$ 9,00 por bushel. O março tinha US$ 9,18 e o maio, US$ 9,29.
E o petróleo também recua e corrige suas altas hoje. Os futuros da commodity na Bolsa de Nova York perdem mais de 4%, com o barril do WTI sendo negociado a menos de US$ 60,00.
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Além disso, o mercado da soja já está bastante 'escaldado' pelas informações ligadas à guerra comercial.
"Por várias vezes o mercado se animou com a possibilidade de acordo na guerra comercial para depois se decepcionar com a falta de avanço nas tratativas. Dessa vez reagiu bem com as notícias meio em conjunto da semana passada, absorveu e pronto. Os traders preferem esperar os resultados das reuniões de outubro para se animar mais, eles já precificaram o suficiente", explica o consultor da Cerealpar e da Agroculte, Steve Cachia.
Mais do que isso, o executivo ainda destaca dois outros pontos que limitam altas em Chicago. "1. há uma pressão sazonal. Estamos na véspera da colheita e sem sinais de geadas 2. os temores de recessão global afetam a demanda. Uma Pesquisa do Bank of America Merrill Lynch, junto a administradores de fundos, mostra que 38% dos entrevistados esperam uma recessão nos próximos 12 meses, contra 59% que acham que uma recessao global é improvavel. É o sentimento mais pessimista desde agosto de 2009. Isto afeta o apetite ao risco dos investidores".
NO BRASIL, MAIS PRESSÃO SOBRE OS PRÊMIOS
Embora Chicago siga recuando, esperando uma confirmação mais consistente dessa parcial volta da demanda da China ao mercado norte-americano, as notícias das compras seguem pressionando os prêmios no Brasil. Os valores ofertados pelos compradores para os produotos brasileiros têm oscilado na casa dos 70 pontos, contra valores acima dos 120 nas últimas semanas.
Ainda assim, com pouco produto disponível e a maior parte da demanda, apesar desses novos movimentos,ainda concentrada no Brasil, os vendedores brasileiros pedem prêmios ainda acima dos 100 pontos. Somente na última semana, os prêmios acumularam baixas de mais de 20%.
"Os prêmios são mais uma questão relacionada ao Brasil e não a Chicago. Então, sim, isso (notícias das compras da China nos EUA) ajuda a pressionar os prêmios, porque aparentemente quanto mais compram soja dos EUA menos precisam do Brasil, nem que seja momentâneamente", diz Cachia.
NOVA FASE DE NEGOCIAÇÕES
Representantes da China e dos Estados Unidos se encontrarão em Washington na semana que vem para preparar o terreno para as delegações de mais alto escalão que se reúnem em outubro. Na próxima quarta é a vez de Liao Min, vice-ministro de Finanças da China ir aos EUA para liderar as conversas do lado da nação asiática.
Na sequência, em outubro, Liu He, vice premier chinês, volta a se reunir com Robert Lighthizer, representante do comércio dos EUA, e Steven Mnuchin, Secretário do Tesouro Americano.
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