Colheita da soja chega a 50% da área cultivada em Goiás e plantio do milho safrinha avança
Embora as chuvas de fevereiro tenham reduzido o ritmo das colheitadeiras nas lavouras de soja em Goiás, o tempo mais aberto dos últimos dias está favorecendo o avanço da colheita, que já chega a 50% da área plantada, calcula a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Goiás (Aprosoja-GO). Perdas por excesso de chuva não foram relatadas no Estado, diferente de outras regiões do país, como no Mato Grosso.
A Aprosoja-GO estima uma produção total de 10,5 milhões de toneladas da oleaginosa, com possibilidade de revisão para cima no próximo mês, tendo em vista as condições favoráveis em campo e os resultados já obtidos na colheita. "Este é um ano bastante positivo, e devemos obter um crescimento na produtividade média do Estado, superando 53 sacas por hectare", afirma o consultor técnico da associação, Cristiano Palavro. "Isso é normal já que não tivemos intempéries climáticas graves e os investimentos em tecnologia e manejo têm crescido substancialmente".
Palavro atribui a baixa incidência de pragas e doenças nesta safra 2016/17 justamente à efetividade dos tratos culturais adotados pelos produtores e dos programas de fitossanidade. Mesmo com registros de umidade alta em boa parte das lavouras, a ferrugem asiática, por exemplo, mostrou baixa presença e severidade em Goiás.
Comercialização lenta
Enquanto as máquinas em campo seguem aceleradas, a retração nas cotações da soja após a desvalorização do dólar e o início da colheita no Brasil está adiando o fechamento de negócios. Estimativas da Aprosoja-GO apontam a comercialização de cerca de 50% da produção, parcela menor do que a registrada (65%-70%) em igual período da temporada 2015/16. "Muitos produtores retardaram as vendas aguardando melhores oportunidades, mas neste momento os preços estão em uma fase de baixa, incentivados pelo período de maior oferta com o avanço da colheita", explica o consultor técnico.
Para o presidente da Aprosoja-GO, Bartolomeu Braz Pereira, o atual cenário de comercialização é também reflexo das mudanças políticas e econômicas no Brasil observadas em 2016, que movimentaram o valor do dólar no País. "O produtor fechou poucos negócios de soja pela instabilidade no governo, que deixou o produtor sem saber se a moeda continuaria subindo ou não. Ficamos em uma situação difícil no momento de tomar decisões", afirma Bartolomeu. "Agora, temos custos altos, pois compramos os insumos com dólar próximo a R$ 4 e estamos negociando soja com o dólar a R$ 3. O produtor está esperando que os preços voltem a subir para vender e conseguir diluir um pouco dos custos."
Segundo levantamento de preços da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), a soja está sendo comercializada no Estado à média de R$ 62,50 por saca. No mercado internacional, não houve alterações significativas no valor dessa commodity. O principal fator de incerteza é mesmo a cotação do dólar, que atingiu os patamares mais baixos dos últimos meses. Os relatórios econômicos estão revisando as previsões anteriormente mais altistas e, segundo o Top 5 do Relatório Focus do Banco Central desta semana, a moeda americana deve encerrar 2017 em torno de R$ 3,20.
Diante desse cenário baixista de preços da soja, mas com possibilidade de reação ao longo do ano, analistas de mercado recomendam ao produtor retrair suas vendas neste momento, e somente comercializar se necessário para quitar compromissos financeiros e débitos próximos do vencimento.
Milho safrinha
Com a retirada da soja das lavouras, as plantadeiras trabalham a todo vapor na semeadura do milho safrinha. Pelos cálculos da Aprosoja-GO, já foi cultivada ao menos 65% da área estimada em 1,3 milhões de hectares. A associação acompanha os relatórios da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) que também calcula a produção de 7,2 milhões de toneladas do cereal em Goiás. Mas esses números podem variar, a depender do fim da colheita da soja e das previsões climáticas das próximas semanas.
"O plantio e colheita mais precoce da soja ampliam a expectativa de aumento da área de milho", justifica o consultor técnico da Aprosoja-GO, Cristiano Palavro. “Por outro lado, os impactos das graves perdas no ano passado e as constantes incertezas com o clima nos meses seguintes amenizam esta perspectiva de crescimento", ressalva.
Ainda são esperados volumes consistentes de chuvas nesta safra, porém novas informações apontam uma redução acentuada das precipitações na segunda quinzena de março. "Nossa expectativa é positiva, mas um tanto apreensiva porque podemos ter alguns períodos de seca. Como são esperados preços mais baixos [na faixa de R$ 20 a R$ 22], o produtor que ainda está decidindo implantar a safrinha precisa ter cautela, pois os custos de produção estão muito altos" alerta o presidente da Aprosoja-GO, Bartolomeu Braz Pereira.
Segundo as atuais previsões, uma possível inversão do clima teria efeitos mais significativos no Centro-Norte do Estado, região de menor expressão da segunda safra de milho. A produção de inverno desse cereal é concentrada no Sudoeste goiano, que compreende 80% do total produzido. Só os municípios Rio Verde e Jataí são responsáveis por 42% do volume de milho na safrinha.