Soja em Chicago inicia nova semana com altas nesta 2ª feira e preços superam os US$ 8,80
O mercado internacional da soja dá continuidade ao movimento de altas registrada na semana anterior e, por volta das 7h20 (horário de Brasília), os principais vencimentos subiam de 3,75 a 5,50 pontos, com o as cotações já operando acima dos US$ 8,80 por bushel, e o agosto/16 valendo US$ 8,91. A exceção ficava por conta da primeira posição - março/16 - que, apesar das altas, ainda trabalhava com US$ 8,76.
Os futuros da oleaginosa vêm, desde a última semana, refletindo, principalmente uma baixa do dólar não só frente ao real, mas também diante de outras divisas emergentes. O movimento não só tornou as commodities negociadas nas bolsas norte-americanas mais atratvas, mas também travou as vendas no Brasil, principal concorrente dos Estados Unidos no fornecimento mundial de soja.
Os investidores, no entanto, seguem aguardando por novas informações vindas dos fundamentos e ainda do mercado financeiro, bem como as primeiras novidades da safra 2016/17 dos Estados Unidos, que já começou a ser semeada em alguns pontos do país. Além disso, há ainda, nesta segunda-feira, a chegada de um novo boletim semanal dos embarques norte-americanos de grãos, que também poderia impactar sobre os preços.
Veja como o mercado fechou na última semana:
Soja: preços fecham com alta firme em Chicago mas no Brasil vendas travam após queda do dólar
Os preços da soja dispararam na Bolsa de Chicago nesta sexta-feira (4) e abalaram a estabilidade que vinham sendo registrada há meses. Subiram ainda os futuros do milho também em Chicago, do café e do açúcar em Nova York, o Ibovespa e as ações ds Petrobras. O dólar, na contramão, despencou.
A queda da moeda americana e o fortalecimento da brasileira, as vendas no Brasil travaram ainda mais e estimularam ganhos na CBOT, que, no encerramento do pregão desta sexta-feira, superaram os 13 pontos entre os principais contratos. "Não tem oferta no físico e os preços começam a reagir em Chicago", explica o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting. "Aqui no Brasil, a falta de oferta, em parte, se dá pela forte queda do dólar, que influenciou bastante a fuga dos vendedores.
Assim, na semana, o balanço também foi positivo. As posições mais negociadas subiram de 1,63% a 1,81%, com o vencimento maio/16, referência brasileira, com US$ 8,78 por bushel, e o julho/16 valendo US$ 8,84.
Não, ainda não se trata de uma mudança de direção das cotações e as incertezas continuam permeando todos os investimentos, bem como os fundos de investimento permanecem às margens do mercado diante de todas as decisões que estão sendo tomadas nas principais economias globais. Os movimentos, no entanto, sinalizaram, somente e mais uma vez, as preferências do mercado financeiro brasileiro e internacional e as perspectivas de uma mudança no quadro político do Brasil com o avanço da operação Lava-Jato, que chegou a sua 24ª fase - batizada de Aletheia - e tinha como alvo principal o ex-presidente da república Luiz Inácio Lula da Silva.
Comercialização dos Grãos
Embora os preços tenham subido de forma expressiva no mercado internacional, principalmente os futuros da soja, a despencada do dólar pesou severamente sobre a formação dos preços da oleaginosa e do milho no Brasil e essa sexta-feira de euforia acabou travando a comercialização no país.
Os vendedores, que já estavam retraídos, se retiraram ainda mais do mercado neste final de semana. Os compradores, por outro lado, foram a mercado, porém, sem sucesso. Os negócios estiveram parados e as principais praças de comercialização terminaram a semana com baixas muito expressivas.
No interior, as perdas foram de 3,17%, em São Gabriel do Oeste, Mato Grosso do Sul, para contabilizar R$ 61,00 por saca, a 12,90% em Campo Novo do Parecis, Mato Grosso, caindo de R$ 62,00 para R$ 54,00 por saca.
Nos maiores portos de exportação do país, as baixas foram chegaram a superar os 5%. Paranaguá fechou a semana com referência de R$ 74,00 no disponível e no futuro, caindo, respectivamente, 5,13% e 4,52%. Já em Rio Grande, a soja disponível ficou em R$ 75,50, caindo 5,63%, e a com entrega maio/16, valedo R$ 76,50 e perdendo 3,16%.
"O fato é que com o atual nível de câmbio - dólar x real - o produtor brasileiro vai se conter. Ele espera algum aumento para voltar ao mercado, quando tiver preços melhores. E isto pode vir com altas nos prêmios, nos valores da CBOT ou o retorno do câmbio a melhores patamares ou, até mesmo, com um misto de todos esses fatores. Ou seja, ao aplicar o câmbio, o preço fica bem mais baixo do que ontem, anteontem e nestes dias passados", explica Camilo Motter, economista e analista de mercado da Granoeste Corretora de Cereais.
Além disso, Motter explica ainda que a formação de preços para o produtor que vende é diferente da composição feita pelas indústrias e tradings que compram. "A formação do preço da indústria é uma composição de custos, e a formação do preço do produtor é uma decomposição do preço internacional, transmitido internamente via câmbio. E é por isso que o produtor recua quando o mercado cai, mas as indústrias e tradings seguem no mercado, tentando comprar", diz.
Há de se acompanhar, porém, os desdobramentos dos acontecimentos desta sexta-feira em que Lula depôs, indignado, por quase quatro horas na sala em Congonhas, após ser conduzido coercitivamente pela Polícia Federal, explicando volumes na casa de R$ 30 milhões em doações e pagamentos que são investigados pelo Ministério Público Federal. A presidente Dilma Rousseff já fez, de Brasília, sua ligação para o companheiro prestando sua solidariedade.
"O mercado já vinha precificando essa hipótese da investigação da Lava Jato se estender até o ex-presidente Lula e o atual governo, tanto que o dólar já vinha, nos último dias, mostrando isso, o que se refletia em um entendimento dos investidores que o cenário político futuro, que uma queda da presidente Dilma, levaria a uma melhoria do cenário econômico", explica Carlos Cogo, consultor de mercado da Carlos Cogo Consultoria Agroeconômica.
Ainda segundo relatou o consultor, nesta sexta-feira foram reduzidas de forma bastante acentuada as indicações de vendas não só no mercado disponível e futuro com produto desta safra, mas também as operações que vinham sendo feitas com a segunda safra de milho ou até mesmo com a safra de soja 2016/17.
"Em Mato Grosso, por exemplo, nas primeiras indicações desta manhã de sexta, os traders estavam, praticamente, fora do mercado, mas os compradores presentes, já têm preços - em relação à última segunda-feira (29), com preços de R$ 2,00 a R$ 2,50 por saca mais baratos", explica o consultor. "Enquanto não houver um estancamento no câmbio, o repasse para os commodities vai continuar ocorrendo, não tenho nenhuma dúvida", completa.
Dólar
Nesta sexta-feira, o dólar fechou o pregão nervoso e volátil com queda de 1,09% e valendo R$ 3,76. Na semana, a moeda norte-americana recuou 5,93% e registrou, segundo noticiou agência de notícias Reuters, teve seu maior recuo semanal desde 2008. Na mínima desta sexta, a divisa bateu em R$ 3,6550.
"(A presidente Dilma Rousseff) já está muito fragilizada e com isso a oposição ganha mais força", disse o operador da corretora Spinelli José Carlos Amado à Reuters. "Se as manifestações do dia 13 forem grandes, a situação fica muito ruim para ela", acrescentou, referindo-se a protestos planejados a favor do impeachment da presidente.
Se esse movimento vai se manter, se intensificar ou se enfraquecer ainda é uma dúvida para os analistas e consultores do mercado. Estão sendo considerados ainda os impactos do depoimento de Lula sobre o governo Dilma, sobre o andamento real do mercado após o estado de euforia observado nesta sexta-feira e da continuidade das investigações.
Como salientou o analista financeiro Miguel Daoud, esse poderia ser um otimismo exagerado e precipitado para o futuro do dólar frente ao real, uma vez que há ainda fatores externos a serem considerados, além da divisa já contar com um consolidado ponto de equilíbrio entre R$ 3,80 e R$ 3,90.
"O mercado sempre exagera na alta e exagera na queda", diz. "O mercado futuro é de uma densaidade muito grande, e ele se movimenta de acordo com as informações que podem afetar o futuro. E essa operação de hoje é, sem dúvida, uma operação que podem afetar o futuro do Brasil", completa Daoud.
O momento é, portanto, de observar com atenção os acontecimentos e desdobramentos e, inclusive, aproveitar as oportunidades que podem surgir com esse comportamento do mercado, como a queda do dólar baixando os preços dos insumos que são indexados pela moeda norte-americana.
"O produtor rural tem que ter consciência do momento que nós estamos vivendo", completa o analista. "Ele tem que tomar as decisões na hora certa. A grande parte dos produtores faz sua negociação com as tradings, então, que eles já amarrem suas relações de forma que seus custos, independente do preço, estarão garantidos, e deixe uma margem para especular", completa.