Soja: Com disparada do dólar, preços em reais no Brasil surpreendem
Julho foi um mês turbulento para as commodities negociadas pelo mundo e no caso das agrícolas, o cenário não foi diferente. Os futuros da soja negociados na Bolsa de Chicago enfrentaram - e ainda vêm enfrentando - dias de muita volatilidade, com sessões de baixas acentuadas e outras com rallies de alta.
Para consultores e analistas, o início de agosto não deve ser diferente e, nos primeiros pregões deste novo mês, já é possível observar essa falta de direção no caminhar das cotações. No intervalo de 31 de julho à última quarta-feira (5), por exemplo, o vencimento agosto/15 recuou 4,71% - passando de US$ 10,40 para US$ 9,91 por bushel - enquanto o novembro/15 caiu de US$ 10,29 para US$ 9,53, perdendo7,39%. Já em relação a 31 de julho do ano passado, as baixas são, respectivamente, de 19,04% e 11,92%.
Um levantamento feito pelo economista do Notícias Agrícolas, André Lopes, mostra que em julho os preços da soja praticados no Brasil - com referências nos portos e valores coletados junto aos sindicatos e cooperativas - registraram boa valorização, com ganhos que chegaram a superar os 14% em algumas praças, como São Gabriel do Oeste/MS, por exemplo.
E apesar de preços menores sendo praticados na Bolsa de Chicago neste ano, os registrados no Brasil apresentam uma significativa valorização em relação ao mesmo período de 2014, situação também motivada pelo dólar. Em Paranaguá, a alta em relação ao mesmo período do ano passado é de 14,93% para a soja disponível e de 25,12% para a futura se comparadas as cotações do dia 31 de julho. Em Rio Grande, os ganhos foram de, respectivamente, 15,77% e 25,48%.
No interior do país, os preços também melhoraram em relação a 2014 e tiveram um julho positivo. Em algumas praças como Não-Me-Toque/RS, Ubiratã, Londrina e Cascavel, no Paraná, altas de mais de 10%.
Como relatou Marcelo De Baco, analista de mercado da De Baco Corretora de Mercadorias, de Viamão, no Rio Grande do Sul, diz que julho foi um mês muito forte para os preços no estado. Por volta do dia 1º, o valor bateu em R$ 69,50 no interior em alguns momentos e, no dia 31, chegou a R$ 72,50 por saca.
"O que se pode perceber é que a bolsa (de Chicago) corrige a diferença cambial. Em todos os países, o dólar despontou frente às principais moedas, mesmo as de economias menores", explica. " Os fatores mais importantes foram: a crise da Grécia, que expôs a fragilidade do bloco do euro; relatórios da economia chinesa mais pessimistas; e o Brasil diminuindo seus índices de crescimento e isto também fez com que nossa moeda se desvalorizasse mais do que em outros países", completa.
Demanda
A demanda pela soja brasileira - e sua maior competitividade neste momento também estão em foco. Em sua última projeção divulgada no final de julho, a Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais) elevou sua estimativa para as exportações de soja do país neste ano para um recorde de 50,3 milhões de toneladas, contra o projetado em junho de 48,7 milhões. O número fica ainda bem acima das exportações de 2014 de 45,7 milhões de toneladas.
Ao mesmo tempo, ainda é possível observar bons volumes de soja sendo adquiridos pela China - onde as margens de esmagamento da oleaginosa seguem positivas e assim devem se manter até o final deste ano, segundo um grupo líder no agronegócio asiático.
Sem o mês de julho ter sido finalizado, a China já havia recebido 8,7 milhões de toneladas de soja, e é bem provável que tenha alcançado os 9 milhões, disse Liones Severo, consultor de mercado do SIM Consult, afirmando que esse pode ser o maior volume de importação mensal do país. O consultor relata ainda que somente o o Brasil já embarcou 42.797,170 milhões de toneladas do grão, sendo 30.051,533 milhões com destino a China. Além disso, diz ainda que "somando os navios que já estão nos portos para carregar estamos comprometidos em 47 milhões de toneladas".