Aperto econômico pressiona safra de verão
O momento de fragilidade da economia brasileira está influenciando os preparativos para a próxima safra de verão. O quadro de desvalorização do real e a pressão inflacionária refletem em previsões que indicam alta de até 20% nos custos de produção de grãos como a soja. Como agravante, o acesso ao financiamento com juros subsidiados dentro do Plano Agrícola e Pecuário (PAP 2015/16) ainda não engrenou. Com mais gastos e dificuldade em tomar crédito, cresce a incerteza quanto à disponibilidade de insumos para o plantio, colocando à prova os planos de expansão da área plantada.
Praticamente todos os itens da equação de custos para a produção de grãos estão mais caros do que em 2014/15. Estimativa do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) indica que o desembolso para a produção de soja transgênica no estado será 18,7% maior no próximo verão, chegando a R$ 2,8 mil por hectare. No Paraná, a Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab) aponta aumento de 11,3%, para R$ 2,6 mil/ha. “Esse custo pode subir mais, pois, além dos insumos estarem mais caros, pode haver necessidade de aplicação extra de produtos como inseticidas e herbicidas”, detalha o presidente da Associação dos Produtores de Soja do Paraná (Aprosoja PR), José Sismeiro.
Além da conta estar mais cara, o setor demonstra preocupação quanto à dificuldade em garantir o custeio da produção utilizando as linhas de crédito do Plano Safra. “O governo até liberou os recursos, mas há muita morosidade para conseguir a liberação dos financiamentos nos bancos”, aponta o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato), Rui Carlos Ottoni Prado. Ele avalia que a instabilidade econômica deixou as entidades mais cautelosas para fazer a liberação de crédito.
Produtores têm relatado dificuldade de acessar não apenas o crédito oficial, com juros controlados, mas também os recursos privados em função do agravamento da crise econômica e da alta nas taxas de juros, conta o analista Flávio França Junior. “Isso deve ter efeito limitante sobre a expansão de área e retrair o uso de tecnologia, principalmente de Mato Grosso para cima”, avalia.
O problema tem sido mais preocupante em estados em que a demanda por crédito individual é maior, reforça Tânia Moreira, economista do Departamento Técnico da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep). Ainda assim, produtores paranaenses não escapam das dificuldades. “O cadastro dos produtores [nos bancos] está bem mais criterioso e alguns financiamentos estão sendo liberados a conta-gotas”, reclama Rudolf Petter, que produz grãos, junto com a família, em 3 mil hectares espalhados em cinco propriedades dos Campos Gerais.
Efeito dominó
Como neste ano não houve a liberação do crédito de pré-custeio, que permite a antecipação das aquisições de insumos, Prado teme que haja uma correria na boca da safra. “As compras estão atrasadas. Existe o risco de o produtor ter o dinheiro e não haver disponibilidade de insumos”, alerta.
Para Sismeiro, da Aprosoja Paraná, há dificuldade em obter fontes alternativas de recursos para contornar o problema. “O produtor não tem outra opção além do financiamento, exceto aqueles que estão um pouco mais capitalizados. Se ele não conseguir todo o recurso que precisa no banco, terá que recorrer a cooperativas, revendas ou tradings”, avalia.
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