Soja e Milho: Irregularidade marca início da safra 2015/16 dos EUA

Publicado em 15/07/2015 11:07

EUA 2015/16: Imagens de lavouras de soja e milho no norte de Indiana - Fonte: Labhoro Corretora

A nova safra de grãos dos Estados Unidos não começou bem e isso já é conhecido por produtores, analistas, consultores e pelo mercado de uma forma geral. O excesso de chuvas no Meio-Oeste americano segue trazendo preocupação, principalmente, sobre seu impacto no desenvolvimento das lavouras de soja e milho no país daqui em diante. A pergunta agora é: o que esperar realmente da safra 2015/16 dos EUA depois desse início?

Os meses de maio e junho no Corn Belt, principal região produtora norte-americana de grãos, foram historicamente chuvosos e encharcaram os campos, provocaram inundações e colocaram em xeque a produtividade das culturas. Assim, bem como aconteceu na safra 2014/15 no Brasil, a marca dessa nova temporada nos EUA é a irregularidade, segundo apontam especialistas nacionais e internacionais. 

"Temos uma situação de duas safras em 2015, com áreas ruins, áreas boas e uma pequena parte das áreas entre esses dois cenários. Ainda assim, o potencial nacional de produtividade está acima da média", diz Ray Grabanski, presidente da consultoria internacional Progressive Ag em matéria no site Agriculture.com. 

Em seu último boletim mensal de oferta e demanda, o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), apesar do cenário climático desfavorável, elevou sua estimativa para a safra de soja do país de 104,78 milhões para 105,83 milhões de toneladas, com um aumento de área - para 34,44 milhões de hectares - e a produtividade mantida em 52,17 sacas por hectare. Ainda assim, na última segunda-feira (13), em seu relatório semanal de acompanhamento de safras, reduziu o índice de lavouras em boas ou excelentes condições de 63 para 62%. Em 2014, nesse mesmo período, o índice era de 72%. 

No entanto, se os números do departamento americano forem observados mais detalhadamente é possível acompanhar a irregularidade desta temporada. Enquanto estados como Wisconsin e Dakota do Sul têm 80% de suas plantações em condições boas ou excelentes, esse índice cai para 70% a 79% em Iowa, Kentucky, Louisiana, Minnesota, Mississipi, Nebraska, Dakota do Sul e Tenesse. Por outro lado, em Indiana, Illinois, Kansas e Ohio, o número despenca para algo entre 40% e 49%. 
 
Segundo Grabanski, o potencial produtivo da safra tem melhorado nas últimas duas semanas e esse quadro é favorecido pelas previsões climáticas que indicam uma trégua das chuvas e temperaturas um pouco mais elevadas para os próximos dias no Meio-Oeste. "Com essas previsões de tempo mais quente e seco e os solos ainda encharcados em quase todo o país, é provável que o potencial da safra continue melhorando. Nesse quadro, os baixos níveis de produtividade que estão sendo observados no leste dos EUA também poderiam apresentar uma possibilidade de melhora", diz. 

No milho, a situação é semelhante. No entanto, o USDA em seu reporte de oferta e demanda baixou a estimativa para a produção 2015/16 de 346,2 milhões para 343,7 milhões de toneladas. A área de plantio foi ligeiramente reduzida, ficando em 36 milhões de hectares, enquanto a projeção de produtividade foi mantida em 174,5 sacas por hectare. Na sequência, o USDA trouxe ainda uma manutenção, na última segunda, do índice de lavouras do cereal em boas ou excelentes condições em 69%. Apesar de menor do que o registrado na mesma época do ano passado, o número se manteve estável. 

E ainda segundo a Progressive Ag, a cultura vem apresentando, nas últimas semanas, uma melhora significativa de seu potencial produtivo. "Mais importante, os modelos de projeção de produtividade estão melhorando nacionalmente, sugerindo que temos agora uma safra ligeiramente acima da média, o que já é bem melhor do que mostravam as últimas discussões", afirma Ray Grabanski.

Nos estados do Colorado, Iowa, Kentucky, Minnesota, Pensilvânia, Tenesse e Wisconsin, 80% ou mais das lavouras estão em boas/excelentes condições, enquanto em Nebraska, Dakota do Norte e Dakota do Sul o índice é de 70% a 79%. 

Já no Kansas e Missouri, de 50% a 59% e em Indiana, Carolina do Norte e Ohio, queda para 40% a 49% das plantações. "Todos estes estados estão sofrendo com uma safra abaixo da média ainda nos campos e condições horríveis de suas lavouras em parte deles", relara o presidente da Progressive Ag. 

Segundo relatou o diretor da Labhoro Corretora, Ginaldo de Souza, que esteve no Meio-Oeste americano na última semana, a irregularidade é realmente uma marca da safra 2015/16. "Ainda não dá para mensurar a perda da soja, pois, normalmente tem uma capacidade de recuperação muito grande. É isso que dá para dizer agora (...) Eu estimo, até agora, uma perda de 3 a 4% no máximo, então uma safra de 105 milhões viria para algo entre 103/104 milhões de toneladas, que ainda é uma safra grande", acredita Souza.

>> Clique AQUI e confira a entrevista na íntegra de Ginaldo de Souza, diretor da Labhoro Corretora

No primeiro dia do crop tour da Labhoro, foram percorridos 640 km em áreas que se estendiam do norte de Indiana até Ohio, os talhões de milho já se apresentavam manchados, com coloração amarelada e plantas de baixa estatura. Uma lixiviação dos nutrientes e a baixa fotossíntese por conta das chuvas excessivas também puderam ser observadas. 

EUA 2015/16: Imagens de lavouras de soja e milho no norte de Indiana - Fonte: Labhoro Corretora

Na mesma área, foi constatado ainda um atraso do pantio e a maior parte das plantas em estágio vegetativo, e algumas também com coloração amarelada. "as chuvas dão sinais de danificação e é possível perceber uma leve perda no rendimento", relataram os representadas da Labhoro.

Já no sul de Ohio, as lavouras apresentavam pequenas poças de água e também atraso no plantio em determinadas áreas, com cerca de 10/20 dias de germinação. Já o milho, por outro lado, apresentava boas ou ótimas condições. Mais ao sul ainda do estado, muitas plantações apresentavam ainda algumas reboleiras amarelas.

EUA 2015/16: Imagens de lavouras de soja e milho no caminho de Ohio para Indiana - Fonte: Labhoro Corretora 

Na divisa entre Ohio e Indiana, foram observados pontos de alagamento e lavouras debaixo d'água. "Esse volume expressivo de chuva com certeza prejudicará a soja nessa fase inicial. No milho, as áreas alagadas já mostram perdas e, se as chuvas continuarem, localmente poderá haver perda em todas as regiões empoçadas", relataram os especialistas. "Nas áreas não alagadas, a chuva ajudará no estágio de polinização e a produtividade poderá ser alta", completaram.

EUA 2015/16: Imagens de lavouras de soja e milho no caminho de Ohio para Indiana - Fonte: Labhoro Corretora 

EUA 2015/16: Imagens de lavouras de soja e milho no caminho de Ohio para Indiana - Fonte: Labhoro Corretora 

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Por: Carla Mendes
Fonte: Notícias Agrícolas

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