Soja: Mercado espera números do USDA e opera com estabilidade no início da semana na CBOT
O mercado internacional da soja inicia a semana operando com estabilidade na Bolsa de Chicago. Esse e os próximos dias serão de chegada de informações importantes para o direcionamento das cotações e, frente a isso, os traders buscam um posicionamento mais adequado à espera delas.
O USDA (Departamento de Agricultura dos Estados) traz nesta segunda-feira (29), às 17h, seu novo boletim de acompanhamento de safras - atualizando as informações de desenvolvimento do plantio, no caso da soja, e as condições das lavouras. Amanhã, chegam os dados de estoques trimestrais de área de plantio da safra 2015/16 nos EUA.
Assim, por volta das 7h25 (horário de Brasília), os principais vencimentos perdiam entre 0,50 e 3,25 pontos, com o contrato novembro/15, referência para a safra americana, cotado a US$ 9,82 por bushel.
Paralelamente, segue mantido o foco dos investidores também no andamento do clima nos Estados Unidos e nas novas previsões, as quais já mostram mais chuvas para esta semana no Meio-Oeste americano. Entretanto, as precipitações não deverão ser, segundo informações da Somar Meteorologia, generalizadas e acontecendo em dias consecutivos nas principais áreas produtoras.
"Mas todos os dias ocorrerão chuvas em alguma área do meio-oeste e leste do País. Ou seja, mesmo com previsões para pancadas de chuvas, essas continuarão mantendo as condições desfavoráveis ao desenvolvimento das lavouras de milho, soja, algodão e trigo, já que os solos estão bastante encharcados e com o tempo mais nublado, as taxas de radiação e luminosidade continuarão mais baixas do que o ideal. Podendo, desse modo, causar nos perdas e elevar os percentuais de lavouras em condições ruins e muito ruins nessas próximas semanas", informou o boletim da Somar.
Veja como fechou o mercado na última semana:
Soja fecha semana com preços acima dos R$ 70 nos portos do BR e foco nas chuvas fortes dos EUA
A semana foi intensa e, mais uma vez, positiva para as cotações da soja tanto na Bolsa de Chicago quanto no mercado brasileiro. Nos melhores momentos dos últimos dias, o vencimento novembro/15, referência para a safra americana, se aproximou dos US$ 10,00 por bushel e os preços para a safra nova do Brasil bateu em R$ 76,00 no porto de Rio Grande.
Na CBOT, os dois vencimentos mais negociados - julho/15 e novembro/15 subiram, no balanço semanal, 1,26% e 2,79%, e fecharam com US$ 10,02 e US$ 9,86 por bushel. As altas no pregão desta sexta-feira (26) - último dia para fixação nos contratos julho/15, chegaram a passar de 20 pontos, mas encerraram o dia entre 1,75 e 10,75 pontos entre as posições mais negociadas.
Durante toda a semana, o mercado registrou movimentações intensas e volatilidade e, entre os principais fatores que mantiveram as cotações sustentadas, segundo explicou o consultor de mercado do SIM Consult, Liones Severo, foram as adversidades climáticas - que não se restringem somente aos Estados Unidos - a demanda mundial forte e crescente, além de um nítido reposicionamento dos fundos de investimentos.
Chuvas nos Estados Unidos
Se entre segunda (22) e terça-feira (23), as previsões indicavam uma diminuição das chuvas no Meio-Oeste dos Estados Unidos, as informações que chegaram nesta quinta-feira (25) trouxeram uma reviravolta no cenário climático do país, com novas e mais intensas precipitações esperadas para os próximos dias. Somente para esta sexta-feira (26), eram esperados mais de 100 mm de chuvas para estados como Indiana, Iowa e Illinois, entre outros.
Nessas novas previsões climáticas, as fortes chuvas continuam presentes e as regiões mais afetadas segundo informações do site internacional Farm Futures, deverão ser o centro e o leste do Corn Belt.
E além dessas novas chuvas, os últimos sete dias também foram muito úmidos no Corn Belt. Em alguns estados mais ao norte do Meio-Oeste, os acumulados passam de 500 mm de chuvas. Essas condições vêm compremetendo severamente o caminhar dos trabalhos de campo e o desenvolvimento das lavouras, podendo gerar até mesmo a necessidade do replantio de algumas áreas, apesar da janela estreita.
Somente no estado de Indiana, os últimos dias excessivamente chuvosos e as inundações já causaram um prejuízo de cerca de US$ 300 milhões com as safras de soja e milho e, de acordo com especialistas, esse valor pode aumentar caso o cenário ainda continue por mais tempo, com informações do site internacional AGWeb. O economista da Universidade Purdue, Chris Hurt, que a produção para ambas as culturas poderia cair 5%.
Dessa forma, continua a ansiedade dos mercados na espera pelos novos boletins que o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) divulga no final deste mês, principalmente aquele que trará os dados da área de plantio da safra 2015/16. De acordo com os últimos números do órgão, na última segunda-feira (22), ainda havia cerca de 10% da área para ser semeada com soja e as condições climáticas ainda não se mostravam favoráveis.
Na próxima segunda-feira (29), O USDA traz um novo reporte de acompanhamento de safras e atualiza a evolução do plantio e os índices de condições das lavouras e esses números também devem influenciar o andamento dos negócios da próxima semana.
Apesar desse cenário que exige atenção e inspira cuidados nos EUA, os problemas com o clima não estão estão restritos somente ao país e outros produtores também sofrem com adversidades, ainda segundo Liones Severo.
"Temos um situação muito delicada no mundo em relação ao clima. Nos EUA há esse problema (do excesso de chuvas no Meio-Oeste) que é grave, porque há áreas onde o trigo ainda nem foi colhido para que se plante a soja, as janelas de plantio já estão vencendo e devemos ter uma redução significativa na área", diz. "E tem também o clima na Europa, que está extremamente desfavorável. Há uma seca forte na França, Espanha e Alemanha, afetando a produção de milho e trigo, e não região do Mar Negro (...) Assim como o Canadá, que tem prejuízo em todas as culturas", completa.
Movimento dos Fundos
Paralelamente, o mercado reflete ainda o reposicionamento dos fundos, como explica Liones Severo, com recompras de posições. "Chicago está subindo porque venderam uma safra grande e, naturalmente têm que comprar de volta com os estoques que eles venderam e que não existiam e não existirão. Então, quando se diz que são os fundos que estão comprando é porque eles venderam estoques a mais e que não tinha", diz.
Ainda segundo o consultor, fazia oito anos que os fundos não entravam comprados no mercado, estavam sempre vendidos e batendo recordes em posições vendidas, e isso refletiu imediatamente no andamento dos preços.
"Esse ano, (os fundos) conseguiram fazer uma aberração muito forte, que levou o mercado a US$ 9, mas isso foi uma coisa incomum. A compactação dos baixistas e das informações de que o mercado ia cair para os US$ 8 foi muito forte e essas influências levaram muitos investidores a venderem o mercado, e agora eles têm que comprar de volta. Agora, não estão realizando lucros, mas estão realizando prejuízos.
Mercado Interno
No Brasil, o fechamento da semana também foi positivo tanto para os preços da soja no interior do país quanto aqueles praticados nos portos. O que limitou os ganhos no mercado interno, porém, foi a volatilidade do dólar ao longo dos últimos dias e sua estabilidade no encerramento da sessão desta sexta-feira (26).
A moeda norte-americana fechou com R$ 3,1282 estável frente ao real, acumulando um ganho, na semana, de 0,84%, depois de operar durante todo esse último pregão de lado, sem oscilações muito expressivas. Entretanto, os investidores se mantêm atentos, principalmente, às negociações - ainda sem sucesso - para a dívida da Grécia. Já no quadro doméstico, como informou a agência de notícias Reuters, atenções voltadas às perspectivas da intervenção do Banco Central sobre as taxas de juros no país.
Em Paranaguá, a soja disponível subiu 2,14% para R$ 71,50, enquanto em Rio Grande a alta foi de 1,84% para R$ 71,80 e, em Santos, o valor subiu 1,43% para terminar a semana em R$ 71,00. Já para a soja futuro, o ganho semanal no porto paranaense foi de 0,69% fechar em R$ 73,00 e, no gaúcho, a cotação começou e encerrou a semana em R$ 74,30 por saca.
No interior, os preços também subiram e o destaque ficou para a praça de Não-me-Toque/RS, onde a alta acumulada desde segunda-feira (22) foi de 4,27% para encerrar com R$ 61,00.
Diante dos últimos ganhos e dos dias de melhores referências de preços, os negócios no mercado brasileiro tomaram um pouco mais de ritmo. O conjunto de preços em Chicago e dólar valorizados, mais os prêmios que, apesar de ligeiramente pressionados, seguem positivos, motivou a comercialização e a volta dos produtores ao mercado, porém, de forma ainda comedida e cautelosa.
Para o consultor em agronegócio, Ênio Fernandes, essas boas oportunidades que vêm surgindo "devem ser respeitadas e as margens protegidas".