Cogeração de energia pode dar contribuição para mitigar riscos crescentes com saída da geração intermitente no fim da tarde
– A cogeração pode dar uma contribuição ainda mais relevante para a segurança energética do País diante do crescimento da geração de fontes intermitentes na matriz elétrica brasileira no fim da tarde, especialmente as solar-fotovoltaicas. E um dos primeiros passos, de acordo com a proposta apresentada em consulta pública pela Associação da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen), poderia acontecer com ajustes no Leilão de Reserva de Capacidade na forma de Potência de 2024 (LRCAP 2024).
Das três propostas, um dos destaques é a criação do ‘Produto Potência Termelétrica Sazonal’. Nessa modalidade, de acordo com o presidente executivo da Cogen, Newton Duarte, poderiam participar os empreendimentos de geração termelétrica, novos e existentes, com Custo Variável Unitário (CVU) maior que zero e o compromisso de entrega de potência em MW durante a safra canavieira – de abril a novembro, no caso da região Centro-Sul.
“Uma parte da capacidade instalada das usinas sucroenergéticas opera com turbinas de contrapressão relacionadas ao processo de cogeração e à fabricação de etanol/açúcar, as quais são classificadas com o CVU igual a zero. Outra parte da capacidade instalada atual, porém, opera com turbinas do tipo condensação, permitindo a entrega de potência, despachável durante a safra, desde que haja uma adaptação nas condições da flexibilidade operativa ("T-on", "T-off", "R-up", "R-dn" e "Gmin/Gmax"), uma vez que estamos tratando de turbinas a vapor”, explica o presidente executivo da Cogen.
“Nossa sugestão é que possamos ter uma parcela da capacidade atual das usinas sucroenergéticas capaz de entregar potência, com CVU maior do que zero e determinada flexibilidade operativa. Esse ajuste é positivo para o País, ao proporcionar a possibilidade de uma maior participação de fontes renováveis nos Leilões de Reserva de Capacidade”, acrescenta Duarte.
Outra proposta da Cogen é a criação do ‘Produto Potência Termelétrica Renovável’, com CVU maior que zero, envolvendo a geração com combustíveis renováveis. “Com essa proposta, queremos contribuir para desenvolver novos mercados e produtos, com o uso mais eficiente dos ativos de geração e das redes de transmissão e distribuição que servem as usinas, provendo a mitigação de riscos operacionais e comerciais com a geração também na entressafra”, diz Duarte. “Essa ideia propicia economias de escala e de escopo que surgirão desses novos arranjos de governança, além de trazer aos Leilões de Reserva de Capacidade a possibilidade de atendimento a potência com energia renovável e sustentável, sem prejudicar compromissos de redução de emissões assumidos pelo governo federal.”
Crescimento da geração de fontes intermitentes é desafio – Na interlocução com autoridades do setor energético, a Cogen tem demonstrado a importância de se criar condições para que o Brasil possa superar o desafio da rampa de geração de energia no fim da tarde – a chamada “curva do canyon”. “A complexidade da operação do sistema elétrico está cada vez maior”, destaca o diretor de Tecnologia e Regulação da Cogen, Leonardo Caio Filho.
Com o crescimento da participação da Micro e Minigeração Distribuída, principalmente através da energia solar fotovoltaica, o País ganha em renovabilidade para o sistema, mas, ao mesmo tempo, enfrenta um desafio em manter o atendimento da carga quando cessa essa geração de energia por volta das 17 horas, o que exige um grande esforço do operador do sistema para suprir essa lacuna, que já atinge 30 GW. Atualmente, a potência instalada de energia solar ultrapassa 46 GW. E os reservatórios de usinas hidrelétricas estão cada vez mais sendo usados como ‘baterias’, precisando elevar sua rampa de geração [vide figura]”, argumenta o diretor da Cogen.
“É preciso um planejamento tal de que o Brasil não tenha sua segurança energética comprometida. O fim da tarde é o momento em que muitas indústrias e escritórios estão funcionando, e que milhões de brasileiros chegam às suas residências, fazem uso de chuveiros elétricos, abrem suas geladeiras e acendem a luz. Acreditamos que o País deva estimular a cogeração como uma energia firme, não intermitente, distribuída, por ser gerada em usinas próximas dos pontos de consumo, e que já vem tendo um papel fundamental para o equilíbrio do sistema elétrico, sobretudo no período seco. Somente a geração com as biomassas poupam o equivalente a 16 pontos percentuais dos reservatórios do subsistema Sudeste-Centro-Oeste”, completa Caio Filho.