RS tem 113 mortos, 146 desaparecidos e mais de 337 mil desalojados por chuvas

Publicado em 10/05/2024 10:29

Por Leonardo Benassatto

CANOAS (Reuters) -O número de mortes confirmadas em decorrência das chuvas intensas no Rio Grande do Sul subiu para 113, ante 107 relatadas no dia anterior, com um óbito ainda sob investigação e 146 pessoas desaparecidas, informou a Defesa Civil do Estado em balanço divulgado na manhã desta sexta-feira.

Em seu comunicado, o órgão também relatou que o número de desalojados pela crise está em mais de 337 mil, sendo que 435 municípios gaúchos, de 497 no total, foram afetados pelos eventos climáticos. Mais de 1,9 milhão de pessoas foram atingidas.

As chuvas intensas provocaram o aumento do nível de uma série de rios no Estado, causando enchentes de grandes proporções em diversas cidades gaúchas e afetando os esforços das equipes de resgate para alcançar sobreviventes.

Além disso, os moradores do Estado passaram a enfrentar uma crise de abastecimento, com a escassez de alimentos e outros suprimentos básicos. Entidades e instituições de todo o país têm promovido doações de itens para a região, mas as enchentes têm dificultado a chegada dos suprimentos. O aeroporto da capital Porto Alegre, com a pista submersa, está fechado desde a semana passada.

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), alertou na quinta-feira que mais chuvas estão previstas para o Estado no fim de semana, indicando que os níveis dos rios podem atingir patamares superiores aos atuais.

"Ainda temos essa projeção de chuvas pelo final de semana que podem atingir talvez 300 milímetros em determinadas localidades, fazendo com que a água que está baixando volte a subir, talvez em níveis superiores que a gente já observou", disse Leite em entrevista à GloboNews.

Meteorologistas têm alertado para a possibilidade de ampliação das enchentes nas regiões sul e sudeste do Estado. As chuvas recentes estão sendo apontadas por autoridades como o pior desastre climático da história do Rio Grande do Sul.

O governo estadual ainda relatou nesta sexta-feira que existem mais de 163 mil pontos sem energia elétrica no Estado, enquanto 26 municípios estão sem serviços de telefonia e internet e mais de 385 mil moradores não possuem abastecimento de água no momento.

De acordo com comunicado do Estado, há 75 trechos em 47 rodovias estaduais com bloqueios totais ou parciais por conta das chuvas e suas consequências.

Em evento no Palácio do Planalto na quinta-feira, o governo federal anunciou uma série de medidas de auxílio ao Rio Grande do Sul. O pacote inclui ações específicas para trabalhadores assalariados, beneficiários de programas sociais, municípios gaúchos, empresas e produtores rurais.

Leite tem afirmado que a estimativa inicial somente para a recuperação do Estado, devido aos danos materiais e humanos causados pelas chuvas, está em torno de 19 bilhões de reais.

As chuvas também prejudicaram as colheitas do Estado, importante produtor de alimentos. A Emater, o órgão de assistência técnica do Rio Grande do Sul, informou na quinta-feira que a colheita de soja e milho progrediu de forma lenta no Estado na última semana devido às enchentes, resultando também em perdas produtivas "elevadas".

De acordo com o órgão, os produtores gaúchos colheram 78% dos campos de soja, o que representa um avanço de apenas dois pontos em relação à última quinta-feira. Pela média histórica, o Estado deveria ter colhido 89% das áreas nesta época.

LUTO E MEDO EM ABRIGO

Em Canoas, próximo à capital Porto Alegre e uma das cidades mais afetadas pelos eventos climáticos até o momento, cerca de 6 mil sobreviventes se reuniam em uma quadra da Universidade Luterana, que se transformou em um abrigo emergencial para pessoas desalojadas pelas enchentes.

"A gente está aqui só pela solidariedade de outras pessoas. É difícil", disse a sobrevivente Aparecida de Fátima Fagundes à Reuters, acrescentando que está tendo dificuldades para dormir tranquilamente em meio às incertezas geradas pela crise.

Enquanto aguarda no abrigo em busca de descobrir as perspectivas para seu futuro, Aparecida tenta passar o tempo brincando com seu neto, mas as lembranças do que considera "o dia mais difícil" de sua vida sempre retornam.

"Vem aquele filme na cabeça da gente das pessoas pedindo 'socorro, socorro'. O helicóptero salvando as pessoas. Era um cenário horrível", relatou.

Ela ainda contou que um sobrevivente teve seus itens roubados no abrigo, gerando um temor que complementa os já existentes sentimentos de perda e luto.

(Reportagem adicional de Fernando Cardoso, em São PauloEdição de Pedro Fonseca)

Fonte: Reuters

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