Ibovespa reage e fecha em alta atento a noticiário Lula/BC
Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - O Ibovespa fechou em alta nesta quinta-feira, revertendo a fraqueza do começo da sessão, com agentes financeiros repercutindo uma série de resultados corporativos, mas sem tirar do radar o noticiário envolvendo a rusga entre o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o Banco Central.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa subiu 0,31%, a 109.941,46 pontos. Mais cedo, na mínima, caiu a 108.377,51 pontos. O volume financeiro no pregão somou 24,7 bilhões de reais.
Na visão de Fabrício Gonçalvez, sócio-fundador e presidente-executivo da Box Asset Management, a melhora na bolsa paulista acompanhou declaração de Lula, de que não quer briga com o titular do BC, dado o conflito recente entre o presidente da República e Roberto Campos Neto.
Lula disse nesta quinta-feira que não tem interesse em brigar com o presidente do BC, a quem voltou a se referir como "cidadão", mas afirmou que a autoridade monetária precisa atuar com foco nos mais necessitados.
"Como presidente da República, não me interessa brigar com um cidadão que é presidente do Banco Central, que eu pouco conheço, eu vi ele uma vez", afirmou Lula em entrevista à CNN Brasil. Mas afirmou que a autoridade monetária precisa atuar com foco nos mais necessitados.
A temporada de balanços também ocupou as atenções no pregão, com os números de B3, Rumo, Ultrapar, Telefônica Brasil, entre outros. Ainda nesta quinta-feira, estão previstos os resultados de Vale, Lojas Renner e Hypera.
Wall Street, por sua vez, teve um fechamento negativo, com a pauta da sessão trazendo dados mais fortes do que o esperado sobre os preços ao produtor nos Estados Unidos e um número menor do que o esperado nos pedidos de auxílio-desemprego semanais. O S&P 500 recuou mais de 1%.
DESTAQUES
- B3 ON caiu 1,9%, a 11,37 reais, após a operadora de infraestrutura de mercado reportar resultado trimestral abaixo das expectativas de analistas, com maiores despesas operacionais e financeiras mais do que compensando o crescimento da receita. O Credit Suisse afirmou ver uma relação risco versus retorno pior para a B3, em meio a uma perspectiva deteriorada do mercado de capital, diante de um cenário de juros mais altos por mais tempo. Em teleconferência, executivos da B3 afirmaram que a companhia está se preparando para operar em um ambiente mais competitivo.
- RUMO ON avançou 2,98%, a 17,95 reais, na esteira do resultado trimestral mostrando que o Ebitda ajustado de outubro a dezembro somou 905 milhões de reais, alta de 116%, com aumento de margem. A companhia de logística do grupo Cosan também estimou ampliar em cerca de 30% seu resultado operacional de 2023, com estimativas de nova safra recorde de soja e de receitas crescentes no transporte de fertilizantes e de açúcar. A XP Investimentos avaliou que a Rumo forneceu "guidance" positivo para 2023 em relação às estimativas do mercado.
- VALE ON encerrou com acréscimo de 0,21%, a 89,19 reais, antes da divulgação do balanço do quarto trimestre na noite desta quinta-feira. O lucro da companhia deve atingir 0,63 dólar por ação, segundo estimativas compiladas pela Refinitiv. A performance do papel teve de pano de fundo alta dos contratos futuros de minério de ferro na Ásia, com a China reiterando determinação em apoiar o crescimento econômico por meio de estímulos. Papéis de siderúrgicas também tinham uma sessão positiva na B3.
- BRF ON reverteu as perdas e subiu 0,89%, a 6,77 reais, após recuar a 6,34 reais, tendo no radar relatório do Itaú BBA reiterando recomendação "market perform", definindo preço-alvo de 9 reais para o fim de 2023, bem abaixo dos 17 reais para o final de 2022. No setor, porém, MINERVA ON recuou 5,72% e JBS ON perdeu 3,26%, enquanto MARFRIG fechou com variação negativa de -1,17%.
- ITAÚ UNIBANCO PN avançou 0,75%, a 26,97 reais, e BRADESCO PN ganhou 1,89%, a 14,02 reais, endossando o fechamento positivo do Ibovespa.
- LOCALIZA ON valorizou-se 2,6%, a 58,09 reais, também respondendo por um suporte relevante no dia.
- ULTRAPAR ON caiu 1,68%, a 12,89 reais, tendo como pano de fundo balanço do quarto trimestre, com o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado, em termos recorrentes, recuando 29%, para 750 milhões de reais. Para o JPMorgan, a Ultrapar apresentou resultados fracos. Em relatório a clientes, Rodolfo Angele e equipe no banco afirmaram esperar uma revisão para baixo nas estimativas de analistas. "Acreditamos que o mercado se ajustará a um mercado mais difícil na distribuição de combustíveis."
- AMERICANAS ON, que está em recuperação judicial e não faz mais parte do Ibovespa, saltou 7,96%, a 1,22 reais - ainda distante dos 12 reais que valia antes do anúncio das "inconsistências contábeis". A varejista informou nesta quinta-feira que não conseguiu acordo sobre proposta para resolver a dívida da companhia com grandes credores financeiros. A varejista apresentou oferta que envolvia aporte de 7 bilhões de reais por seus acionistas de referência, além de recompra e conversão de dívida. Em paralelo, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes acatou pedido da Americanas para impedir o Bradesco de ter acesso a documentos e emails apreendidos em vistoria relacionada à varejista, de acordo com decisão vista pela Reuters.
- XP INC recuou 1,92%, a 15,89 dólares, em Nova York, antes da divulgação do balanço do quarto trimestre. Após o fechamento, a plataforma de investimentos reportou lucro líquido de 783 milhões de reais para o período, queda de 21% sobre o desempenho obtido um ano antes. A rentabilidade sobre o patrimônio ficou em 18,1% nos três últimos meses do ano passado ante os 24,4% no terceiro trimestre.