Vendas no varejo do Brasil caem mais que o esperado em novembro após 3 meses de altas
Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - As vendas varejistas do Brasil interromperam três mês de ganhos e registraram queda em novembro diante da pressão da inflação sobre os preços dos combustíveis e sem impulso da Black Friday.
Em novembro as vendas no varejo recuaram 0,6% sobre o mês anterior, de acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados nesta quarta-feira, leitura mais fraca para o mês desde 2015.
O resultado foi pior do que a expectativa em pesquisa da Reuters de queda de 0,3%, e deixa o setor 3,6% abaixo do maior nível da série, de novembro de 2020, mas ainda 2,6% acima do patamar pré-pandemia.
Na comparação o mesmo mês do ano anterior, as vendas subiram 1,5%, contra expectativa de 1,9%, e acumulam em 2022 até novembro avanço de 1,1%..
O varejo não deve ganhar forte tração à frente uma vez que o impacto positivo de estímulos fiscais e mercado de trabalho aquecido são compensados pelos juros altos e inflação pressionada.
"Os números divulgados hoje reforçam a tendência de que a economia brasileira está andando de lado, efeito dos juros altos no Brasil e da desaceleração da atividade econômica global como um todo", avaliou Claudia Moreno, economista do C6 Bank, calculando um reultado do PIB em torno de zero no quarto trimestre.
Entre as oito atividades pesquisadas, seis tiveram perdas em novembro, com destaque para as quedas no volume de vendas de 5,4% de Combustíveis e lubrificantes e de 3,4% de Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação.
“Novembro foi o primeiro mês em que os preços dos combustíveis voltaram a crescer após uma sequência de deflação que se iniciou em julho do ano passado", explicou o gerente da pesquisa, Cristiano Santos.
Em 2022, a redução da alíquota de ICMS sobre combustíveis ajudou a conter os preços durante alguns meses, bem como quedas nos custos do produto.
Santos disse ainda que a Black Friday, no fim de novembro, não teve grandes impactos positivos para o comércio varejista, o que foi evidenciado pela contração no volume de vendas de equipamentos e material de escritório depois de dois meses de forte crescimento.
"As condições macroeconômicas, como a falta de crescimento de crédito, a alta dos juros, a estabilidade do valor do Auxílio Brasil e a volta da inflação, acabam impactando a renda das famílias e diminuem o consumo”, disse Santos.
"As famílias estão direcionando os recursos para consumir o essencial para elas. Não tem sobrado para consumir o resto."
O volume de vendas do comércio varejista ampliado, que inclui veículos, motos, partes e peças e material de construção, também caiu 0,6% sobre o mês anterior.
O desempenho do varejo no país ficou em linha com a da produção industrial, que em novembro caiu 0,1%.