Dólar tem leve alta após dado de emprego dos EUA, mas marca maior perda semanal em mais de 2 meses

Publicado em 07/10/2022 17:10

Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar subiu ligeiramente frente ao real nesta sexta-feira, ao fim de sessão marcada por volatilidade na esteira de dados de emprego dos Estados Unidos, mas acumulou baixa de mais de 3% na semana, sua pior em mais de dois meses, sob forte influência da reação positiva do mercado local ao primeiro turno das eleições presidenciais.

A moeda norte-americana à vista teve variação positiva de 0,07%, a 5,2140 reais, depois de trocar de sinal várias vezes ao longo do pregão. No maior patamar do dia, atingido pouco depois da publicação dos dados dos EUA, o dólar subiu 0,83%, a 5,2537 reais. Na mínima, registrada no fim da manhã, o dólar caiu 0,31%, a 5,1941 reais.

O vaivém foi resultado de um "payroll", como é conhecido o relatório de emprego norte-americano, misto, disseram especialistas, com criação de empregos acima do esperado, mas ainda lenta na comparação com meses anteriores.

A maior economia do mundo abriu 263 mil vagas de emprego fora do setor agrícola no mês passado, disse o Departamento do Trabalho dos EUA, enquanto a taxa de desemprego caiu para 3,5%. Economistas consultados pela Reuters previam abertura de 250 mil postos de trabalho e manutenção do nível de desocupação em 3,7% em setembro.

"A divulgação do payroll deste mês indicou que, apesar de o dado ter mais uma vez superado a expectativa de mercado, o volume de novas vagas no mercado de trabalho norte americano vem perdendo força, com o resultado deste mês ficando bem abaixo da média de 2022, que é de 420 mil vagas", comentou Matheus Pizzani, economista da CM Capital.

Também chamou a atenção uma desaceleração no avanço anual dos salários da população norte-americana a 5,0%, de 5,2% em agosto. "Esse dado demonstra que a probabilidade de a atual variação dos salários levar a uma espiral inflacionária nos EUA permanece baixa", escreveu o analista do Banco Inter Vitor Martins Carvalho.

Mesmo assim, "o crescimento dos postos de trabalho deve demandar a manutenção da política monetária em terreno estritamente positivo por parte do Fed", conforme o banco central tenta frear a economia para reduzir a inflação, disse Pizzani, da CM Capital.

Na esteira do relatório de emprego, operadores de futuros vinculados à taxa básica de juros do Federal Reserve elevaram as apostas de que o banco central realizará um quarto aumento consecutivo de 0,75 ponto percentual nos custos dos empréstimos no mês que vem, o que elevaria seu aperto total desde março deste ano para 3,75 pontos.

Diante de ambiente de juros mais altos nos EUA, muitos investidores direcionam capital para o país, já que o rendimento de seus títulos fica mais atraente, ao mesmo tempo que oferece risco praticamente zero, explicou à Reuters Lucas Carvalho, analista-chefe da Toro Investimentos. Nesse contexto, a tendência num curto prazo é de valorização do dólar em relação ao real, disse ele, embora tenha reconhecido que a moeda local pode ter as perdas limitadas por fatores domésticos.

ALÍVIO LOCAL

O dólar caiu 3,34% em relação ao real sobre o fechamento da última sexta-feira, seu maior tombo semanal desde a queda de 5,91% registrada no período de 25 a 29 de julho passado.

O grosso das perdas veio na segunda-feira, primeiro pregão após o resultado do primeiro turno das eleições.

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi o mais votado no domingo, mas disputará um tenso segundo turno com o atual presidente Jair Bolsonaro (PT), que teve desempenho superior ao estimado pelas principais pesquisas de opinião. Os mercados interpretaram esse desdobramento como positivo, já que deve forçar Lula a moderar seu discurso e buscar alianças mais ao centro.

Investidores também se tranquilizaram após a formação de um Congresso significativamente alinhado a pautas conservadoras e liberais, que, na visão dos mercados, poderia evitar o avanço de eventuais agendas econômicas muito custosas sob o próximo governo, seja este de Lula ou de Bolsonaro.

Carvalho, da Toro, disse que o bom desempenho da atividade econômica brasileira e o adiantamento do processo de altas de juros do Banco Central --que trouxe a taxa Selic para os atuais 13,75%-- também colaboram para a resiliência do real, embora tenha alertado para a possibilidade de picos de volatilidade no câmbio à medida que a segunda rodada do pleito presidencial se aproxima.

Na B3, às 17:10 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,23%, a 5,2360 reais.

Fonte: Reuters

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