Alta adicional na Selic teria reforçado vigilância, mas cautela determinou manutenção da taxa, diz BC

Publicado em 27/09/2022 09:09

Por Bernardo Caram

BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central avaliou que uma elevação adicional da taxa Selic na semana passada teria reforçado postura de vigilância e refletiria uma atividade econômica mais forte do que esperada, mas a decisão final de manter a taxa em 13,75% considerou cautela e necessidade de avaliar os impactos do aperto feito até agora nos juros, conforme ata do Comitê de Política Monetária publicada nesta terça-feira.

De acordo com o documento, as opções de deixar a Selic no mesmo nível e de elevá-la em 0,25 ponto percentual foram "amplamente debatidas". A decisão de manter a taxa, segundo a ata, foi tomada diante dos dados divulgados, projeções, expectativas de inflação, balanço de riscos e defasagens dos efeitos da política monetária já em território significativamente contracionista.

A decisão do Copom da semana passada foi a primeira tomada de forma não unâmime pelo colegiado em seis anos em meio, com dois diretores votando por uma elevação residual de 0,25 ponto percentual da taxa básica de juros.

“Esses membros argumentaram que a alta adicional fortaleceria a mensagem de comprometimento do Comitê com sua estratégia, diante da elevação das expectativas de inflação e da projeção no cenário de referência para o ano de 2024, em ambiente de incerteza sobre o nível do hiato do produto e a dinâmica da atividade”, disse a ata.

Segundo o documento, os membros divergentes (Fernanda Guardado e Renato Gomes) avaliaram que os riscos de alta da inflação podem ter impactos mais duradouros caso se materializem, e sugeriram cautela adicional na avaliação das projeções do cenário de referência para o ano de 2024.

Na semana passada, o BC manteve a Selic em 13,75% ao ano, interrompendo às vésperas da eleição presidencial seu agressivo ciclo de aperto monetário para controlar a inflação, mas ponderou que não hesitará em retomar as altas nos juros se a redução dos preços não transcorrer como o esperado.

No documento divulgado nesta quarta, o BC voltou a levantar questionamentos sobre a situação fiscal do país, em meio a promessas de candidatos à eleição de manter benefícios sociais turbinados e corrigir a tabela do Imposto de Renda no ano que vem, sem detalhar fontes de custeio das medidas.

Para a autoridade monetária, um aumento de gastos de forma permanente e a incerteza sobre a trajetória das despesas públicas a partir de 2023 podem elevar os prêmios de risco do país e as expectativas de inflação.

"O Comitê reitera que há vários canais pelos quais a política fiscal pode afetar a inflação, incluindo seu efeito sobre a atividade, preços de ativos, grau de incerteza na economia e expectativas de inflação", disse.

O BC destacou que o mercado de trabalho seguiu em expansão no país, ainda que sem reversão completa da queda real dos salários observada nos últimos trimestres, e reforçou que ainda não foi observado grande parte do efeito do ciclo de aperto monetário feito até o momento.

"Esses impactos devem ficar mais claros nos indicadores de atividade ao longo do segundo semestre, mas o Comitê antecipa que medidas de sustentação da demanda agregada dificultam uma avaliação mais precisa sobre o estágio do ciclo econômico e dos impactos da política monetária", disse.

 

(Por Bernardo Caram)

Fonte: Reuters

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