Juros e dólar disparam por surpresa com tônica dura com a inflação de autoridades do BC

Publicado em 06/09/2022 12:51 e atualizado em 06/09/2022 14:18

Por José de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - Os mercados de renda fixa e câmbio no Brasil sofriam um golpe nesta terça-feira, com disparada nas taxas de DI e um rali do dólar acima de 5,24 reais, que deixava a moeda brasileira na lanterna global, num profundo ajuste após falas consideradas duras de duas autoridades do Banco Central colocarem em xeque a perspectiva de fim do ciclo de aperto monetário.

A correção expressiva nos preços locais ocorria ainda em meio a um humor questionável no exterior, ainda por temores de altas de juros que sufoquem as economias. Mas a piora nos ativos domésticos era mais visível, numa reversão clara do comportamento mais benigno de algumas semanas patrocinado, em parte, pela perspectiva de que os juros por aqui parariam de subir.

Os comentários de mercado logo depois do último comunicado de política monetária do BC, no começo de agosto, foram de que o Brasil ficaria mais atrativo a partir de então, uma vez que as taxas de juros tenderiam a ir na direção de queda, o que elevaria os retornos via carrego dos papéis de renda fixa.

O maior apelo da dívida brasileira chamaria, assim, fluxo internacional, aumentando a liquidez em moeda estrangeira e exercendo pressão de baixa sobre o dólar.

O impacto da ideia de encerramento da alta de juros também impulsionou as ações da bolsa brasileira, uma vez que o desconto a valor presente pararia de aumentar com a estabilidade do juro --podendo cair quando o BC iniciasse o ciclo de queda da Selic, que algumas casas previam já para o primeiro semestre de 2023.

"Mas o BC indicou agora que o processo de queda da Selic pode não acontecer como o mercado precifica", disse Filipe Villegas, estrategista da Genial Investimentos, para quem o presidente do BC, Roberto Campos Neto, tentou passar na véspera mensagem "bastante" alinhada à que vem sendo emitida pelos principais bancos centrais globais.

Na noite de segunda-feira, Campos Neto disse que o Banco Central não pensa em queda de juros neste momento, mas em convergir a inflação às metas, ressaltando que situação inspira cuidados e que a batalha contra a alta de preços no país não está ganha.

Nesta manhã, o diretor de Política Monetária do Bacen, Bruno Serra, foi ainda mais explícito e disse que o banco discutirá um possível ajuste residual na taxa básica de juros neste mês, acrescentando que o processo de controle inflacionário no Brasil ainda é bem incipiente.

Ambos adotaram tônicas consideradas mais "hawkish", jargão da comunidade financeira que se refere a uma abordagem mais inclinada à contração da política monetária, implicando restrição de liquidez.

Com a perspectiva de que os juros demorem mais a cair, as projeções para o custo do dinheiro dispararam, nocauteando outros mercados. Na B3, as taxas de DI entre 2024 e 2027 saltavam até 33 pontos-base, com redução da inclinação --movimento clássico em momentos de forte aperto monetário.

A possibilidade de menor fluxo de capital advindo de investimentos que se beneficiam da queda dos juros ajudava a impulsionar o dólar, que subia 1,5% e superou na máxima 5,24 reais, com o real na liderança das quedas entre as principais moedas globais em dia de ganhos generalizados da divisa norte-americana.

Na bolsa, o Ibovespa caía mais de 2%, de longe o pior desempenho entre vários pares. As ações de consumo discricionário, mais vulneráveis ao encarecimento do crédito, despencavam mais de 5%, minando o índice geral.​​

Fonte: Reuters

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