Dólar supera R$5,50 e se aproxima de zerar perdas no ano
O dólar acelerou seus ganhos nesta quinta-feira e operava acima da marca de 5,50 reais em meio a negociações voláteis, com participantes do mercado reagindo à decisão de política monetária do Banco Central Europeu (BCE) e continuando de olho nos riscos político-fiscais domésticos.
Às 14:23 (de Brasília), o dólar à vista avançava 0,75%, a 5,5014 reais na venda. A última vez que a moeda norte-americana fechou um pregão acima dos 5,50 reais foi no dia 24 de janeiro passado (5,5070). Com esse desempenho, basta valorização de 1,3% para que a moeda norte-americana apague completamente as perdas acumuladas contra o real até agora neste ano.
Na B3, às 14:23 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,49%, a 5,5135 reais.
O comportamento do real --que chegou a ser negociado em território positivo no início do pregão-- estava em linha com uma piora no desempenho de outras moedas de países emergentes ou exportadores de commodities, como dólar australiano, peso mexicano e peso chileno.
O foco dos mercados internacionais estava na notícia de que a taxa de depósito do BCE foi elevada em 0,50 ponto percentual, para 0%, num esforço para conter a inflação recorde na zona do euro. Até poucos dias atrás, o cenário precificado pelo mercado --baseado em indicações anteriores do próprio BCE-- era de alta de juros de apenas 0,25 ponto percentual.
Na esteira da decisão, o euro chegou a subir acentuadamente, a 1,0278 dólar, mas logo devolveu seus ganhos. Por volta de 14h15 (de Brasília), a divisa única rondava a estabilidade, a 1,0180 dólar.
Num geral, quanto mais altos os custos dos empréstimos em determinada economia, mais sua moeda tende a se beneficiar, já que juros elevados impulsionam os retornos da renda fixa local, atraindo investimentos estrangeiros. Por outro lado, condições monetárias mais apertadas levantam a ameaça de desaceleração do crescimento econômico, o que eventualmente pode pesar no sentimento dos mercados globais.
"O dólar está se fortalecendo maciçamente", disse em postagem no Twitter Robin Brooks, economista-chefe do Instituto de Finanças Internacionais (IIF). Apesar de estabilidade vista nesta tarde, o índice do dólar contra uma cesta de rivais fortes ainda está em patamares historicamente elevados, depois de ter alcançado na semana passada novo pico em 20 anos.
"Até quatro semanas atrás, (a valorização do dólar) era principalmente contra (moedas do) G10, mas agora também é contra mercados emergentes. Os mercados não gostam da combinação de recessão iminente e aumentos agressivos de juros pelos bancos centrais. Isso está dirigindo um voo para a segurança do dólar."
Passado o efeito do encontro de política monetária do BCE, investidores devem voltar as atenções para o próximo encontro do Federal Reserve, na semana que vem. A expectativa dos mercados é de que o Fed repita aumento de juros de 0,75 ponto percentual na ocasião, e qualquer sinalização mais dura da instituição pode jogar a favor do dólar.
No Brasil, colaborava para movimentos de aversão a risco a incerteza política crescente com a aproximação das eleições presidenciais de outubro, enquanto recentes medidas do governo para ampliar e criar novos benefícios sociais continuavam repercutindo de forma negativa entre os investidores, que temem pela deterioração da credibilidade fiscal do Brasil.