BC indica taxa de juros alta por período prolongado para controlar inflação
Por Bernardo Caram
BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central indicou que há necessidade de manter a taxa básica de juros em nível elevado por período prolongado para levar a inflação a patamar próximo à meta fiscal em 2023, conforme ata do Comitê de Política Monetária publicada nesta terça-feira, reforçando que pretende fazer novo ajuste igual ou menor que 0,5 ponto percentual na Selic em agosto.
"O Comitê avalia, com base nas projeções utilizadas e seu balanço de riscos, que a estratégia requerida para trazer a inflação projetada em 4,0% para o redor da meta no horizonte relevante conjuga, de um lado, taxa de juros terminal acima da utilizada no cenário de referência e, de outro, manutenção da taxa de juros em território significativamente contracionista por um período mais prolongado que o utilizado no cenário de referência”, disse a autarquia no documento.
A reunião de junho marcou uma mudança de tom do BC, que passou a dizer que sua decisão é compatível com a convergência da inflação "para o redor da meta" ao longo do horizonte relevante, e não mais "para as metas", como dizia em maio.
Conforme explicitado na ata, mesmo a estratégia de convergência para o redor da meta exige uma taxa de juros mais contracionista do que o utilizado no cenário de referência do BC por todo o horizonte relevante, que agora foca em 2023.
Na semana passada, Banco Central subiu a taxa Selic em 0,5 ponto percentual, a 13,25% ao ano, e disse que antevê um novo ajuste, de igual ou menor magnitude, na reunião de agosto.
Na avaliação do Copom, de acordo com a ata, eventual decisão de apenas manter a Selic em 12,75% ao ano na reunião de junho, travando essa taxa por período "suficientemente longo", não asseguraria a convergência da inflação para o redor da meta no horizonte relevante.
No comunicado da última semana, a autoridade monetária afirmou que as medidas de cortes de tributos para baratear combustíveis, energia e telecomunicações, em tramitação no Congresso, reduzem sensivelmente a inflação neste ano, mas elevam, em menor magnitude, a inflação no horizonte relevante da política monetária.
A afirmação foi reforçada na ata, destacando que as atuais projeções do BC não levam em conta possíveis efeitos dessas medidas.
"O Comitê reforça que a incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país e políticas fiscais que sustentem a demanda agregada podem trazer um risco de alta para o cenário inflacionário e para as expectativas de inflação", afirmou.
De acordo com a ata, o crescimento de grandes economias tem sido revisado para baixo, tanto para este ano quanto para 2023, em função da expectativa de reversão dos estímulos implementados durante a pandemia, destacando revisões negativas de crescimento na China, em parte refletindo a política de Covid zero.
"O Comitê já antecipa uma desaceleração da atividade global nos próximos trimestres, em função das tensões geopolíticas e do aperto na política monetária e nas condições financeiras em curso em diversas economias centrais", disse.
Para o BC, políticas que restringem o comércio de produtos agrícolas em países produtores de commodities, junto aos efeitos da guerra na Ucrânia, trazem um risco adicional para as pressões inflacionárias globais, podendo ter consequências de longo prazo e se traduzir em pressões inflacionárias mais prolongadas.
A autarquia disse acreditar, porém, ser possível uma reversão ainda que parcial do aumento de preços das commodities internacionais.
ATIVIDADE
Em relação ao Brasil, o BC afirmou que indicadores sinalizam crescimento econômico maior do que o previsto, com o mercado de trabalho em recuperação. Ressaltou que o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre apontou ritmo de atividade acima do esperado, elevando o carregamento estatístico para este ano.
A autarquia lembrou ainda que a defasagem da política monetária deve fazer com que o ciclo de alta da Selic impacte a economia mais fortemente a partir do segundo semestre deste ano, levando a uma desaceleração da atividade.
O colegiado avaliou que a inflação ao consumidor no Brasil segue elevada e mais persistente que o antecipado, com choques ainda levando a um forte aumento de preços em componentes ligados a combustíveis e alimentos. Reforçou que as suspresas inflacionárias seguiram ocorrendo mesmo nos itens da inflação subjacente --que desconsidera componentes mais voláteis.
Conforme apresentado no comunicado da semana passada, o BC agora vê o IPCA em 8,8% no fim deste ano, ante projeção de 7,3% na última reunião. A projeção passou de 3,0% para 4,0% em 2023, acima do centro da meta. Em 2024, iria a 2,7%.
A meta de inflação para este ano, já abandonada pelo Banco Central, é de 3,5%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. A meta é 3,25% para 2023 e 3,0% para 2024, também com a mesma margem.
A autarquia também confirmou que as expectativas de inflação do mercado para 2022, 2023 e 2024 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 8,5%, 4,7% e 3,25%, respectivamente.
O BC vem implementando um duro ciclo de aperto monetário desde o início de 2021 para tentar controlar a disparada da inflação.
Com a decisão deste mês, a autarquia levou a Selic a um patamar 11,25 pontos acima da mínima histórica de 2%, atingida em meio à pandemia de Covid-19 e que vigorou até março do ano passado. Foi a 11ª elevação consecutiva da taxa básica, ao nível mais alto desde janeiro de 2017, quando estava em 13,75% ao ano.
Em maio, o IPCA desacelerou e veio abaixo do esperado pelo mercado ao registrar uma alta de 0,47%. A inflação acumulada em 12 meses segue acima de dois dígitos, com elevação de 11,73%.