Nova revisão no teto de gastos é "muito provável" em 2023, avalia Citi

Publicado em 08/06/2022 14:15

Um aumento do gasto público é provável tanto sob um novo governo Jair Bolsonaro quanto com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e outro ajuste no teto de gastos é "muito provável" em 2023, com uma maior interferência na economia podendo agravar distorções, disseram profissionais do Citi em relatório.

Na segunda parte do documento intitulado "O Caminho para o Palácio: a Rota do Gasto", os profissionais avaliaram que o desejo de Lula de aumentar gastos é "evidente", mas com possibilidade de elevação de impostos. Já Bolsonaro também buscaria maiores despesas --menos que o rival petista, mas, por outro lado, com menor disposição de financiá-las via subida de tributos.

A implicação para os ativos financeiros seria "ainda incerta" em ambos os casos, mas o Citi entende que sob Lula a perspectiva "parece carregar mais incerteza do que com Bolsonaro, especialmente considerando que há maior incerteza sobre sua relação com o Congresso (ou seja, sua coalizão)".

Na véspera, dólar e juros dispararam com perspectiva de fragilização das contas públicas após o governo propor ressarcir Estados em troca de zeragem do ICMS sobre alguns produtos --com rombo estimado entre 40 bilhões de reais e 50 bilhões de reais em recursos fora do teto de gastos. O objetivo é baixar uma inflação de dois dígitos num momento em que Bolsonaro continua atrás de Lula nas pesquisas de intenção de voto.

Independentemente de quem vencer a eleição de outubro, o Citi vê como bastante provável em 2023 nova flexibilização do teto de gastos --ainda tido pelo mercado como âncora fiscal e que limita o crescimento das despesas.

Entre os argumentos, os profissionais citam que os gastos obrigatórios aumentaram acentuadamente ao longo dos anos e que são altamente indexados, diminuindo a margem de manobra do governo.

Além disso, surpresas positivas nos resultados fiscais desde o segundo semestre de 2021 (principalmente ligadas à inflação surpreendentemente alta) vêm aumentando a disposição dos políticos de gastar mais. Exemplo disso, segundo o banco norte-americano, é o consenso aparentemente formado entre Executivo e Legislativo sobre o ICMS.

Em terceiro lugar, o Citi lembra que o governo e/ou o Congresso afrouxaram o teto de gastos algumas vezes nos últimos anos, diminuindo sua credibilidade como âncora fiscal e reforçando a visão de que, pelo menos do ponto de vista político, o instrumento seria estruturalmente modificado em algum momento.

Sob um novo governo disposto a aumentar impostos, o Citi considera que uma reforma tributária poderia mitigar as distorções causadas pelo aumento das cobranças. "Aumentar a carga tributária pode elevar ainda mais as distorções econômicas causadas por ela, mas fazê-lo por meio da aprovação da reforma tributária (que simplificaria o sistema tributário) pode mitigar o efeito negativo sobre o crescimento potencial do PIB."

Fonte: Reuters

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Ações sobem após dados de inflação, mas acumulam queda na semana
Dólar cai após BC vender US$7 bi e Senado aprovar pacote fiscal
Taxas futuras de juros voltam a ceder com aprovação do pacote fiscal e comentários de Lula
Transição com Galípolo mostra que BC técnico permanece, diz Campos Neto
Ações europeias têm pior semana em mais de três meses, com queda no setor de saúde
Presidente do Fed de NY diz que BC dos EUA segue no caminho certo para cortes de juros
undefined