Incertezas impõem teto de 0,50 p.p. para alta de juros, diz ex-BC que vê dólar acima de R$5 no fim do ano

Publicado em 16/03/2021 16:31

A piora nas expectativas para a economia, o ambiente de incertezas citado nas últimas comunicações do Banco Central e recentes medidas sobre compulsórios indicam que o BC vai limitar o aumento da Selic na quarta-feira a 0,50 ponto percentual, com o juro caminhando para fechar o ano entre 5% e 5,50%, disse Sergio Goldenstein, consultor independente da Ohmresearch Independent Insights.

"Teremos um crescimento (econômico) de 2,5% neste ano. É medíocre", disse, avaliando ainda que as expectativas de inflação para 2022 --atualmente o ano mais importante no horizonte relevante da política monetária-- não foram contaminadas pelas pressões que se abatem sobre o cenário inflacionário para 2021.

Além disso, o consultor entende que ser mais agressivo na política monetária agora poderia levantar dúvidas sobre o conceito de que não há relação mecânica entre as políticas cambial e monetária.

Goldenstein, ex-chefe do Departamento de Operações de Mercado Aberto do Bacen, acredita que a normalização da política monetária dará algum suporte ao câmbio, reduzindo o caso, nas condições atuais, de o dólar ir para 6 reais. Contudo, ele tampouco vê a moeda abaixo de 5 reais.

O dólar estava em torno de 5,61 reais nesta terça-feira.

"O início da correção na Selic ajuda na correção do câmbio, mas o câmbio depende de mais do que a Selic: depende do quadro fiscal, termos de troca, comportamento global do dólar, Treasuries, ambiente político", disse, afirmando que, na margem, o fiscal ficou mais delicado e o cenário externo se tornou menos favorável.

"O cenário para a economia real é mais delicado, menos favorável. E isso, por consequência, afeta os ativos financeiros do país."

Do lado da política monetária, o ex-diretor do BC avalia que a própria elevação dos juros é um sinal "hawkish" (mais duro com a inflação) ao mercado e que, no comunicado, o Copom deveria evitar se comprometer com um cenário específico.

"Num ambiente de incerteza o BC não tem ganhos ao sinalizar os próximos passos. O comunicado tem que deixar opções em aberto, de modo que o mercado possa entender que, se o balanço de riscos continuar a deteriorar, o BC pode, sim, ajustar o ritmo na frente", afirmou, considerando que, nesse caso, "nada impediria" o BC de aumentar os juros em 0,75 ponto percentual à frente.

Fonte: Reuters

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Governo confirma contenção de gasto e vê déficit fiscal de R$28,8 bi em 2024, limite da banda de tolerância
Wall St encerra em alta com retorno de investidores às megacaps
Dólar cai ante real em dia favorável para as moedas emergentes
Arrecadação de junho teve alta real de 11%, mas ganhos ainda estão abaixo do necessário, diz secretário da Receita
Ibovespa tem alta modesta com Embraer e Petrobras minando efeito positivo de Wall Street
Taxas futuras de juros caem em dia positivo para emergentes e de confirmação de cortes de gastos no Brasil