Brasil contabiliza 900 mortes por dois dias seguidos: Epidemia fora do controle?

Publicado em 16/12/2020 20:15

RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - O Brasil superou nesta quarta-feira outras duas barreiras trágicas da pandemia de Covid-19, ao registrar um novo recorde diário de casos, com 70.574 infecções, e passar de 7 milhões de casos confirmados da doença provocada pelo novo coronavírus, que voltou a se disseminar com força pelo país e se aproxima novamente da casa de 1 mil mortes por dia.

A aceleração dos casos no país nas últimas semanas levou o Brasil a acumular 1 milhão de infecções confirmadas em apenas 26 dias -- ritmo visto pela última vez entre os meses de agosto e setembro. O aumento de 5 milhões para 6 milhões havia levado 44 dias, num período em que a epidemia parecia estar sendo controlada, antes de voltar a crescer.

Com o recorde de 70.574 novos casos registrado nesta quarta-feira, o país totaliza agora 7.040.608 infecções do novo coronavírus, segundo o Ministério da Saúde. O número supera o recorde diário anterior, de 69.074 casos, em 29 de julho.

Além disso, o recorde desta quarta foi batido mesmo sem a contabilização dos dados diários de São Paulo, Estado com maior número de casos e mortes por Covid-19 no Brasil. Segundo nota do governo paulista, o Estado "foi impossibilitado de fazer o processamento total de dados de Covid-19 devido a novas falhas no sistema SIVEP do Ministério da Saúde".

O Estado que mais contribuiu para a contagem nacional nesta quarta-feira foi o Paraná, que computou mais de 20.197 casos no dia.

Também foram notificadas nesta quarta-feira 936 novas mortes em decorrência da Covid-19 no Brasil, com o total de vítimas fatais atingindo 183.735, conforme os dados do ministério. O Brasil é o segundo país do mundo com mais mortes por Covid, atrás apenas dos Estados Unidos, e o terceiro em casos, atrás de EUA e Índia.

Esta é a primeira vez em três meses em que o país registra mais de 900 óbitos por dois dias seguidos.

EPIDEMIA SEM CONTROLE

Depois de atingir um pico no final de julho, com média na semana de 45 mil casos e quase 1.100 mortes novos por dia, a Covid-19 chegou a recuar para o patamar de 20 mil casos e 425 mortes por dia no final de outubro. Na última semana epidemiológica, no entanto, o número médio de novos casos por dia foi de 43 mil, retomando o patamar de agosto. A média de óbitos por dia ficou em 642, voltando aos números de setembro.

Segundo epidemiologistas, o chamado "repique" da Covid-19 no Brasil foi impulsionado principalmente pelo relaxamento da adesão das pessoas às medidas de distanciamento social e ao menor uso de máscara, após diversos meses de uma quarentena que foi perdendo força com o passar do tempo.

Segundo dados do Google, o transporte público e os locais de trabalho no país têm registrado frequência de pessoas inclusive maior do que antes das quarentenas impostas devido à pandemia, enquanto a mobilidade em lugares como restaurantes, cafés e shopping centers está bem maior do que no início da crise.

"No primeiro ciclo de transmissão, conhecido como primeira onda, foram as classes D e E e boa parte da C, que, por questões socioeconômicas óbvias e condições precárias de moradia, se infectaram em massa. Nesse novo ciclo, estamos vendo as classes A e B que saíram de casa e estão se contaminando em escritórios, reuniões, restaurantes, reuniões familiares", disse o ex-secretário nacional de Vigilância em Saúde, Wanderson Oliveira.

"Além de turismo que tem ampliado, e me preocupa o período de dezembro a janeiro. Podemos ter um sério risco de falta total de controle da pandemia", acrescentou, lembrando que várias cidades do país estão com leitos hospitalares no limite da ocupação.

O Brasil atingiu o primeiro milhão de casos de Covid-19 em 19 de junho, após quase quatro meses desde o início da pandemia, mas chegou a 2 milhões em apenas mais 27 dias e passou para 3 milhões em mais 23 dias, demonstrando a aceleração do surto naquele momento. Depois, com o início da desaceleração, foram necessários 26 dias para o quarto milhão, atingido no início de setembro, e 34 dias para o milhão seguinte, alcançado em outubro.

Nesta semana, a taxa de contágio da Covid-19 no Brasil atingiu a marca de 1,13, o que significa que cada 100 pessoas com o vírus contaminam outras 113, de acordo com o Imperial College de Londres. A taxa, que passou semanas seguidas abaixo de 1,0 em setembro e outubro, indicando redução da transmissão, bateu a marca de 1,30 em novembro, o maior patamar desde maio.

Durante o período de acúmulo do sétimo milhão de casos o Brasil passou pelo processo das eleições municipais que, além de ter promovido aglomerações, levou governantes a adiarem medidas mais rígidas de contenção da circulação de pessoas.

No caso de São Paulo, por exemplo, o governador João Doria anunciou o recuo da flexibilização da quarentena na capital paulista e em outras regiões no dia seguinte ao segundo turno da eleição municipal, e o mesmo aconteceu em outros Estados brasileiros.

"Eu não debito à democracia, mas sim ao clima de acabou a pandemia, relaxamento das medidas, e primeiro dia depois das eleições virem com esse enrijecimento que deveria ter sido tomado antes", disse o médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) e ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

"O que as vezes me parece é algumas tentativas de explicações mágicas. Não tem milagre, tem gente na rua, as pessoas saíram, encontram o vírus e aumentam as mortes".

(Reportagem adicional de Lisandra Paraguassu, em Brasília, e Eduardo Simões, em São Paulo).

Enquanto Bolsonaro se recusa a tomar vacina, ministério planeja campanha para convencer população, diz a Reuters

BRASÍLIA (Reuters) - O governo federal vai investir em uma campanha publicitária para convencer os brasileiros da importância e da segurança das vacinas a serem usadas contra a Covid-19 no país, ao mesmo tempo em que o presidente Jair Bolsonaro se recusa publicamente a tomar o imunizante, quando estiver disponível.

Plano de vacinação apresentado nesta quarta-feira pelo governo prevê uma campanha publicitária em duas fases. A primeira sobre o processo de produção e aprovação das vacinas, "com vistas a dar segurança à população em relação a eficácia do(s) imunizante(s) que o país vier a utilizar, bem como da sua capacidade operacional de distribuição."

A segunda fase será para informar a população sobre a importância da vacinação e também sobre públicos prioritários, locais de vacinação, etc, a ser feita assim que houver a definição dos medicamentos a serem usados.

Segundo o plano de governo, a campanha tem "o objetivo de quebrar crenças negativas contra a vacina, alcançando assim os resultados e metas almejadas."

Um dia antes do governo apresentar o plano, Bolsonaro afirmou, com ênfase, que não vai se vacinar. "Eu não vou tomar vacina e ponto final. Minha vida está em risco? O problema é meu", disse o presidente, que já teve Covid-19, em entrevista à TV Band.

Especialistas apontam que é preciso entre 70% e 80% da população imunizada para garantir a chamada imunidade de rebanho, que reduz a circulação do vírus e ajuda a proteger aqueles que não podem, por algum motivo, se vacinar.

No caso da Covid-19, as vacinas já irão deixar de fora, inicialmente, a população abaixo de 16 anos, já que nenhum dos imunizantes desenvolvidos até agora foi testado em crianças e adolescentes. Com isso, aumenta o percentual de adultos que precisa ser vacinado para que o país ganhe um nível de proteção.

No entanto, a última pesquisa Datafolha mostrou que vem caindo a disposição dos brasileiros em se vacinar. Em agosto, 89% dos brasileiros estavam dispostos a se vacinar. Em dezembro, esse número caiu para 73%. Ao mesmo tempo, 22% dos entrevistados agora disseram que não querem tomar vacina, enquanto há quatro meses eram 9%.

Entre os apoiadores do presidente, a parcela dos que não querem se vacinar sobe para 30%.

A campanha planejada pelo governo mostra, entre as mensagens centrais, que o programa nacional de vacinação do país tem mais de 50 anos de atuação e trabalha com vacinas eficazes e seguras. Também vai reforçar que a vacinação é necessária para reduzir a circulação do vírus e proteger os mais vulneráveis.

Os slogans da campanha, de acordo com o plano do governo, serão "Brasil Imunizado, somos uma só nação", "Vacina Segura - É o Governo Federal cuidando dos brasileiros" e “A vacina é um direito seu. Cuidar de você é Dever nosso!"

Além da campanha, a estratégia de comunicação do ministério prevê "monitoramento de redes sociais para esclarecer rumores, boatos e informações equivocadas" que podem levar pessoas a evitar se vacinar.

Com alta de casos e mortes por Covid-19, Bolsonaro fala em "quase normalidade" (Reuters)

(Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quarta-feira que o Brasil vive uma "situação de quase normalidade", ignorando as altas recentes nos números de casos confirmados e de mortes por Covid-19 no país.

"Quem esperava depois de meses difíceis chegarmos a uma situação de quase normalidade ainda em 2020? A quem devemos tudo isso? Em primeiro lugar a ele. E depois a vocês que estão aqui, os ministros incluídos, que trabalharam incessantemente, foram iluminados, e conseguiram com suas ações, usando para o bem a máquina do Estado, para fortalecer e dar esperança a mais de 200 milhões de pessoas", disse Bolsonaro em discurso durante cerimônia religiosa no Palácio do Planalto.

O Brasil deve superar nesta quarta-feira a marca de 7 milhões de casos de Covid-19, após registrar um ritmo de disseminação do coronavírus que não era visto desde agosto e setembro. Na véspera, o país registrou 964 mortes pela doença, o maior número desde setembro.

Na semana passada Bolsonaro já havia falado que o Brasil vive "o finalzinho da pandemia".

Segundo epidemiologistas, o chamado "repique" da Covid-19 no Brasil foi impulsionado principalmente pelo relaxamento da adesão das pessoas às medidas de distanciamento social e ao menor uso de máscara, após diversos meses de um isolamento social que foi perdendo força com o passar do tempo.

Bolsonaro sempre se declarou contrário ao isolamento social e ao uso da máscara. Em praticamente todos os eventos que participa, o presidente não usa máscara, assim como todos seus assessores mais próximos.

Fonte: Reuters

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