Taxas de juros sobem fortemente com revés fiscal e derrota política do governo

Publicado em 20/08/2020 09:35

Os juros futuros abriram em alta fortíssima em reação à derrota política do governo Bolsonaro no Senado - especificamente da proposta do ministro Paulo Guedes de impedir aumento salarial a servidores até 2021. O revés acontece em um momento crítico e de decisão sobre o encaminhamento das contas públicas e de assunção do mercado de melhora da cena política, com aumento da base aliada do governo no Congresso.

Contratos longos e intermediários abriram esta quinta-feira com um avanço de 30 pontos-base ou mais. O DI para janeiro de 2025, por exemplo, abriu com alta de 37 pontos-base, a 6,20%, ante os 5,83% no ajuste de ontem. Já o DI para janeiro de 2029 abriu com diferença de 20 pontos-base, a 7,61% ante 7,41% no ajuste de quarta-feira, mas bateu máxima a 7,73% e entrou em leilão de alguns minutos.

Quando o dólar arrefeceu das máximas intraday ante o real, minutos depois da abertura igualmente nervosa no câmbio, a alta da taxas também cedeu um pouco, sendo que alguns contratos marcaram mínimas. Às 9h13, o DI jan/25 exibia 6,05%. O DI jan/27 estava na mínima de 7,08% ante 7,18% na abertura e 6,85% no ajuste de ontem. DI para janeiro de 2022 abriu a 2,91% ante 2,78% no ajuste de ontem e, no horário citado, estava em 2,83%.

Nesta quarta-feira, os senadores derrubaram veto presidencial a aumento de salário de militares, professores, profissionais da segurança pública, entre outras categorias, como acertado em maio na lei de socorro bilionário para Estados e municípios. A decisão custará em torno de R$ 130 bilhões, segundo o Ministério da Economia, e precisa ser avaliada pela Câmara. A votação dos deputados está prevista para hoje às 15h.

A permissão de aumentar salários acontece um dia depois de o mercado elevar a aposta na agenda liberal do governo Bolsonaro e de justificar a renovação do voto de confiança em elementos como aumento da base aliada no Congresso.

Do exterior, a influência é negativa para ativos locais. As bolsas na Europa estão em queda, assim como os índices acionários futuros de Nova York, contagiados pelo pessimismo sobre a retomada econômica americana do Banco Central dos Estados Unidos. "A ata trouxe cautela aos agentes de mercado ao revelar uma autoridade monetária com dúvidas sobre a sustentação da retomada econômica", diz a Tendências.

Na Europa, continua grande a preocupação com uma segunda onda de da pandemia e com o reflexo global do conflito comercial EUA x China. Em ata divulgada há pouco, o Banco Central Europeu alertou que "recentes desdobramentos positivos dos mercados não são apoiados plenamente por dados".

Da agenda local, o destaque é a arrecadação de julho (14h30), que deve ser de R$ 116,4 bilhões segundo mediana calculada pelo Projeções Broadcast. Mais cedo, a FGV divulgou que o Índice de Confiança da Indústria (ICI) apurado na prévia da sondagem de agosto teve um avanço de 8,4 pontos em relação ao resultado fechado de julho, para 98,2 pontos.

Controle da curva de juros  nos EUA é ainda menos provável, por enquanto

(Reuters) - O Federal Reserve jogou um balde de água fria na quarta-feira sobre as expectativas de implementação do controle da curva de juros como forma de manter baixo o custo dos empréstimos, pelo menos no curto prazo, algo que os investidores pensavam que poderia ser anunciado já em setembro.

Mais cedo, alguns participantes do mercado de títulos se convenceram de que um dos próximos movimentos do Fed seria limitar os rendimentos em um ponto específico da curva, comprando vencimentos de dois ou três anos, por exemplo. O Federal Reserve indicou na ata de sua reunião de junho que havia estudado a possibilidade, mas estava cético.

Esse ceticismo ficou ainda mais aparente na ata de quarta-feira, da reunião de julho, em que o Fed disse que a maioria das autoridades acha que isso provavelmente proporcionaria "apenas benefícios modestos no ambiente atual".

"A maior surpresa na ata foi a mudança de tom em torno dos limites da curva de rendimentos", disseram os economistas da Jefferies Aneta Markowska e Thomas Simons, segundo os quais a ata pareceu "derramar um balde de água fria" na ideia.

Os rendimentos dos títulos têm sido negociados perto de mínimas históricas nas últimas semanas devido às compras contínuas de títulos, taxas de juros próximas a zero e orientação do Fed de que a taxa de juros não será elevada por vários anos.

"Eles basicamente descartaram isso como um instrumento de política econômica de curto prazo", disse Michael Kushma, diretor de investimentos de renda fixa global do Morgan Stanley Investment Management. Eles parecem dizer "nós realmente não precisamos disso porque podemos atingir nossos objetivos sem isso".

 

Fonte: Estadão Conteúdo

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