Ibovespa fecha abaixo de 100 mil pontos com ruídos sobre Guedes

Publicado em 17/08/2020 17:20 e atualizado em 17/08/2020 18:41

SÃO PAULO (Reuters) - O tom negativo prevaleceu na bolsa paulista nesta segunda-feira, com o Ibovespa fechando abaixo dos 99 mil pontos, com ações de bancos entre as maiores pressões de baixa, em meio a ruídos envolvendo o ministro da Economia.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa caiu 1,73%, a 99.595,41 pontos, menor patamar de fechamento desde 13 de julho. No pior momento do dia, chegou a 98.513,34 pontos. Na máxima, a 101.688,98 pontos.

O volume financeiro somou 45,28 bilhões de reais, elevado pelo vencimento de opções sobre ações na bolsa, que movimentou 12,8 bilhões de reais.

A debandada recente no Ministério da Economia e sinalizações divergente sobre políticas fiscais do governo federal, incluindo intenção de aumentar o gasto público, tem preocupado o mercado sobre a permanência de Paulo Guedes à frente da pasta.

Nesta segunda-feira, o subsecretário de Política Macroeconômica, Vladimir Kuhl Teles, deixou o cargo, aumentando o número de baixas recentes nos quadros da Economia.

Fontes da equipe afirmaram à Reuters que a saída de Guedes do governo não está na mesa. O próprio ministro também tem reiterado que não deixará o governo. No mercado, contudo, as especulações não arrefeceram.

"Só se fala em eventual saída de Paulo Guedes e sem saber quem assumiria", afirmou o superintendente da mesa de operações da Necton, Marcos Tulli.

As aflições com o ambiente doméstico blindaram o pregão brasileiro do viés mais positivo no exterior, onde o S&P 500 fechou em alta de 0,27%, mesmo trajetória do petróleo, com o Brent subindo 1,3%.

"Mais uma vez a preocupação com o rumo do fiscal penalizou o mercado brasileiro", afirmou o analista Rafael Ribeiro, da Clear Corretora, lembrando que a saúde fiscal é um dos requisitos para a manutenção da política monetária expansionista no país.

Nesta segunda-feira, a B3 também divulgou nova prévia para a composição do Ibovespa que irá vigorar de setembro a dezembro, mantendo a entrada das ações da Eztec e da Petrorio, sem nenhuma exclusão.

DESTAQUES

- ITAÚ UNIBANCO PN recuou 2,39% e BRADESCO PN caiu 2,92%, em meio aos ruídos envolvendo o ministro da Economia e potenciais efeitos fiscais de uma eventual mudança na pasta.

- PETROBRAS PN cedeu 0,31%, também contaminada pela aversão a risco local, descolando da alta do petróleo no mercado internacional. PETROBRAS ON fechou com variação positiva de 0,04%.

- VALE ON subiu 1,43%, beneficiada pela alta do minério de ferro na China e do dólar em relação ao real, com o setor de mineração e siderurgia apresentando melhor desempenho do que o Ibovespa.

- CIA HERING ON despencou 8,34%, devolvendo boa parte da alta da última sexta-feira, quando o papel da verejista de moda fechou com elevação de mais de 10%.

- MARFRIG ON avançou 5,37%, capitaneando os ganhos no setor de proteínas, beneficiado pelo dólar em alta ante o real e perspectivas favoráveis para a demanda.

- GOL PN perdeu 6,05%, em meio ao ambiente ainda difícil para o setor em razão da pandemia de Covid-19. AZUL PN fechou com declínio de 5,51%.

- MAGAZINE LUIZA ON perdeu 0,13%, antes da divulgação do balanço no final do dia. No setor, B2W ON cedeu 4,52%, enquanto VIA VAREJO ON caiu 5,7%.

Bolsa fecha em baixa de 1,73%, com foco em Guedes (no Estadão)

Os rumores de que o ministro Paulo Guedes está de saída do governo ganharam corpo nesta primeira sessão da semana, derrubando o Ibovespa abaixo dos 100 mil pontos, em dia marcado também por pressão no dólar e inclinação da curva de juros, especialmente a ponta longa. No meio da tarde, quando o Ibovespa acentuava mínimas, circulou a versão de que a demissão de Guedes estaria assinada, o que levou então o índice da B3 aos 98.622,47 pontos no piso da sessão, renovado depois aos 98.513,34, com máxima a 101.688,98 pontos - uma variação de pouco mais de 3,1 mil pontos entre os extremos desta segunda-feira. Ao final, em dia de vencimento de opções sobre ações, o Ibovespa marcava perda de 1,73%, aos 99.595,41 pontos, com giro financeiro a R$ 45,4 bilhões. No mês, cede 3,22% e, no ano, 13,88%.

"O mercado começa a refletir a possibilidade de o Guedes ter subido no telhado. Mas o que ocorreu hoje, em ajuste de preço tanto em ações, como dólar e juros, está muito longe de ser uma consumação de sua saída. Com o Guedes fora do governo, o Ibovespa iria abaixo dos 80 mil pontos", diz Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da Nova Futura. "O mercado está começando a trabalhar com uma possibilidade que inexistia até a semana passada. A composição de risco agora é totalmente diferente, e os preços dos ativos estão respondendo a isso", acrescenta.

Refletindo a aversão ao risco fiscal, que se acentuou com as saídas dos secretários Salim Mattar (Desestatização) e Paulo Uebel (Desburocratização) na semana passada, as ordens de 'stop loss' se intensificaram hoje abaixo dos 100 mil pontos, com o primeiro suporte correspondendo agora à mínima de 14 de julho, então aos 98.288,81 pontos, a última sessão em que o Ibovespa operou abaixo da linha de seis dígitos. "Se perder este suporte, a tendência é de que passe a ter como referência a média móvel de 200 dias, agora a 96.459 pontos", diz Luiz Roberto Monteiro, operador da mesa institucional da Renascença, observando a solidão de Guedes na luta contra a "ala das obras" no governo.

Em live promovida pela Arko Advice, Mattar disse hoje que a relação entre Jair Bolsonaro e Paulo Guedes é "muito boa". "Essa informação de que o ministro está desprestigiado não procede. Estou até surpreso com essas informações da imprensa. Nem sempre o que sai na imprensa é o que está acontecendo de fato", acrescentou o ex-secretário.

No entanto, apesar da simpatia pública sempre reiterada por Bolsonaro, o ministro pode ter se transformado em obstáculo para um objetivo maior: a reeleição. A defesa do teto de gastos para 2021, sem eternizar medidas excepcionais associadas à pandemia e que melhoraram a popularidade presidencial - como o auxílio emergencial -, pode ter transformado Guedes em um companheiro de viagem indesejável. "Ainda não dá pra saber se Guedes fica ou sai, mas, de qualquer forma, o mercado tem que tomar precaução, colocando esta possibilidade no preço. Resta saber também: ainda que ele fique, como seria esta permanência", aponta Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset, referindo-se ao nível de interlocução e poder retidos pelo ministro caso continue no governo.

Neste contexto de incerteza, as perdas se distribuíram na sessão, com algumas ações conseguindo diferenciação, seja por resultados trimestrais positivos, divulgados recentemente, seja pelo forte avanço do dólar, que favorece a geração de receitas de exportadoras como Marfrig (+5,37%), JBS (+2,53%) e Klabin (+2,11%), na ponta do Ibovespa na sessão. No lado oposto, Hering cedeu 8,34%, seguida por Eletrobras ON, em queda de 6,66%, e por Gol, com perda de 6,05% nesta segunda-feira. Entre as ações de commodities, Petrobras PN cedeu 0,31% e a ON teve leve alta de 0,04%, enquanto Vale ON avançou 1,43%. Entre os bancos, Bradesco PN caiu 2,92% e Banco do Brasil, 2,56%.

 

Fonte: Reuters/Estadão Conteúdo

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Dados do Brasil sugerem desinflação mais lenta e função do BC é ser mais conservador, diz Galípolo
S&P 500 e Nasdaq sobem com foco em dados de inflação e balanços do terceiro trimestre
Galípolo diz que sempre ouviu de Lula a garantia de liberdade na tomada de decisões no BC
China mira conhaque da UE em resposta a tarifas sobre veículos elétricos
Ibovespa recua com declínio de commodities; Azul dispara
Wall Street sobe com foco voltado para dados de inflação e balanços